CÓRION: TARDE DE AMOR
Numa tarde em que passei junto aos ribeiros do Córion, acidente lindo eu via: a cachoeira derramando-se em águas cristalinas e em luzes líquidas. Não havia engano nem a matéria que apodrece. Havia um grande rio que se formava de bondade, cuja embriaguez era meu dom: a sedenta clandestinidade do existente.
Este flúmen jamais me teve. As horas em que passei, nítido respeito ao amor das forças inteligíveis, apenas completavam o vestígio das águas: o doce que há na abóbada das nuvens, que flui em caos e oceano. Pequeno me faço diante do Córion, em que sou chamado de córrego, de riacho, de puro desprendimento.
A bagagem que carregamos ou a definição do sol poente já era um fluxo: Um arroio usado no sul d’um dia que se finda, ou ao leste do criacionismo. Sou braço, um braço que acalanta e que alivia; sou o exemplo do lado esquerdo do mapa. Por isso a tarde me possui: rito de passagem. Eterno passear.