A FERIDA QUE COBRE OS HUMANOS
Sou objeto. Faço-me coisa. A gratificação com que a terra expõe suas raízes, sua trêmula escultura de lógicas, sonda intensamente minha terceira e medíocre parte: a parte humana. Onde cuspo e dentro do próprio cuspe posso ver meu espelho, uma imagem fria, podre, carnal. Sou objeto, posso gritar ao mundo, e é com esta forma indefinida que posso voar, sem peso e sem identificação. Não como teoria de real, nem virtude, nem aspecto expressionista. Meu íntimo já consiste em ser um afago às dores.
Sem senso, comumente gerado pela transigência de um poema, envolvo tanto conceitos, quanto domínios, quanto a arte (esta arte que a si mesma corta, exorta, vomita). Quero desvendar o mistério das fotos: elas engolem o tempo, congelam, mistificam. Como um leão-mecânico, uma tentativa de Voltaire, a exatidão da matemática. Ainda que fosse ferramenta, minha especiaria seria a desnecessidade.
Anúncio! Impresso na boca do Saara: queima de prazer e sufoca-se de edificações: esta é a atualidade! Dentro do fígado ou nas paredes de edifícios. A engenharia do amor está sendo asfixiada, camaradas! Em tudo ainda podemos andar. Que folhas são estas que se desgastam sozinhas, e compreendem que estamos sendo um engano? São as folhas da vergonha! Vergonha tão crua que nem mais o sagrado é respeitado. O todo como uma tela: assim podemos nele cuspir, apedrejar, cair, e enfim, saber que eu era o próprio destino. Hoje sou ferida (junto aos restos humanos).