BORBOLETA: POESIA EM AMARGURA
Vejo apenas metade de uma borboleta. Metade de seu corpo, jogado, como se estivesse à mostra para que grandes Leões viessem devorá-la. Isso me entristece, pois com esse corpo que se metamorfoseia, vai meu desprendimento. Enxergo apenas parte do que posso ser, e já tenho medo: o destino pertence ao céu. Marcas amareladas e velhas, um bosque esmagado. É assim que interpreto esta calçada, este inseto cadavérico, cujos membros advogam em circunstância do amor. E como se estivesse em uma ilha, perdido de minhas visões, é dessa forma que me desintegro. Asa, apenas meia parte de um mundo. Um pó, um girassol ressecado. E com a outra parte do destino da indiferença, ferrenha poesia se constrói em história qualquer. Borboleta em detalhe. Torta letra. Poesia em amargura.