BELAS PALAVRAS
Belas palavras não devem ser cobertas de lençóis encarnados, pútridos. Seu sangue é puro, elas internalizam em mim a existência. Por telepatia vejo que as notas e o verbo são irmãos turvos da natureza. Há em minha frente um frenesi com carroças de letras, pontos minúsculos d’um véu selvagem. Se um dia eu perder todo este romantismo, peço às flores que me enterrem. Elas compreenderão meu motivo de defender os episódios que são justificáveis. E quando penso em descrever a ousadia com que meus ombros proferem o outono, unânime em mim é a fundição do tempo. Jogadas, lançadas ao desnecessário. É assim que se encontram as palavras que um dia foram férteis. Construções de onde em mim me faço disfarce. Ferro que desliza e não enferruja. A mística da neve, uma condição de gelo que jamais derrete; a suntuosos instantes se renova.