SALVEM NOSSO JARDIM!

Numa linda tarde de sábado, as flores se preparavam para a maior festa do ano que iria acontecer naquele jardim, daquele velho casarão. E para isso havia um bom tempo que a belíssima Rosa tinha ido ao Salão de beleza “Beautiful Flowers” para que pudesse sair ainda mais bela e não fazer feio na festa.

Enquanto em frente ao espelho punha seu mais lindo vestido cor-de-rosa, com babados brancos e verdes bem clarinhos, o sol baixava lentamente no jardim dando um ar de que seria uma noite calma e tranqüila e que os ventos estariam ao seu favor, com brisas fresquinhas e gostosas. As flores agitadas balançavam-se de um lado a outro, sorridentes mostrando através do brilho em suas folhas, o prazer de naquele dia poderem dançar ao sabor dos ventos até a madrugada.

Dona Rosa Maria toda afoita andava de um lado a outro para deixar tudo conforme o marido o senhor José Rosa planejara, enquanto que o mesmo vestia seu lindo terno verde, e dizia a esposa:

- Rosa Maria apresse a Rosinha, verifique se ela ficou bem arrumadinha, porque não quero ver ninguém parecendo uma flor despedaçada perto de mim nessa noite, apresse também o Brotinho, porque ele é muito sossegado, e pode ficar para trás, não quero dar vexame chegando atrasado à festa.

Novamente dona Rosa voltava à porta do quarto de Rosinha, e dava aquele sermão carinhoso na filha, sendo um pouquinho mais rude com o Broto, o único e atentadinho irmãozinho dela. A mocinha era tratada com muito mimo pela mãe, pois era filha planta única, e estava à beira de um casamento com o Cravo de Espinhos, homem flor, honrado de boa índole, e bem visto pela sociedade florida.

A festa de casamento daquele belo casal aconteceria num espaço em baixo de uma sacada. Seria o dia mais feliz da vida de Rosinha, além de casar-se, iria a um baile, pois nunca tinha participado de algum, porque seu pai nunca deixara.

A noite cai, e aparece no céu uma linda lua cheia, daquelas que iluminava todo o céu, o jardim e arredores, vindos encher aquele espaço de alegria e belas flores, estas que começavam a chegar todas afoitas e sorridentes, sendo variadas espécies de Rosas cada uma mais linda que a outra, logo em seguida chegou também as Dálias que embelezam mais ainda o recinto, reluzentes Girassóis, Orquídeas, Cravos, Jasmins, Lírios, Bem-me-quer, Copos-de-leite, Crisântemos, Samambaias, Azaléias, Begônias, Anêmona, Chuvas-de-prata Gardênia, Margaridas, Violetas, Comigo-ninguém-pode que fazem jus ao nome e ficam meio afastadas pelos cantos, e muitas outras belezas do reino das plantas ornamentais.

Antes de iniciar o evento, Cravo de Espinhos caminhava de um lado a outro, preocupado esfolheando-se quase que perdendo a cor. Perguntou ao Vigário que era um Copo-de-leite:

- Será que ela vem Padre? Estou muito preocupado!

Ele então respondeu acalmando-o com sua voz mansa:

- Não se preocupe meu filho, a Rosinha não é moça de deixar um homem flor no altar.

- Ela virá sim!

Em poucos momentos iniciou-se uma linda música, orquestrada pela banda “The Flowers”, que através do vento manso fazia surgir no ar um som que saia de suas folhas, e envolvia todos os integrantes daquele recinto com a melodia do amor, juntamente com a essência suave semelhante a um gostoso perfume francês, que exalava naquele espaço bem decorado.

Em poucos minutos, Rosinha aparece na porta do salão, e ouve-se um som de exclamação em uma só voz, pois o vento naquele momento pegou a todos de surpresa virando-os rapidamente para a entrada daquele florido lugar e, a admiração foi unânime.

- Oooooooooooooh!

Alguns diziam:

- Como ela está bonita!

E outros:

- Ela sempre foi bonita, mas hoje ela está linda!

Uma invejosa Tulipa trata de jogar o seu veneno.

- O que será que ela passa nas folhas, está muito oleosa!

Responde sem titubear uma bela Azaléia.

- Se eu tivesse umas folhas tão verdinhas, lisas e lindas como as dela, quem sabe eu seria a noiva!

E todos ficaram atentos ao que iria acontecer.

Em um canto meio escondido, alguém vigiava tudo sem dizer uma só palavra, pois sabia que iria trazer preocupação, decidindo ficar quieto naquele momento, e segundo seus pensamentos no tempo oportuno agiria.

Lírio Campos Casablanca, jovem rapaz flor que não perdera o ensejo por nada na vida, paquerava Rosinha desde quando ela formou-se mocinha, e não iria aceitar aquele enlace de forma alguma, tinha bebido licor de pólen exageradamente antes de aparecer na festa, e uma amiga por nome Tulipa Vermelha que era apaixonada por ele advertiu-o para que não fizesse besteiras,

- Cuidado amorzinho, você já está meio embriagado e vai dar vexame na frente de sua queridinha!

Ele nem ligou para o que ela lhe disse.

Já com a lua alta, o Capelão Copo-de-leite da inicio ao matrimônio.

E no ponto culminante da festa, na hora em que se pergunta se existe alguém ou algo que possa impedir aquele matrimônio, “que fale ou se cale para sempre” cambaleando de bêbado Lírio dirige-se até a pequena flor agarrando-a pela cintura com muita força, da um beijo em suas pétalas labiais. Vendo a loucura de Casablanca num ímpeto Tulipa Vermelha aproxima-se dele e tenta retirá-lo de perto da noiva, mas ai já era tarde, Cravo de Espinhos, espinhudo de raiva não hesitou, enquanto a menina flor se debatia e falava:

- Me solte Lírio, pare com isso você está bêbado, e está me machucando!

As flores se assustaram, vendo aquela barbaridade concebida por aquele ousado intruso, que estava na festa a convite de não sei quem.

E enquanto mais ela tentava escapar, mais ele a apertava dizendo:

- Não faça essa loucura meu amor, eu te amo, não se case com esse galanteador do Cravo, você sabe que sempre te amei e quero morrer amarelado e murchinho ao teu lado, te amando por toda a minha vida.

Rosinha chorava muito pedindo que ele a soltasse, dizendo que quem estava louco era ele, mas suas forças eram maior e ela se embaraçava cada vez mais em seus pequenos galhos.

A situação ficou sem controle, quando seu José Rosa todo esbaforido, tentava tirá-lo de perto da florzinha aos socos e empurrões sendo quase que impedido pelos amigos que estavam por perto, pois temiam o mal que pudesse acontecer.

Nesse exato momento Cravo de Espinhos e Broto de Rosa, também já se enrolavam no chão juntamente com o causador daquela confusão e foi o que se viu um alvoroço total, o menino flor era amigo inseparável do cunhado e, não deixaria que ele apanhasse embora Cravo fosse bom de briga.

A loucura generalizou entre as plantas, no momento daquele episódio tão triste para todos, caiu de repente uma forte tempestade de verão, durante cerca de duas horas, sendo o suficiente para fazer uma destruição enorme naquele jardim.

A escada do casarão cedeu naquele momento, quebrando alguns degraus machucando muitas flores, houve uma choradeira no meio das plantas femininas, a sacada ruiu e voavam folhas, pétalas, e espinhos por todo lado.

Cravo de Espinhos muito ferido e revoltado brigou com Rosinha naquela mesma noite, enciumado e muito bravo dizia que ela não deveria ter deixando ele se aproximar dela, dando chance a ele de estragar aquele que seria o momento mais feliz de suas vidas.

Rosinha despedaçada de tristeza tentava lhe explicar que jamais teve a intenção de ter algo com Lírio Campos e que não desistira de seu amor por Cravo, este que desmaiou de nervoso sendo carregado de ambulância para o hospital, deixando a mocinha flor chorando desesperadamente.

Acabou-se a festa sem haver mais casamento e todos foram para seus cantos aborrecidos, porque não esperavam que acontecesse uma loucura daquelas, chorava tristemente a pequena noivinha, juntamente com algumas amiguinhas que torciam por ela.

O Lírio Casablanca aproveitou o vento sul e foi embora.

A estação do verão chegou queimando, e meses se passaram deixando Cravo de Espinhos amarelados, enfraquecendo seu pequeno caule a cada dia que passava vindo a adoecer-se.

Rosinha também murcha de amor, não saia mais de casa.

O tempo foi passando, o verão queimava as plantas sem dó nem piedade, e Cravo de Espinhos deitado na mãe terra somente chorava, chegando a ponto de variar-se em febre, chamando pelo nome de seu amor, não comia, nem bebia, e quando chovia não conseguia ingerir uma gota se quer da deliciosa água da chuva.

O outono chega e inicia-se bem de mansinho o frio, aquela época foi de esfria até a alma das pequenas plantas, que tentavam acolher-se uma nas outras, sem contar que o inverno ainda haveria de vir.

Um certo dia a mãe de Cravo muito preocupada tentou reanimá-lo procurando fazer com que o rapazinho se levantasse e saísse para tomar sol daquela estação, já um pouco fria, dizendo que ele deveria espairecer-se um pouco e sair daquela tão terrível solidão.

Ao insistir com ele, realmente foi do seu agrado levantando-se cuidadosamente porque estava muito fraco, foi ao sol, encostou-se em uma pequena pedra, admirava as belezas da natureza, mas mesmo assim não tirando a poesia daquele jardim, quando um vento forte, no qual se segurava para não ser arrancado, Cravo conseguiu ver no balanço das plantas, sua amada que chegava de mansinho para visitá-lo, não agüentando a emoção da bela visão, o frágil rapaz flor desmaiou novamente.

Rosinha vinha do supermercado, pois tinha ido comprar brilho para as folhas, e corantes para as pétalas que estavam amarelando, e resolveu na volta, passar na casa de seu amado porque sabia que ele estava muito doente, e tinha esperanças de que eles poderiam reatar o namoro a qualquer momento, e se Deus quisesse naquele mesmo dia ela o encontraria e poderiam reconciliar-se.

“Para as flores enamoradas não existe tempo ruim”. O sol sempre brilha, a chuva é sempre uma benção, o vento então nem se fala estará sempre a favor com sua brisa suave e fresquinha, os pequenos animais sempre estarão voando e cantando alegremente, ajudando espalhar o delicioso cheiro de todas as plantas.

A pequena florzinha pôs-se a chorar desesperadamente, vendo seu amado naquela situação, chamando a atenção de todos que passavam por ali, logo chega também à família de Cravo de Espinhos, socorrendo-o e colocando-o em uma cama macia feita de cheirosas folhas de eucalipto.

Cravinho como dizia a bela Rosa estava louco por uma oportunidade, de ver sua amada quando de repente deparou-se com a flor mais bela desse mundo, assustou-se porque não esperava que a encontrasse logo pela manhã. Seu pequeno coração disparou e mais que depressa aproveitou o vento que seguia em direção a sua querida, e encostando-se bem próximo a ela, escondeu seus espinhos para não machucá-la, e foi balbuciando com fraca voz.

- Eu te amo Rosinha, me perdoe juro que não farei mais escândalos e não te deixarei sofrer mais.

Foi à vida para os dois, naquele momento o sol brilhou mais forte, como se fosse um sorriso de boas vindas para os dois.

A alegria que já era alegre ficou mais alegre ainda, as plantas balançaram suas folhas, e um panapanã incrível de borboletas voou em torno dos dois parecendo uma ciranda de belos insetos, só as flores as ouviam cantando “E viva o amor, que venceu novamente!”, abelhinhas que procuravam néctar para a produção do mel testemunharam este reencontro maravilhoso.

Cravo então indagou.

- Sabia que quando te vejo, fico com as folhas mais reluzentes e coloridas?

Rosinha com um alvo sorriso lhe retribuiu:

- É o nosso amor que floresce a cada dia!

Reataram o namoro naquele instante, porque não tinham mais tempo a perder.

Passaram-se alguns dias e com a combinação das duas famílias, remarcaram novamente a data daquela festa que não havia terminado e iria fazer daquele dia, o dia mais feliz e grandioso de suas vidas, a “festa do ano”, com previsão marcada para a próxima primavera, época em que as flores estariam mais perfumadas, ricas em cores, polens e abertas a todos.

A estação do ano teve novamente a sua virada, após ter caído das plantas suas folhas parecendo que jamais reviveriam por causa do outono. Agora chegava o inverno muito intenso, algumas flores pareciam doentes, porque o frio castigava muito, vindo a se proteger em baixo das fortes árvores que eram suas amigas.

Com toda temperatura baixa que fazia nada tirava a euforia que tomou conta daquele jardim, eles não viam à hora de chegar à estação da primavera, para reiniciarem o matrimônio mais esperado do planeta. E a alegria aumentou quando souberam que Lírio Campos Casablanca, não perturbaria mais, pois havia sido arrancado pelo jardineiro que cuidava daquele casarão abandonado, e plantado em outro canto.

Como todos os dias não são iguais, aconteceu que o jardineiro olhando a bela Rosa ameaçou arrancá-la também e plantá-la em outro lugar, próximo onde fora plantado Lírio Campos.

Dizendo para si próprio...

- Vou deixá-la aqui por enquanto, na primavera vou reformular o jardim, e mudarei não só ela, mas quase todas as plantas de lugar.

Mediante a esta ameaça, antes que o jardineiro pusesse suas idéias em prática, as autoridades flores do jardim reuniram-se e resolveram em uma sessão extraordinária enviar uma carta ao chefe da nação daquele pequeno reino florido, que estava naquele momento reunido com outros chefes de nação, discutindo em uma Conferencia Internacional o futuro do meio ambiente do nosso planeta.

A carta foi escrita por Cravo de Espinhos, contendo o seguinte assunto:

Senhor Presidente:

Vimos através desta, pedir a vossa excelência que se digne a nos socorrer. Estamos sendo invadidos em nosso território e ameaçados de sermos arrancados, e levados para lugares desconhecidos, para servirmos de ornato a outros casarões por um jardineiro mal e sem coração, e que finge ser um bom profissional, mas sabemos que o mesmo não pensa no bem estar dessa comunidade florida, e quer nos destruir pouco a pouco, não deixe que ele acabe conosco, faça alguma coisa, por favor!

Clamamos clemência e urgência!

Seremos gratos por toda a nossa vida.

Obrigado!

Após soltar a folha carta, ao sabor do vento norte em direção à Capital das Flores, Cravo de Espinhos murchou até chegar a ponto de parecer morto, vindo assim a trazer preocupação e desespero a todos.

Aquele ano geou fortemente no jardim, parecia que jamais reviveriam, e o jardineiro sempre passava por ali e ameaçava em voz alta:

- Vou remover esse jardim inteirinho, quando a primavera chegar, ele não presta mais mesmo, vou limpar e calçar todo esse lugar!

Fazendo as plantas se apavorarem mais ainda.

Mas certo dia caiu no jardim uma folha muito linda, com o desenho do Brasão Nacional, e os seguintes dizeres:

Minhas plantas, minhas flores:

Povo de minha nação florida; não se preocupem, pois já tomei providências, instaurando uma CPI e apurando os fatos que estão lhes acontecendo o jardineiro já foi condenado e não mexerá mais em quaisquer jardins, e mandei tombar este casarão Patrimônio da Humanidade Florida da Terra, destinei um novo e hábil jardineiro que cuidará de vocês, com muito zelo e amor nunca mais serão incomodados.

Que Deus abençoe a todos.

Seu querido Presidente.

Quão grande foi à alegria de Rosinha e Cravo de Espinhos, naquele momento o sol voltou a brilhar, os pássaros soaram a canção do amor de uma lado a outro, carregando pequenos galhos em seus bicos para construírem um novo ninho, outros traziam alimentos para seus filhotinhos recém saídos dos ovinhos, que esperavam ansiosos por sua mamãe e os pés de flamboyants, juntamente com os ipês floridos ajudavam a enfeitar mais e mais aquele jardim, a vida tomou conta daquele lugar florindo tudo novamente, e exaltando sempre um aroma suave daquelas flores a todos passavam por ali.

A boa noticia se espalhou, pois a primavera chegou naquela semana, podendo acontecer naquele sábado a tão esperada festa da união do Cravo e a Rosa.

Naquele salão mais belo e florido ainda, pôde haver a mais linda e badalada festa já acontecida e que foi até o sol raiar.

A Banda musical “The Flowers” iniciou a Valsa da Primavera e todos puderam dançar um pedacinho da música com a bela rainha flor da festa. Que concretizara o tão esperado sonho completando sua felicidade.

E o Lírio?

O Lírio casou-se no mesmo dia com a Tulipa Vermelha! Em outro jardim longe dali.

E a felicidade foi completa a todos.

Vejo sempre Cravo de Espinhos e Rosinha de folhas dadas, irem ao Supermercado das Flores comprarem Leite de Rosa à bela filhinha Brotinho de Rosa que nasceu em um dia colorido pelas flores.

E hoje podemos ver a alegria das flores, festejando, cantando e dançando ao sabor dos ventos.

E claro...

Todas unidas e de “folhas dadas”!

O CRAVO BRIGOU COM A ROSA,

EMBAIXO DE UMA SACADA.

O CRAVO SAIU FERIDO,

E A ROSA DESPEDAÇADA.

O CRAVO FICOU DOENTE,

A ROSA FOI VISITAR.

O CRAVO DEU UM DESMAIO,

E A ROSA PÔS SE A CHORAR.

SALVEM... A AMAZONIA!

SALVEM NOSSO JARDIM!

OSIASTE TERTULIANO DE BRITO

Loanda – Paraná

Osiaste Tertuliano de Brito
Enviado por Osiaste Tertuliano de Brito em 08/12/2022
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