Comunidade das Corujas Madrigais

_ Como é interessante ser noturno! A gente vê um mundo que a maioria dos viventes nem imaginam ter! E se imaginassem, não acreditariam, mesmo se pudessem ver. - disse a coruja Lelê, com a cabeça virada para trás, olhando para a coruja Tetê.

_ Lá vai ele! Lá vai ele! Mas que cara de pau! - disse indignado o coruja Durval.

_ Quem está indo, e aonde? - quis saber o velho corujão Aderbal

_ Não conseguem ver? É ele, o cara de pau! Se raspar aquela cara dele sai serragem! - disse o coruja Berimbau, indignado com tamanha malandragem.

_ Eu não consigo ver nada! De quem vocês estão falando? - quis saber o coruja Armando, que "na maionese, estava nadando".

Lelê cuidou logo de responder, afinal não era mesmo informação pra se esconder:

__ Quem mais poderia ser? Senão o cara de pau Gatonis Lau! Toda noite ele se farta da ração alheia! É um sem noção! Agora mesmo está lá, se fartando na vasilha do gato Gervão! Logo hoje, que todos os gatos estão atrás dele, mas ninguém encontra esse fujão. Que absurdo! Parece até uma novela diária que poderia se chamar, O gato malandrão.

_ Espere! Porquê todas as corujas estão falando rimado? - perguntou a coruja Gaspar, presidente da Comunidade das Corujas Madrigais. Faz hora que estou tentando entrar nessa conversa, mas sou muito rui de rimas! - disse Gaspar.

_ Tudo bem, podemos parar, era somente uma maneira de se expressar. - respondeu Lelê.

Nada, nada mesmo, passava inobservado no Bairro Bragantina, as Corujas Madrigais davam notícias de tudo que acontecia por lá. E não somente dos episódios da noite, mas também do dia. Havia sempre uma coruja destacada para observar os acontecimentos diurnos. Embora fosse muito difícil ficar durante o dia de olhos abertos, as corujas que faziam a vigília diurna, eram condecoradas com a Medalha do Bom Servidor. E acreditem, tinha coruja ali naquela comunidade que ostentava dezenas destas medalhas penduradas no pescoço.

Rozilda Euzebio Costa