A formiga e o grão de trigo
Um grão de trigo, deixado sozinho no campo após a colheita, esperava pela chuva a fim de esconder-se novamente sob a terra.
Uma formiga viu o grão, colocou-o nas costas e partiu penosamente em direção ao distante formigueiro.
À medida que andava, o grão de trigo parecia pesar cada vez mais sobres suas costas cansadas.
- Por que você não me deixa aqui? - perguntou-lhe o grão de trigo.
A formiga respondeu:
- Se eu deixar você para trás, podemos não ter provisões para o inverno. Em nosso formigueiro há muitas formigas e cada um de nós deve levar para o celeiro todo o alimento que encontrar.
- Mas eu não fui feito só para ser comido - objetou o grão de trigo - sou uma semente, cheia de vida, e meu destino é dar origem a uma planta. Ouça, cara formiga, vamos fazer um pacto.
A formiga, contente por poder descansar um pouco, colocou o grão de trigo no chão e perguntou:
- Que pacto?
- Se você me deixar aqui no campo - respondeu o grão de trigo - em vez de me levar para o formigueiro, eu darei a você, daqui a um ano, cem grãos de trigo exatamente iguais a mim.
A formiga olhou para o grão de trigo com ar incrédulo.
- Sim, cara formiga. Creia no que estou lhe dizendo. Se você desistir de mim agora eu lhe darei cem de mim, cem grãos de trigo para o seu celeiro.
A formiga pensou:
- Cem grãos em troca de um só... Mas isso é um milagre!
- E como é que você vai fazer isso? - perguntou ela.
- Isso é um mistério - respondeu o grão de trigo - é o mistério da vida. Cave um buraquinho, enterre-me dentro dele e volte dentro de um ano.
No ano seguinte a formiga voltou. O grão de trigo transformara-se numa nova planta carregada de sementes, cumprindo, portanto, sua promessa.
(fonte: Leonardo da Vinci. "Fábulas e Lendas"; texto transcrito do livro "Palavras Encantadas", pp. 170/171, de Durval Ângelo Andrade e Ana Maria Gonçalves, Belo Horizonte, Editora O Lutador, 2003, 3ª ed.)