O que Procuras?

Estava prestes a completar duas semanas de liberdade forçada pela mamãe que o soltara à própria sorte, o filhote Le Gambê, oriundo de família francesa, foi pego de surpresa por um Pneu desgovernado, ao voltar para casa. Desalmado de coração, nem parou para socorrer. Juntamente com seu Advogado, apresentou-se à Delegacia e disse que não prestou socorro, porque tinha coisas mais importantes para fazer.

Ao ver aquele corpinho peludo estendido no asfalto em manhã gélida, a árvore liberou as folhas, que obedientes, desprenderam-se dela, para cobrir o corpinho frio do Gambazinho. Respirou fundo e exclamou: "pena Eu não ser espécie dotada de flores; caso fosse, iria enviar muitas pétalas para cobri-lo".

Diante do imposto pela Natureza, sofrimento e morte de uns, alegria e alimento de outros.

Não demorou muito, urubus e gaviões rasgavam-lhe o couro. Como maneira facilitadora, iniciaram atarracando o bico nos orifícios; e de lá, puxavam as vísceras. Esgabilados e sôfregos por comida, nem oraram em agradecimento. Sabiam todos, que Deus perdoa quem cedo, madruga.

Presenciado pela árvore e as folhas, tanto as caídas quando as que ficaram penduradas, as aves que chegaram primeiro reuniram-se em volta do banquete, fato que causou mal-estar e brigas com os que chegaram atrasado.

Uma vez que não faz parte de seu prato favorito, a dona Coruja arrulhou: "De noite Eu rondo a cidade à ti procurar..." ; por ser espiã das noites insones, fez questão de citar o autor do trecho da letra: " do mestre e notívago, guinchei Ronda de Paulo Vanzolin.

Ninguém deu ouvidos à cantoria; embora um ou outro interessado, perguntasse para os demais, enquanto rasgava a carne fria no bico: "o que Ela quer dizer com essa cantiga"?