AS FORMIGUINHAS E O FRASCO INSIGNIFICANTE

Próximo a um formigueiro apareceu um pequeno frasco cheio de um líquido amarelado que parecia ter sido abandonado por lá. Então um bando de saúvas desocupadas cismou com o tal recipiente abandonado junto a outros resíduos sólidos que já estavam por lá. A formiguinha, tida como uma das duas mais espertas, disse:

- Aquilo é apenas um frasco de mel!

A outra formiguinha esperta, pra não ficar de lado de tal desnecessária confabulação, endossou:

- Eu também acho que deve ser!

E sabe como é a influência daqueles que são mais populares...

As outras formigas acompanharam o raciocínio das mais “espertas”, mesmo que, entre elas, uma e outra achavam que deveriam deixar o recipiente quieto, pois não estava atrapalhando a passagem e não havia certeza do que seria aquele líquido amarelado a refletir o sol do meio-dia.

No entanto, convencidas e curiosas, lideradas pelas espertinhas, começaram a girar e a empurrar o frasco até deixá-lo deitado rente ao chão. Agora queriam abri-lo.

A formiga rainha, que já era idosa e gostava de muita atenção, em vez de alertar seu formigueiro, dizer-lhes que deveriam ser prudentes, preferiu aderir e, de longe, incentivar aquela empreitada, afinal, não queria ser a “estraga prazeres” da diversão dos seus filhos.

- HOJE IREMOS TER MEL NO FORMIGUEIRO! – bradou a rainha.

O formigão-soldado, que era outro de grande importância no formigueiro, viu aquele furdunço e não disse nada. Achou até graça em ver aquela diversão em torno daquele frasco insignificante. Ao seu lado havia outra formiga que não participou, apenas ficou observando, pois já imaginava o que havia no frasco, já que conhecia a cor e a textura de tal líquido, mas também não quis ser chata e não quis arriscar o palpite.

Depois que derrubaram a garrafinha, as mais espertas tiveram algumas ideias para retirar a rolha. Tentaram girá-la, mas não conseguiram. Tentaram puxar e não deu certo. Então umas das formiguinhas mais sabidas disse:

- Vamos juntas tentar girar e empurrar ao mesmo tempo... Um grupo puxa e o outro gira!

- Que formiga mais inteligente! – disse a rainha!

E o formigão continuou apenas olhando, juntamente com aquela formiguinha que “não queria ser chata”.

E assim foram empurrando e girando. E não é que deu certo! A rolha foi saindo devagarinho, e quanto mais ela saía mais as formigas ficavam animadas em continuar forçando.

- Pof!

A garrafinha estava aberta. E elas caíram ainda agarradas à rolha já comemorando o feito.

E imediatamente foram banhadas com o conteúdo do líquido amarelado e de cheiro forte. Mas vejam só, não era um era mel o que havia naquele frasco. Era querosene!

"O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade se torna erro por ninguém a vê." [Mahatma Gandhi]

*** Texto do livro: "PROSA CRÔNICA", por Henrique Musashi. Ed. Clube de autores.