A cotia e o macaco

Dona Cotia morava em uma toca nas cercanias da estação de trem, onde também morava um macaco-prego, bicho de estimação do estivador.

Este macaco era um fuleiro, já sabendo que a cotia passaria por aquelas bandas, por volta das dez e meia da manhã, meia hora antes do trem das onze. O bicho já esticava o pescoço de cima da cabeça de seu dono.

Quando via a cotia, vindo ao longe, furtivamente saltava dos ombros do estivador e sentava no beiço do trilho da ferrovia.

E toda vez que a roedora passava por ali, indo buscar seu alimento, o macaco dava um “psiu” e dizia:

- “COTIA... CADÊ TEU RABO?”

Ora, a cotia é um bicho que não tem rabo e esse era o motivo de toda zombaria daquele símio sem noção.

Tantas vezes a pobre cotia passasse por ali, tantas eram as risadas:

- “COTIA... CADÊ TEU RABO?” – indagava o macaco só de gozação.

Certo dia a Dona Cotia, tendo outros afazeres, atrasou a sua passagem diária pela estação, passou meia hora mais tarde. E, dessa vez, quando viu o macaco, já bem sentado, parou e apenas olhou.

O macaco quando viu a roedora parada, bem na sua frente, deu uma gaitada e quando ia abrir a boca o trem passou e torou o rabo do macaco, bem no tronco, e a cotia indagou:

- Logo hoje que ia mandar o senhor cuidar do seu rabo?

Ela, sem nada mais a dizer, e o macaco chorando, sem o rabo, apenas passou.

Acredito que todos nós já devemos ter ouvido a expressão “cada um que cuide do seu rabo”, mas o macaco não cuidou.