O pé de Tabaco

 
Há advertências desnecessárias! a ser assim, queira desculpar-me, se se tornar para você, dispensável, esta que se segue entre parêntesis:
“Para que melhor compreenda a mensagem encerrada neste pequenino texto, bom seria se você tivesse tido a oportunidade de observar nos alicerces dos velhos casarões — quase sempre abandonados, sobretudo, aqueles que se encontram na zona rural — um quase que infalível pé de Tabaco incrustado entre as pedras que compõem as bases dessas antigas construções; se assim fosse, ou seja, se você tivesse notado esse espécime vegetal em seu singular habitat, de imediato, teria lhe ocorrido a seguinte indagação: de onde viera, e por quais meios, a diminuta sementinha que aqui germinou a dar origem a esta viçosa planta? Aos atentos olhos seria natural essa indagação, pois, muita vez, não houvera prática do cultivo do Tabaco, em toda a região que circunda essas casas em ruínas...”
 
(°) À beira de um caminho estava abandonado um velho casarão. De si, nada mais havia, senão escombros a retratar o que fora uma grande casa, agora, em ruínas. Em derredor do vetusto prédio a vida a murchar arrastava-se enquanto erguia-se a certeza de que tudo está a se consumar pela imposição do tempo que não se move a rogos. Tudo à sua volta, dava testemunho da austera eversão dos anos. À sua frente, arbustos decrépitos, com seus galhos arqueados, ralados pelo tempo e açoitados pelo vento, pouco lembravam um jardim; em nada recordavam a primavera; o chafariz, ou antes, os destroços de suas colunas, ora afogados na poeira, insistiam em mostrar seus ornatos desfigurados; escassas árvores senis com suas desfolhadas frondes, já não sustentavam ninhos, não mais abrigavam pássaros, hospedavam cupins corroendo-lhes os galhos faltos de seiva.
No meio de tanta desolação, o alicerce da velha casa, já não tendo quase nada a sustentar, para sustentar um diminuto germe de um novo ser, dispusera de uma de suas muitas frinchas. O minúsculo grão, bem alojado, escondendo-se do sol forte, e ocultando-se do vento, em breve tempo germinou, logo cresceu e não tardou para florir, tornando-se um majestoso pé de tabaco.
Onde estaria a essência desse insignificante rebento antes de atender ao apelo à vida?
Por que buscara tão impróprio lugar para quebrar sua dormência, aquela ínfima sementinha?
Talvez desejasse sítio mais aprazível para vir à luz?
Não, não teve escolha; tão leve que fora antes de se despertar à vida; nada poderia pedir, nada conseguiria exigir; tão somente à mercê do vento, o pequenino embrião, talvez, depois de percorrer uma longa distância, àquela estância fora conduzido. Agora, ainda que ramo vicejante com suas amplas folhas acuminadas e macias, suas pequenas flores de um róseo pálido, não têm perfume, ou antes, exalavam o cheiro da passageira vida que se esvai tal qual o fumo que se perde ao vento.
E que sabedoria tem ele — o vento — ao conduzir as sementes de Tabaco* ao pé das taperas?
Do próprio Vento não esperemos nenhuma resposta a esta indagação, uma vez que, muita vez, ele é intempestivo, age às pressas, e em situações frequentes, torna-se até devastador, mas, podemos recorrer à Brisa suave, interrogando-a, pois, sendo essa a irmã própria daquele, ainda que muito serena, haverá de nos atender sem demora.
Antes que ela chegue para nos atender, devo dizer que não concebi este texto, ou antes, a sua concepção poderia ser de qualquer outra pessoa que pudesse também notar os diminutos passos da Mãe Natureza... Pois bem! Então indago:
Que é do autor deste texto?
Se você caro leitor, não me responde, de outro ninguém, não espero resposta; a ser assim, que seja eu mesmo a pessoa que concebera este diminuto texto...
Para se fazer presente, escassos segundos e pequeno espaço consumiu o pequeno parágrafo anterior; ainda assim, já nos esperava a suave Brisa, mas, antes de nos entregar a sua resposta, por maior necessidade, é do seu desejo que saibamos:
 
“Pelas indagações feitas à natureza, as respostas imediatas estão ao nosso alcance, o que se distende, é o tempo que consumimos com as nossas insensatas interpretações...”
 
* Nicotiana tabacum* é o nome científico do Tabaco; sua semente é minúscula. Veja que há entre parêntesis logo antes do início deste texto, um pequenino círculo que tão bem está a representar aquela semente, pois se em tamanho, a ela nada excede, não a cede também, a nenhum outro observador para que esse, em forma, possa compará-la a outro sinal...



































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Eugene Garrett
Enviado por Eugene Garrett em 06/01/2020
Reeditado em 07/01/2020
Código do texto: T6835996
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