Os Roedores
Ele andava de um lado para o outro com a motoserra à tira colo. Espreitava uma, mergulhava às vistas em outra, até que tomado pelo instinto de exterminador, metia os dentes no tronco do jacarandá centenário.
Imaginando que as árvores não possuem os mesmos sentimentos que ele, atacava impiedosamente, a aroeira. O cedro, o pau Brasil, o angico, a andiroba e tantas outras espécies. Sua alegria tornava-se nobre ao ouvir o Plááá ribombando no chão.
A folhosa do tamanho de um gigante adormecido, humildemente, tombava-se aos pés do Castor, apelidado de roedor infalível pelos demais animais da floresta. De uma em uma, a clareira ía aparecendo; e o que parecia impossível, tornava-se presa fácil aos raios solares.
Cada dia o Castor atraía mais adeptos, de modo que ao fim do milênio, não havia mais árvores de madeiras nobres para a legião de exterminadores que se instalou naquelas paragens. Por outro lado, o trabalho iniciado pelo infalível roedor, trouxera significativos avanços para sua prole, assim como para as outras; e aproveitando os clarões e aceiros abertos, estradas foram abertas, taperas e casarões foram fincados por toda parte.
O avanço é tamanho, que implantaram por lá água encanada, transa-transa de carros movidos por combustíveis fosséis, animais mecânicos, valiosas moedas de troca. Trocaram a luz de candeia por lâmparina à base que querosene e gasolina; e esta, por energia elétrica à base da transformação física da água. Todavia, nota-se pois, que naquela província, nem tudo são jardins florescentes; e de vez em quando, aparecem uns defensores daquilo que eles são usuários. Afinal, embora falem de lua e estrelas; flores e sóis em arrebóis, nenhum se acha forte, resistente o suficiente para viverem apenas disto.
Ainda mais porque um ou outro roedor nega o avanço iniciado pelos seus antecessores; mas às furtivas, não passa de usuário inveterado; restando pois, a hipocrisia em forma de rosnado. E em todos os habitats, há no mínimo, uma antena conectando-o com outros nichos; via de regra, maiores que o seu. Ao serem interrogados sobre esse paradoxo ideológico, dizem que é salutar à todos os viventes, saber e conhecer a Nova Ordem Mundial.
As árvores diminuíram, em certos lugares, limpos, limpos, os pináculos e as colinas mais parecem aeroportos. Devido à necessária limpeza feita, o sol está bebendo água diretamente das nascentes. Em compensação, as famílias de roedores aumentaram proporcionalmente à diminuição das árvores. Atualmente contam com mais de 7 bilhões de mamíferos espalhados por todo território, os quais, são divididos em família. Através do clã, a ciência taxonômica tem tratado de estudar as características dos indivíduos que compõem cada família; mas certo que todos evoluíram do roedor gênese. Originaram da célula matriz que esparramou pelo Planeta; indo parar em lugares inóspitos e jamais habitados.