A TEORIA DO JUMENTO
 

No sertão tem muitas histórias e estórias, mas essa talvez pouca gente tenha conhecimento. Um casal esperava ansiosamento seu primeiro filho, em uma região sem acompanhamento de pré- natal e que a mãe só vai saber o sexo de filho apenas após o nascimento, muito menos iria saber que em sua barriga carregava três de uma só vez, apesar de sentir uns chutes na barriga, como se uns moleques tivessem jogando bola, único esporte deste país.
A parteira teve um bocado de trabalho, mas enfim nasceram as três crianças do sexo masculino, aparetemente saudáveis, pois estavam fisicamente inteiros, como dizem no sertão, não tinha defeitos. A alegria do casal ficou estampada em seus rostos por vários dias, era um feito quase heróico no sertão de muitos filhos.
O tempo foi passando e os pais perceberam que seus três filhos tinham dificuldade de ver as coisas, em um local quase ermo, sem assistência médica ou de alguém que pudesse perceber o fato de as crianças não enxergarem, a idade delas já comprometiam suas locomoções, pois não tinha nocão de direção, acabavam batendo contra as paredes de taipa da simples casa do seco sertão. Os pais percebendo isso, começou a izolar os três filhos, limitando-os aos poucos espaços da modesta casa de taipa.
O tempo passou, e ali no mesmo lugar, um quarto izolado crescia as três crianças, como um castigo, foram conhecendo apenas o limite de seu quarto, nada mais. Na pequena casa de taipa, eles ouviam tudo, toda converva de seus pais, cada dia uma lamento, toda vida de sofrimento, em tudo tinha a participação de um jumento. Era nesse bicho que tudo se carregava, em tudo tinha o jumento no meio, pelo que os meninos ouviam, tudo girava em torno desse bicho. Sem estudo, mas curiosos, um dos meninos toma frente e questiona o pai:
- Pai, o que é um jumento? - Disse um deles .
- Jumento filho, é um grande animal, todo nordestino tem um, sem ele a gente nem sobreviveria aqui nesse sertão, a gente usa ele para tudo, carregamos tudo nele, pedra, pau, milho, feijão, além de nós, até o menino Jesus foi carregado pelo deserto nas costas de um jumento. - Diz o pai enaltecendo o jumento.
- A gente pode conhecer esse bicho, de tanto a gente ouvir falar, estamos querendo conhecer ele de perto, o senhor leva a gente para conhecer o jumento. - Diz um dos filhos com entusiasmo.
- Tudo bem filhos, vou levar vocês para conhecerem o jumento, mas tenho que levar um por um, depois vocês tirem a conclusão do que é e acharam do jumento. - Diz o pai querendo que os filhos desenhem em suas mentes o perfil do jumento.
- Tudo bem pai. - Respondeu um dos meninos.
Na manhã seguinte o pai levou o primeiro filho para conhecer e apalpar o jumento para que o mesmo tirasse suas conclusões sobre o bicho. Ele chegou bem próximo e pediu para que o pai o aproximasse da cabeça do jumento, assim o pai fez, este pegou nas orelhas e foi descendo apalpando toda a cabeça do referido animal, pegou em seus olhos, no queixo, na boca e nos dentes e com seu apurado tato percebeu o quanto era grande o jumento, com as lembraças das conversas de seus país sobre o animal o imaginou como o bicho que pudesse carregar e suportar uma enorme carga, podendo percorrer distâncias nunca antes alcaçadas por qualquer outro, ficando em sua memória a imagem de um animal maior do que os dragões ouvidos nas histórias contadas por sua mão antes de dormir.
O segundo filho foi ao encontro do jumento sem saber o que seu primeiro irmão tinha para falar do seu econtro com o referido animal, ao chegar pediu para que seu pai o colocasse nas costas do animal, este o fez, sobre a cela pequena sentou-se, suas mãos foram ganhando olhos e em tudo queria pegar, sentiu-se bem confortável, tocando nos arreios e no lombo do jumento o qual se inclinou-se e se sentiu montado em um grande cavalo, daqueles que sua mãe descrevia em histórias de aventuras citadas em livros. Sua imaginação fluiu e o levou por lugares nunca imaginado por simples viventes.
O terceiro filho também foi ao encontro e também foi sem saber o que seus outros irmãos tinham para falar do Jumento, como tinha que tirar sua conclusões ficou apreensivo, mas iria conhecer o tal animal de qualquer forma. Durante o percurso foi pensando e analisando tudo que já tinha ouvido falar do animal. Seu pai parou diante do jumento e falou para o filho que parte do animal ele queria conhecer, já que seus irmãos tinha conhecido a cabeça e as costas. Este pensou por alguns instante e falou:
- Pai, eu não quero tocar em nada não, deixa o bichinho ai, ele está ocupado agora, não quero incomodar, vou saber pelos os meus irmãos como será esse animal. - Diz o terceiro filho, se recusando a incomodar o jumento.
O pai não entendeu nada e retornou com seu filho para o quarto, seu mundo limitado. Ao encontrar seus irmãos, um estava mais ansioso que o outro para saber as opiniões sobre o jumento. O primeiro filho foi logo comparando o jumento com um grande dragão, como os contados nas histórias. O segundo filho logo comparou o jumento ao um grande cavalo, um Pegasus, o cavalo alado da mitologia. Os dois primeiros irmãos ansiosos aguardaram a opinião do terceiro irmão, esse tranquilo após ouvir a opinião dos demais, não pensou em alguma reposta imediata, aguardou um pouco e quando não aguentava mais a euforia dos dois, falou:
- Eu não peguei nem apalpei o jumento, tinha algúem com ele, no instante em que cheguei perto, pela a primeira vez vi a luz, ela era clara e suave envolvendo o bichinho, ele estava tão alegre, parecia que carregava a alegria do mundo inteiro sobre ele.. - Disse o terceiro filho com entusiasmo.
- Você viu? Você enxergou! Como aconteceu isso irmão. - Diz um dos irmãos assustado.
- Não sei como aconteceu, quando sai daqui para conhecer o jumento fui pensando em quando ele carregou Jesus e quando cheguei perto do jumento ele estava lá, sei que era ele, eu vi a luz e seu rosto, não podia ser outro, tenho certeza.
- Mas agora você voltou a ficar cego, como pode acreditar nisso? - Diz um dos irmãos.
- Quem disse que eu ainda estou cego, estou vendo vocês e uma grande luz que agora os envolvem, ele está aqui, tenho certeza que o jumento foi buscar ele para nos curar.
- Agora também estou vendo. - Diz um.
- Também estou vendo. - Diz o outro.
Nesse instante o jumento se envolve em luz e estonteante sobe aos céus junto com outra imagem em uma velocidade nunca visto antes. A casa de taipa até hoje permanece no local, nunca mais foi visto qualquer pessoa morando nela, mas em noites claras, uma luz parece descer do terceiro céu e a ilumina.
Léo Pajeú Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Bargom Leonires em 14/06/2016
Reeditado em 14/06/2016
Código do texto: T5667102
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.