Um bosque chamado solidão
As tardes silenciosas, marcadas pelo tic-tac do relógio de corda, passavam lentas pelos anos.
O quarto, com paredes de madeira em verde pálido, guardava os desenhos infantis que diziam que ali se criavam sonhos de menina.
A cortina, em um excessivo amarelo ouro, lembrava que além daqueles muros havia o mundo e que nele se podia tudo.
As horas seguiam sem pressa.
Os olhos, verdes e pequenos como o corpo, fitavam o espelho em busca de respostas.
Nos dias de verão elas vinham em fantasias criadas na dança das abelhas e nas brincadeiras após a chuva.
Nos de inverno, aquietavam na penumbra do quarto e se perdiam no sono da tarde sob o calor das cobertas.
A vida corria silenciosa e nos sempre presentes momentos de solidão, se contentava ora com as flores pintadas em giz de cera, ora com as fábulas criadas em um mundo perfeito onde haveria sorrisos gratuitos a qualquer tempo.
Às vezes uma história fazia rir. Um livro garimpado no armário de não se abrir nunca e guardado feito tesouro sob o colchão.
Outras vezes, uma pedra colorida achada na calçada. Presente da fada, de gênio da lâmpada, de qualquer ser mágico que fazia renovar a tão guardada esperança.
Na rua onde havia um bosque que se chamava solidão, havia também um anjo que ladrilhava tudo com pedrinhas brilhantes de um futuro que acolheria a menina que sonhava.
E ela, a desenrolar os cachos acobreados, brincava também com as lágrimas que pulavam dos olhos sem qualquer aviso.
Tantas tardes passaram. E nos anos que se foram moldaram a alma, criaram o brilho nos olhos, mas, por mais silenciosas que fossem, jamais conseguiram calar a alma e fazer parar de sonhar o coração.