A NEGRINHA DE OLHOS VERDES
 
FOI MEU TIO QUEM DISSE...
 
CAPÍTULO II
 
          O sol se levantou com um brilho mais intenso, invadiu todo sertão mostrando sua real supremacia, alguns animais já se manifestavam ao redor da casa grande, noutros cantos ouvia-se os pássaros, eram tantos que não dava para diferenciar seus cantos.
          O Fazendeiro acordou animado e logo foi contar a decisão para a mulher, que dessa vez não incluía sua opinião ou recusa, a menina iria morar na casa grande e teria todos os cuidados.
          Logo chamou o Negro Tião para providenciar a vinda da menina, que a partir daquele momento ela iria morar na casa grande.
          Não demorou muito e o Negro Tião chegou acompanhado de outros negros e negras com a menina no colo de uma delas, todos de cabeças baixas, acanhados e com medo daquela situação.
          Em seu colo o Negro Tião também trazia um filhote de cão, era uma encomenda do Fazendeiro.
     - Hoje tenho duas alegrias, tenha a minha filha e o cão que tanto esperava, agradeço Negro Tião por sua preocupação em procurar um novo cão pra mim – Diz o Fazendeiro sorrindo.
     - Esse é dos bons patrão, vem de longe, ele tem uma mistura boa, tem até sangue de lobo. – Diz Negro Tião expressando um leve sorriso.
     - Agora meu dia começa a fazer sentido, estou muito feliz. – Diz o Fazendeiro ainda expressando um sorriso largo.
          Mas sua alegria não seria por muito tempo, sua mulher, Dona Sonia observava toda situação com ar de quem não estava gostando de nada daquilo. Logo foi providenciada uma ama de leite para a menina, isso as negras não deixava faltar.
          O Fazendeiro com um sorriso no rosto pegou o filhote de cão, passou a mão por sua cabeça e resolveu colocar logo seu nome, esse vai se chamar Piáu, tem uma aparência de um lobo, mas tem a cara de um peixe, essas manchas pretas e essa cor amarelada, a partir daquele instante Piáu passou a fazer parte da casa grande assim como a menina negra de olhos verdes.
          O tempo foi passando, a menina e cão foram crescendo diante dos olhos de Dona Sônia que não expressava qualquer sorriso ou afeição pelos os dois, pois coincidentemente chegaram ao mesmo dia, então o ódio que sentia era dos dois.
           O Fazendeiro preocupado com seus afazeres que eram muitos, não sabia muito dos acontecimentos na casa grande, sua mulher não dava trégua, seu ódio era cada vez pior, chutava o pobre cão, puxava suas orelhas, beliscava a menina que caia no choro, quando a ama de leite chegava ela falava “Vê se cuida direito dessa esfomeada se não vou contar tudo para o meu marido, ai você vai vê o que vai te acontecer negra miserável”.
          Quanto mais o tempo passava mais Dona Sônia ficava com mais ódio daquela dupla que corria pelos cantos da casa grande fazendo a alegria daquela casa que nunca teve um sorriso de uma criança.
          Quando o Fazendeiro chegava de sua luta diária era recebido pela a menina que já expressava um belo sorriso o qual combinava com seus olhos verdes, orgulho do quase velho Senhor do Engenho. Enquanto a menina caia em seu colo o cão Piáu puxava sua calça e o rodeava latindo.
          Essa combinação de alegria e encontros foi se tornando rotina por alguns anos, enquanto isso Dona Sônia ficava pelos os cantos semeando seu ódio ou planejando alguma coisa que naquela expressão sombria só o diabo gostaria de saber o que era.
          Passou o tempo, agora a negrinha de olhos verdes de nome Sofia já tinha cinco anos, mesma idade do seu fiel e amigo cão Piáu. Nada os separavam, pareciam irmãos, essa amizade fazia com que Dona Sônia ficasse com mais ódio, pois por tanto anos ela dominou tudo ali e nada podia ficar fora do lugar ou aparecer qualquer sujeira pelos cantos da casa grande.
         Em um daqueles dias que tudo acontece sem que Deus esteja por perto o mundo caiu, o dia ficou cinza. Dona Sônia como já vinha investigando há muito tempo descobriu que a ama de leite era a verdadeira mãe de Sofia, isso lhe despertou mais ódio ainda e numa reação de loucura invadiu a cozinha onde as negras faziam a comida, pegou a negra mãe de Sofia pelos cabelos e a arrastou até o terreiro da casa grande, ninguém fazia nada, todos tinham medo de velha rabugenta.
          Diante de todos começou a arrancar os cabelos da negra, bater em seu rosto e arrancar suas velhas roupas aos pedaços enquanto seu capataz de confiança controlava a situação para que ninguém interferisse.
          A poucos metros da briga Sofia observava aquela cena com lágrimas nos olhos, o cão Piáu até tentou avançar contra a Dona Sônia, mas foi contido e ameaçado pelo o capataz que hesitou em dar-lhe um tiro.
           O cão Piáu correu entre os negros que o encobriram o protegendo do algoz capataz. Em uma reação espontânea Sofia partiu para cima de Dona Sônia puxando suas roupas tentando proteger sua mãe a qual já estava caída na poeira do terreiro toda suja e sangrando pela boca.
         Desesperada Sofia tentava conter Dona Sônia, mas era ainda muito pequena, não tinha forças para impedir que aquela velha má maltrata-se sua mãe, em sua volta havia alguns negros e negras observando tudo aquilo, mas ninguém expressava reação ou falava alguma coisa.
           Com ajuda do capataz a velha má espancou sua mãe até que desfalecesse. Com uma expressão de ódio Dona Sônia bate a poeira de suas roupas e fala com raiva, “vocês me traíram, sabiam que essa negra era a verdadeira mãe dessa peste que meu marido trouxe aqui pra dentro de casa e não me falaram nada, vou me vingar de todos, vocês vão pagar por tudo que me fizeram”. Diz Dona Sônia ameaçando todo mundo.
          Um por um foi saindo bem devagar, como se já começasse a sentir a dor da vingança de Dona Sônia, a covardia era eminente na reação de todos que ali estavam Sofia vendo sua mãe caída ali no chão sem responder seus apelos se pós a chorar sem parar, a velha lhe pegou pela mãe e começou a arrasta-la até a porta de entrada da casa grande, o capataz lhe segui para atender suas ordens, enquanto arrastava Sofia pelo caminho a velha má fez um pedido para seu serviçal, “leva essa negra mata adentro e dar um fim nela, não quero vê a cara dessa peste nunca mais, entendeu bem, nunca mais”.
          O capataz se fazendo de entendido logo começou a atender a ordem de Dona Sônia sem perguntar nada, naquela região o sumiço de uma negra ou negro não fazia falta a ninguém, era tudo dominado pelos fazendeiros e donos de engenhos, ninguém podia levantar a voz contra eles.
           Enquanto era segurada a força pela malvada Sofia observava o capataz arrastando sua mãe pelo terreiro levantando uma leve poeira na fricção de seus trapos com a terra seca do sertão.
          Aquela cena fixou em sua mente e nunca mais Sofia sorriu, seu cão Piáu, ficou arredio, não ficava mais o tempo todo na casa grande, em noites de lua cheia ouvia-se ao longe um uivo penoso na mata, que era corespondido como se fosse um chamado.
           O Fazendeiro muito ocupado não percebeu as coisas que aconteciam tão rapidamente em sua fazenda. Mas observava em noites de lua cheia que Piáu trocava uivos com outro cão da mata distante da fazenda, aquilo parecia estranho, mas nunca parou para pensar sobre o assunto nem procurar aos negros sobre aquela circunstância.
          Por motivos de questões políticas o Fazendeiro tinha que se ausentar da fazendo por alguns dias, com essa situação a velha Sônia sorria pelos cantos da casa grande, pois com seu marido fora as coisas iriam ficar como ela queria.
           Sofia percebendo aquela situação já se preparava para o pior, não tinha como falar com seu pai que não iria acreditar em uma criança e não tinha ninguém que pudesse confirmar sua situação, só lhe restava se proteger da megera.
         O dia seguinte apareceu com uma luz fria, nem parecia o sertão tão quente, pareciam àqueles dias que as pessoas vão levando mortos dentro de redes para o cemitério, alguns choramingando, outros rezando e carregado velas.
          Dona Sônia acordou com toda disposição, tinha que fazer todas as malvadezas que podia para recuperar outros dias que não fez nada, judiava de um, reclamava de outra, fazia as negras da casa grande refazer tudo que tinha começado, jogava as coisa no chão para que elas começassem a catar tudo de novo, ninguém podia falar ou reclamarem, todos tinham que ficar caladinhos e de cabeça baixa.
          Seu pior plano ainda estava para ser executado, tirar a “negrinha de olhos verdes” de seu caminho, aquela peste nunca iria herdar bens de seu marido, ocorresse o que ocorresse isso nunca iria acontecer.

 
 
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 17/01/2014
Código do texto: T4654009
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