Le Pitoquê

Se quisessem falar de uma figura singular, ai estaria ela. Nasceu em berço esplêndido, na Cohab. Vindo de uma mansão cercada de obras de arte, vidros que davam um ar leve ao ambiente. Acolhido em um quarto com os seus. Dizem que único. A ovelha negra da família, se não fosse um gato. Sofreu grave perda, quando um dos irmãos havia sido trucidado por um furioso pitbull. Se destacava com sua astúcia. Que o hospedara, ofertou-o junto com os outros, pelo receio de novas tragédias. Recebeu as visitas em roupão, para mostrar a informalidade, já que ali estavam se fazendo um acordo entre lordes. O ser nobre deixa a moradia, indo para um lar que o daria amor. Recebido com pompa, comida farta e a casa inteira como área de lazer. Chorava. Sentia faltada família deixada para trás. Mas era um nobre. Com sua elegância, caminhava e se insinuava entre as roupas de cama, a tapeçaria e os estofados. Seu olhar e jeito cativantes, atraíam a atenção.

Recebeu a companhia de uma irmã, que acolheu como um gentleman. A novata, saindo do gueto, demonstrava ares rudes. Atacava por ciúmes o morador mais antigo, esparramando pela casa marcas de sujeira indignada. Mas ele, batizado como Nietzsche, desde os primeiros dias se acolheu entre os livros. Andava sorrateiro pelas estantes, pegando um exemplar do próprio Nietzsche para brincar. Quando os ocupantes da casa iam ler, estava ele entre os livros, disputando a atenção, indicando páginas. A nova moradora, não adaptada, acabou partindo. O magnânimo ser felino voltou a reinar absoluto. Saía pelo quintal, miando e atraindo pequenas criaturas que o divertiam, com sua destreza de caçador. Aprendeu a ocupar a casa. na manhã indicava sua indignação contra os outros moradores, já que ele tem hábito de acordar cedo e não gosta de ficar sem companhia em seu desjejum.

Aprecia muito ver televisão. Em um momento, trocou o canal, estava entediado com a programação escolhida por outros. Mostrou sua soberana vontade. Também manuseou o dvd, com perícia. Os livros, sua paixão. O francês também se tornou uma predileção entre seus hábitos. De cor negra e pelo brilhante, desfilando. Recebe visita e as cativa, mostrando seus ares de anfitrião atencioso. Sua água, bem temperada para aguçar-lhe as papilas gustativas. Quando pequeno, um pitoco. Se desenvolveu, tornando-se robusto. Suas garras afiadas, utilizadas com moderação para massagear sua delicada madrasta. Acariciava os cabelos dela, que tanto o ama. Percorria a acama, com o casal dormindo, se aconchegando e tomando conta do território. Mesmo após ter sido acometido por grave doença, conseguiu se recuperar. Foi submetido a tratamento em clínica de alto padrão. Recebeu seu prontuário, a medicação. Chegou a ser internado. Na época também contou com o apoio da antiga companheira para ajudar-lhe na recuperação. Demonstrando posteriormente imensa gratidão para com aquela gatinha.

Um cavalheiro que conhece suas origens, desde tempos remotos. No Egito Antigo já buscam sua dinastia, através de estudos feitos por especialistas. Com os dados obtidos e cada dia aumentado sua sofisticação. Quase mesmo chegando a conversar com as pessoas. Agraciado com brinquedos que estimulam sua inteligência inda mais. Sua comida selecionada. Acabou sendo chamado Le Pitoquê. As pessoas se espantavam com seu requinte e porte, chegando a causar inveja em pessoas de coração menos nobre. Passou a utilizar o sanitário de forma tranquila e sem causar estardalhaços. Desfrutava da leitura de clássicos da literatura e apreciava a sétima arte, além de se encantar com a música e embalar seu sono ao som de grandes clássicos da chamada música erudita. Um cavalheiro. Podia saltar sobre as águas e enfrentar ameaças, como o aspirador de pó. Foi condecorado, chegando a ser citado no papado como Bento II. Mas preferiu se ater a outras dedicações. O nome que entrou para a História por seu próprio mérito. Le Pitoquê, o lorde.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/01/2014
Código do texto: T4649191
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