A SAMAMBAIA, A ROSA, A ORQUÍDEA E O LÍRIO DO CAMPO.
 
 
                          Certa Samambaia, linda como sempre, com suas folhagens intercaladas entre um verde escuro e um verde mais clarinho cor de limão, formando exuberante contraste, conversava calorosamente com uma Orquídea branca e roxa pendurada ao seu lado, que por seu turno não deixava nada a desejar em termos de beleza.
                         O assunto versava sobre a importância de cada uma para os humanos. Em certo momento da conversa a Orquídea se posicionou como sendo a flor mais bela daquela residência. Que por ser a mais cara de todas as espécies florais. Que ali, no mini jardim do apartamento, era a mais importante naquela residência. Era também a mais visitada diariamente por todos os membros da família e seus convidados.
                         No que a Samambaia manifestou-se:
                         Eu tenho certeza de que não sou a mais importante e nem a mais cara das plantas, flores e folhagens que enfeitam este lar. Mas sou muito cobiçada por todos os humanos. Homens, mulheres, crianças pobres ou ricas conseguem encontrar e apanhar todas das nossas espécies e nos trazer para seus lares e nos cuidar com muito carinho. Exatamente por que eu e todas iguais a mim na maioria das vezes não custamos absolutamente nada para ninguém. Estamos nos campos, nos bosques, nas matas virgens, em lugares quentes ou frios, nas serras, nos caminhos e até na beira dos rios e dos riachos.
                         Se bem que alguns aproveitadores nos arrancam sem dó nem piedade dos nossos habitat natural e nos comercializam. Mesmo assim nos achamos úteis, pois muitas vezes aqueles que nos vendem usam o lucro que obtém para comprar leite para os seus filhinhos.
                        Nós Samambaias que também sonhos chamadas de Sambambaias, fazemos parte de várias espécies de famílias tais como as Pteredófitas, Polipodiáceas e Gleichemiáceas. A uma coisa importante: Nascemos em todas as partes e florestas do mundo.
                        Pois é Sambambaia, sorriu a Orquídea. Os da minha espécie são raras mesmo. Não nascemos em qualquer lugar. Estamos no Brasil há muitos anos, mas nossos antecessores foram trazidos da Europa, da Austrália e do Japão. Não suportamos calor em excesso. No alto das árvores onde ficamos é sempre fresquinho.
                         Uma rosa que ouvia tudo bem quietinha, do seu galho onde estava no mesmo jardim da área de serviço daquela residência, não mais resistindo entrou na conversa.
                         - Vocês são duas bobonas. Discutindo atoa. Terão que melhorar em muito para chegarem ao meu patamar de beleza e sucesso. Sou a mais linda das flores. Sou a rainha de todas. Estou no mundo todo. Não existem lugares de eventos dos mais simples ao mais sofisticados em que eu e todas da minha espécie não estejamos presentes.
                          Os reis, imperadores, presidentes, governadores, prefeitos e demais autoridades de todas as partes do mundo necessitam da nossa presença para enfeitar as mesas de um banquete, assim como os mais humildes precisam da gente para enfeitar uma coroa, um caixão ou um túmulo.
                         Nem mesmo por isso eu me considero a mais importante e bonita desta casa, pois os humanos nos apreciam, gostam de nos ver bonitas para mostrar aos outros, mas na primeira oportunidade nos incineram ou nos mandam para o lixo. Poucos são os que nos cultivam com amor e carinho de verdade.
                         - Sabem de uma coisa? Falou um LIRIO DO CAMPO que a tudo prestava atenção do seu vaso.
                         - Eu que sou uma flor, que venho do campo gostaria muito de ser tratada como tal, mas não, todos me tratam como sendo masculino e a maioria dos viventes assim me tratam, como um macho. Ninguém me olha como uma flor. Ninguém diz essa planta é linda. Esta flor é linda. Ao contrário, trouxe esse lírio do campo para dar um ar forte com seu perfume para contrastar com as outras flores.
                         - Todas vocês devem servir aos seus donos da mesma forma que eu os sirvo até o momento em que eles não nos quiserem mais. Os homens principalmente, na maioria das vezes, fazem de todas as suas flores, animais ou vegetais [mulheres ou plantas] uma escrava parideira, pois não vivem sem nós; ainda que nunca dêem o braço pra torcer. Rsrsrsrsrsrsrsrsrs.
 
 
CLEMENTINO POETA E MÚSICO
Enviado por CLEMENTINO POETA E MÚSICO em 16/05/2011
Reeditado em 15/06/2011
Código do texto: T2973832
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