O Escarro da Falsidade
Ó, lodaçal de bocas pútridas e tortas,
Escarrais ao chão o fel que no peito habita,
Serpentes torpes, línguas vilipendiosas,
Que nas sombras se ocultam, de lama infinita.
No mais profundo das almas, o verme medra,
Cresce no ventre da palavra falida,
Pois quem do beijo macula a doce entrega,
Traz no olhar a traição já concebida.
Ingratidão, ó rastro vil e mortífero,
Qual peste negra que o ar envenena,
Crava no peito do justo seu gume insólito,
Cicatrizando em dor a verdade plena.
Vós, que cuspistes nos altares sagrados,
Onde outrora jurastes lealdade e fé,
Agora sois apenas espectros errantes,
Pálidos ecos da verdade que já não é.
Escarrais sobre a amizade morta e fria,
Destruístes o que o amor ergueu em marfim,
Eis o preço pago em vossa vilania:
Serdes pó, deglutido pelo tempo sem fim.
Ó, ingratos, que na podridão vos banhais,
Que dos manjares da bondade vos fartais,
O fim vos espera, o cálice da vergonha,
E os vermes ceiam sobre o corpo que negais.