Lapa - Por donzela do Gelo
Na sombra desta outra cidade
Sou essas vozes cortantes
Elas são como escombros que me atravessam
dividindo-me ao meio
Parto no bonde e canto com boca rasteira
A solidão das horas
Entre um gole e outro, meus olhos se abrem
Minhas pupilas dilatam
E neste bonde, num som passageiro
Escuto um samba na Lapa
Um samba que arde e que chama o
Bêbado, o sóbrio e o ladrão
E as vozes saem dos becos
Das casas e dos casarões
A noite se ergue nos bordéis
E no corpo da fulana que tece sonhos nos arcos
Que busca no ombro, na boca do outro
A água ardente que perdura
Onde o tempo não passa dentro ou fora
Do bonde nas noites vendidas
Dos perdidos e achados, dentro dos bordéis
Que triunfantes brilham seus néons
Feito uma grande boca enorme e impulsiva
Ecoando entre as madrugadas
Na sombra desta outra cidade
Sou também essas vozes cortantes
Lapa por Donzela do Gelo