A solidão é um bem.
Se veste-me a solidão,
vez ou outra, necessária,
sem me fazer cativo,
até lhe sou festivo,
porque não sendo pária,
escolho minha multidão.
Se sou, então seu dono
e uso-lhe como serviçal,
a dispensar-lhe convite,
aprecio-lhe ao meu alvitre
não crendo ser um mal
entregar-me a seu abandono.
Porque se faz um bom dono
ao usar do que pode e tem,
se tem e não pode usar
está apenas a assaltar
e se pode, mas é de outrém,
melhor desperdiçar-se em sono.
Quem há de dizer de mim, "coitado!"
pouco sabe sobre felicidade;
Quem me há de taxar, "antissocial!"
sobre controlar-se, sabe muito mal.
Nenhuma roupa me traz fealdade,
quanto o cansaço do humor tricotado.
Essas firulas necessárias à corte;
Essas cortes que dependem de sorte.
Parecem mais prisões a tanta gente
e morte a tantos de tão deprimente.
Só vestindo o escarnecer da solidão,
individual e silenciosa consagração!