Ele por ele.

Entrevista. Ele por ele.

Mozaniel Almeida, entrevistando

Um Piauiense Armengador de Versos.

Moza: Devo dizer que me é uma satisfação imensa poder entrevistá-lo e espero que seja uma boa experiência para nós dois e para os que vierem ter conhecimento dessa reportagem.

Armergador: Eu agradeço pela sua iniciativa e espero o mesmo, embora, eu não saiba a relevância dessa sua aventura.

Moza: Inicialmente, qual o sentido do nome Um Piauiense Armengador de Versos?

Armengador: Não preciso explicar o gentílico. Armengar é um verbete do "sergipanes" que pode ser traduzido por gambiarra, improvisar sem base técnica, empirismo. Como não me coloco entre os poetas, Armengador de Versos fica-me bem definido.

Moza: Você veio de uma família muito pobre e certamente enfrentou grandes dific…

Armegador: Pare… parou? De onde diachos você tirou essa estapafúrdia dedução de que sou de uma família pobre e que tive dificuldades? Nenhuma pessoa de são pensamento liga falta de dinheiro com pobreza. Nenhuma família de reta consciência sendo feliz, se diz pobre por limitações financeiras. Meus pais se amavam, nunca os vi discutindo por futricagans. Minha mãe era uma mulher sábia e elegante. Meu pai era uma homem incomum e contador de causos. Eu estudei em bons colégios públicos, tive educação doméstica exemplar. Desfrutei de todas as regalias que os meninos da minha geração dispunha. A minha juventude foi cercada de amigos, muitos, lamentavelmente, já se foram. Os que ficaram, faço questão de visitá-los, sempre que vou à Teresina. As minhas dificuldades estavam ligadas ao nosso tempo. Nós éramos ricos na nossa simplicidade e não conheço garoto algum da minha época que se diga pobre, ou infeliz…

Moza: Peço desculpas e refaço a pergunta.

Armengador: Só um momento, por favor, porque preciso completar a resposta anterior: Eu sou de um tempo que não tínhamos geladeira, fogão a gás, telefone, o transporte público coletivo era uma lástima, sem televisão, caixa eletrônico, internet, computadores, a energia elétrica não era das melhores, água tratada não existia, esgoto sanitário, muito menos. Sem ar condicionado. A maioria dos eletrodomésticos não existiam, como não existiam roupas de grifes. Compras à crédito era um suplício, pois quase sempre era exigido um fiador. As nossas limitações eram próprias do nosso século. Os meninos da minha geração eram forçados a ter um ofício, pois em Teresina só tinha um curso superior, que era a Faculdade de Direito e esse bem era inatingível até para os filhos de famílias abastadas. Começávamos a trabalhar muito cedo. Eu sou marceneiro de origem, pois estudei marcenaria quando fiz Ginásio Industrial, na Escola Industrial de Teresina, hoje, IF. Então, dificuldades e limitações existem ainda hoje, mas pobres nós nunca fomos.

Moza: Você escreve desde quando?

Armengador: Meu primeiro poema foi feito para minha mãe, no dia das mães, quando eu tinha oito anos. Para minha surpresa, ela perguntou quem tinha escrito aquilo pra mim. Como você pode ver, já comecei desacreditado. Quando eu já fazia o curso técnico, mostrei meu melhor soneto ao professor Campos. Confesso que esperei um elogio, mas fui reprovado nesse quesito e graças a Deus, ele me mandou estudar vercificação. Então, estudei.

Moza: Você se arrepende de não ter feito um curso acadêmico?

Armengador: Não é a primeira vez que me fazem essa pergunta. Pode parecer estranho, mas eu sempre quis ser agrimensor. Sou da primeira turma de formandos da Escola Técnica Federal do Piauí. Para minha total satisfação, Agrimensura era uma das áreas disponíveis. Abracei a oportunidade por vocação. Dito isso, é fácil concluir que outra formação não me despertaria mais prazer. Trabalhei em grandes construtoras, aprendi muito e para minha felicidade, ensinei muito mais ainda. Um curso superior, não me tornaria melhor. Graças a Deus, sou tido como referência na minha área.

Moza: Você diz não se incluir entre os poetas, no entanto, suas poesias recebem críticas elogiosas em todos os sentidos.

Armengador: Isso é verdade, mas vamos avençar uma coisa: elogios de amigos, não se pode tomar no sentido lato. Ora por outra recebo orientações para mudar uma palavra, retificar outra. Mudar um título. Dentro dos meus conhecimentos, procuro atender e melhorar, sem perder as características.

Moza: A sua revisora disse que você é um contista nato e que ela se diverte e dar boas gargalhadas com seus textos.

Armengador: Aí já é um caso diferente. A Professora e escritora Lílian Rocha não me conhece pessoalmente e nem é minha amiga. Daí, que sou obrigado a crer no seu depoimento, além disso, eu me acho muito melhor como cronista, contista que como "poeta".

Moza: Você idealizou a Coletânea Piauí em Letras?

Armengador: Seria uma inverdade afirmar isso. A Coletânea é fruto de uma equipe da qual eu fiz parte no início e minha participação foi menos importante que a dos demais, até pela distância de onde eu moro. Já estamos na quinta edição e é um sucesso.

Moza: Fora a Coletânea, você teve participação em outros eventos?

Armengador: O cronista esportivo Carlos Said, da Rádio Pioneira de Teresina, tinha aos domingos, pela manhã, na década de 70, um programa chamado, salvo engano, POESIAS DO PIAUÍ. Muitos dos meus poemas foram declamados lá. Um pouco antes, graças à generosidade do amigo Josipio Lustosa Filho, muitos poemas meus foram publicados no Jornal O Estado do Piauí, que pertencia ao jornalista Josípio Lustosa. Como bem frisou o escritor Humberto de Campos no seu apólogo, esses foram minhas agulhas.

Moza: Você, decerto, tem planos para um futuro próximo, concernentes à literatura, suponho.

Armengador: Todos os meus planos são, agora, imediatistas. Já não tenho como frear o trem nem como postergar os acontecimentos. O que tiver de acontecer, será agora. Estou correndo contra o tempo e pretendo publicar um livro em prosa chamado, É CAUSO? DEIXA QUE EU CONTO. Estou procurando um editor. Malgrado, deixo bem claro que é um sério objetivo, contudo não é uma vaidade e muito menos uma obsessão.

Moza: Você se acha um escritor versátil? Sobre quais assuntos você escreve?

Armengador: Sim, mas certamente não no nível que você possa estar me colocando. Na minha autocrítica, eu escrevo de tudo sem me prender a estilo algum. Escrevo cordéis, versos livres, embora raros e especialmente sonetos. Em todos esses assuntos procuro ser fiel às regras exigidas. Sem falsa modéstia, não sou aventureiro nem curioso. Gosto de escrever "causos", crônicas e artigos sérios e com mais profundidade sobre Teologia. Gosto, muitíssimo, de contar histórias de padres. Escrevo frases com o título de Filosofia de Botequim. Se isso é, ou não versatilidade, fica a critério de cada um responder. Na minha avaliação, é sim.

Moza: Você disse que não escreve sobre o assunto da moda. Isso não seria um descaso com o cotidiano?

Armengador: No dia em que o Armstrong pisou na lua, todos os jornais, rádios e televisão do planeta falaram a mesma coisa, por uma semana inteira, só mudava o sotaque. Isso é futilidade. Quando Ayrton Senna morreu, aconteceu a mesma ladainha. Quando Euryclides de Jesus Zerbini morreu, quase ninguém soube; isso é aberração e injustiça.

Eu posso até escrever sim, mas só se eu tiver uma outra mensagem relevante para encaixar no tema de forma inequívoca. Veja só: Eu escrevi A MORTE JÁ EXISTIA ANTES DA PANDEMI e SEM VACINAS NEM RESPIRADORES. Esses assuntos nada tinham com a Covid-19. Por que eu iria escrever sobre ela, se todos já estavam escrevendo?

Moza: Para quem você escreve? Qual o seu público?

Armengador: Gostei da pregunta! Eu escrevo para minha família e para os amigos. Estes, muitas vezes, são transformados em personagens de minhas histórias. Quando pouco, cito-os nominalmente e creia que isso me dá prazer. Os meus causos são, na maioria, localizados na minha terra.

Moza: Por falar nisso, você é bairrista?

Armengador: O falecido senador Petrônio Portela disse, certa vez, que ninguém amava o Piauí mais do que ele. Perdeu meu voto para sempre, para deixar de ser petulante. Eu sou, neste escopo, o que você quiser dizer. Bairrista é pouco. Eu amo minha terra.

Bem, isso é uma coisa e outra é supor que eu não ame os outros estados. Por exemplo: visitei Viçosa, no Ceará e fiquei apaixonado pela cidade. Morei no Maranhão e fui feliz lá. Eu sou convictamente patriota. Dos 27 estados da Federação, eu conheço 13 e amo a todos.

Moza: De todos os comentários feitos sobre você, qual o que mais lhe agradou?

Armengador: Decerto, você está se referindo apenas à Literatura. Olha, algumas pessoas são tão especiais em minha vida, que eu não saberia aquilatar esses valores. Uma dessas me disse:

-Eu quero ter um livro teu na minha estante.

Ora, não é qualquer um que já ouviu isso algum dia! Sem dúvidas, essa declaração me deixou sobremaneira feliz.

Moza: Pelos seus poemas, você tem mágoas do passado. Você gostaria de falar sobre isso?

Armengador: Bola fora e muito fora! Eu não tenho mágoas de ninguém nem de nada. Todos os males que já me fizeram, ou que tiveram intenções de fazer estão perdoados. Aliás, não tenho desafetos. Quem guarda, ou fomenta mágoas, cava sua própria sepultura. Eu sou um homem feliz. Numa de minhas Filosofias de Botequim, eu disse que não tive dos homens tudo o que merecia, mas recebo de Deus muito mais do que preciso. Então, não sou cuíca para viver com lamentações. Tenho que asseverar, por dever de ofício que, nunca procurei perfeição nas pessoas, nenhuma dessas me decepcionou. Por outro prisma, eu não julgo ninguém por aquilo que ela escreve. Arte literária é uma coisa e vida particular é outra bem distinta.

Moza: Você tem ideia do tamanho do acervo de sua produção?

Armengador: Numa análise expedita, sem muita precisão, posso dizer que são mais de 160 textos em prosa, tais como contos, crônicas, causos, artigos diversos. Mais de 270 sonetos, mais de 250 frases, intituladas de Filosofia de botequim, mais de 15 poemas em cordéis, mais de 30 poemas diversos. Mais de 70 textos de humor. Pode não parecer muito, entremente, é muito mais do que eu previa.

Moza: Com toda essa monta, certamente, não caberia num só volume.

Armengador: As Filosofias de Botequim serão incorporadas uma no final de cada página. Os poemas precisariam um outra edição.

Moza: Do quê você mais gosta?

Armengador: Gosto muito de viajar para Teresina. Amo meus amigos e minha família. Gosto muito de cerveja e de um bom vinho. Gosto muitíssimo das comidas típicas do Piauí. Gosto de abraços, de contato físico. Divirto-me quando escrevo um bom causo. Gosto imensamente de ler e ao longo dos anos, consegui fazer uma biblioteca incrível. Gosto de jogar conversa fora e neste ponto, Deus foi generoso comigo, pois só me deu amigos inteligentes.

Moza: Alguma pergunta que você gostaria que fosse feita?

Armengador: Absolutamente. Eu não preciso de muito para falar de mim e acho que falei pelo resto do ano.

Moza: Fico agradecido pela bate-papo.

Armengador: Muito grato, foi uma baita satisfação.

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 01/07/2022
Reeditado em 15/07/2022
Código do texto: T7550350
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