A - DIÁLOGOS

pRonto


o amor em forma de silêncio
regista as palavras
assim escritas

é uma escolha este acto
e mais nada

apenas abertura para o mundo.
R

Pronto, também já sei escrever um assimero (leia-se... Assímeros)!...

pRonto

quem alguma vez disse
que poderias acaso
quedar-te tu

sem expor a língua
como um corpo

vivo para além do corpo?

Pronto..., já cá faltavas, à alma deste(s) encontro(s)!...
Assim

pRonto - Inspiração

todos podem conhecer
o prazer vindo
da Arte

é um vício que custa
apenas iniciar

a_meio da respiração!...
Mim

pRonto – Cataclismo

o autoclismo é descoberta
por vezes ruidosa
do desfecho

onde se limpa a
sanita

com esta limpeza absurda!...
FC

DIÁLOGOS SEM OUTRAS PALAVRAS

Apenas as palavras que fazem os poemas são como todas as outras e diferentes de todas as outras, dão-nos versos assim: (nus) seus versos!...
Envolvem-nos, devolvendo-nos a nudez que (nos) mostra a alma.

B - R e Mim a duo

MELANCIA DOS POEMAS

pedes-me «encarecidamente» que escreva novo poema «como só eu sei»
não sei e se te faço a vontade é para veres como só a tua bondade veio
fazer de novo mover o veio do meu estro que nunca foi perro, antes

direi que é ausente como alguém que não está e nem por isso é Ninguém
capaz de entrar em peças de teatro nacional ao mesmo tempo que ainda
se consegue evadir da realidade para a mais pura fantasia onde, depois

o poema toma forma neste versos para ser como uma talhada de melancia
trazendo ainda agarrada um bom bocado do seu coração que verte de si
um sangue doce e fresco quando ela esteve a refrescar em água fresca
R

rAIS TE PARTAM!

já que tanto tua Arte
parece ser indiferente
lhe direi que melhor
será não mais falar-te!
Mim

MÚSICA INTERIOR

como dizer-lhe que quem mais sofre com o meu próprio destino sou
eu que dos versos não conservo o segredo depois que eles por mim
passam sem deixarem os mapas interiores ou a planta da sua traça

por isso nunca saberei dizer ser poeta sem me sentir pateta de banda
não desenhada um eu ser imperfeito por não acreditar predestinado
tê-lo para telha das ideias e menos dando eu cobertura a fantasias

razão mais que suficiente para só escrever como poemas suficientes
aqueles poucos que por vezes me obrigo a escrever sobre esta sua
e minha mania dum querer encontrar nos versos destino preclaro

onde mais declaro e já termino que sempre me aborrece de escrever
um descrever que me obriga a seguir um ritmo que é uma música
onde muito gostaria de ser autor e não o ser, dizer: a Língua é?...

minha querida também me move o amor às mais delicadas das partes
que como homem abano ao vento quando digo falar o meu coração
e sabeis vós como eu que outros não são que dois olhos peludos...

ou deverei antes dizer dois pêndulos dum tempo onde mos penduro
dependurado como símio semelhante a eles mesmo a ser querendo
querer mais inteligente  não alcanço a mais que meras fantasias

com elas juntado as contas das palavras no fio do discurso cá estou
agora fazendo mais um colar que só com a imaginação o poderás
usar de preferência lendo com a voz onde pensei pôr-to no colo

circundando o teu pescoço numa carícia que te cai sobre teu peito
eu a baloiçar feliz imaginando-te a pensar neste que de ti se diz
apenas uma referência em silêncio ao Silêncio música interior

VALEU A PENA
«tudo vale a pena se a alma
não é pequena»,
F. Pessoa

fui tua pequena
segui teu ser
pendular!
Mim

LINHA DO HORIZONTE
por ti seguiria um verso inexistente esperando por ele chegar à linha do horizonte
R

PEGA
vieste de frente e recebo-te
de viés, se não te dou
com os pés, sou...
Mim

CORAÇÃO EM PEÇAS
eu sei que o destino me reservou
a infelicidade como um fado,
não me peças que o cante

desmancharia coração em peças
sem saber em qual bocado fui
morto pelo espanto sentido!
R

TE SEI
manteiga
é o que te sei
dizer do que sinto
Mim

MIM
besuntar-te-ia com a tua arte na parte
onde um olho cego sente a nossa ligação
fá-lo-ia até te deixar sem mais palavras.!.
R

AI
Aí.!.
Para aí,
contínua...
Mim

ALTO E PÁRA O BAILE
Fodeu-se!... 

«indica que alguma coisa está perdida, que não tem mais solução ou cujos resultados fogem ao controle», p.3914, Tomo IX, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
R

C – Assim a Mim

Tudo começou com uma resposta que dei e ficou exposta...* vou colar, agora continuo com a continuação que se deu este Fim de Semana. Podia ser: mim até Mim.** 

*
ARTE POÉTICA
"Dizem eles
Alguns dizem que são só vento, outros que querem ser espuma. De um lado ou do outro, está quem?
Digo eu que pode ser seda…"
Filipa Rodrigues

Agradeço o teu mote, com o qual vou poder exercitar um pouco de Arte Poética, uma necessidade para todo o poeta. Necessidade geralmente satisfeita na identificação com as palavras, procurando as formas onde se assume uma identidade própria. Satisfação centrada em torno duma questão que, pondo-se, ganhando consciência, é esta: qual a escrita que pratico? Ou, como sou através das palavras?... O que faço e como sou através do que faço?
Como para escrever todos temos de saber ler e devemos ser leitores, o maior desafio que encontrei foi a descoberta do outro em nós próprios: a experiência da heteronímia apresentada por Pessoa. De certo modo o processo está explicado pelo próprio, é o apelo à dramatização, um tear/teatro pessoal.
Ora... vou dar-te a ler, fazer/escrever, um texto escrito para ti. Algo onde quero dizer que o mesmo será... para tu o poderes ser/ler através da leitura. Estou pois a preparar o desdobramento, o necessário processo da conceptualização. Sem o qual, um quadro cubista sempre te dará um rosto decomposto/descomposto, sem que consigas interiorizar a imagem do quadro num todo onde tudo podes ver até onde consegues ver, por exemplo, um rosto num rosto.
No itálico, vejamos o que dizem eles:

Alguns dizem que são só vento,
outros que querem ser
espuma.
De um lado ou do outro,
está quem?

O poema é uma organização espacial de texto, uma estrutura estabelecida, na maior parte dos casos, de modo automático, no decurso da escrita. Pese embora as sucessivas revisões que se possa dar a um texto, ele é sempre o fruto duma matriz inicial: o registo dum ritmo, uma música profunda, uma melodia do poeta se de poemas falamos. Se não conhecermos o músico que há em nós, se não dominarmos os nossos próprios ritmos: os versos são o esfrangalhar de frases!...
A questão que me ponho, tendo um tema, é: quais as ideias que me ocorrem lendo as ideias que me são sugeridas?
É a altura, antes de voltar a eles, de te procurar ela:

Digo eu que pode ser seda…

A seda é leve, macia, flutua e actua como um toque de... É o conjunto dos adjectivos já introduzidos que vai gerar um conjunto sensorial, apelando aos mesmos e novos adjectivos desde logo estabelecidos.
Vou procurar para fio condutor a sensualidade, o que dá o máximo sentido a todos os sentidos (admiraria se alguém me mostrasse exagero na frase)!
Agora é deslizar na maionese... algo que aprendi com a linguagem do português viajando nos trópicos, descendo ao hemisfério Sul, indo e vindo do Brasil.

igual aos que dizem ser vento
eu sou a espuma na praia
levado em pensamento

de um lado para o outro
eu sou igual a ninguém

espuma de água indo a rolar...
Assim


Assim foi o assim, eu, geralmente sou mais mental como se procurasse ser um filtro, guardar em mim qualquer coisa das palavras que escrevo. O Assim é nu e cru e leva a vida a rir, como diz que fazem os rios da nascente até à foz, dizendo ele procurar o mesmo destino até à voz.
Quando quero dedicar uns versos, instintivamente, a quadra me surge como um quadro onde sou povo do povo da Língua onde me promovo pessoa na língua de Camões... Pessoa, tendo um enorme respeito pelo Cancioneiro. Nele, de forma magistral, a Língua vive e assume um registo pessoal, uma alma nacional, o que nos permite senti-la como nossa. É desse modo breve e leve que gosto de pensar, qualquer coisa (que desejo...) simples.

igual a ninguém eu sou eu
mesmo se sendo um vento
sou-me... invento / evento
para como seda... ser teu

Tendo tempo e paciência, assim como se colhe uma flor, também procuro forma mais elaborada onde mais me posso espraiar, tento a forma soneto (sem composição elaborada):

igual a ninguém eu sou eu
sendo... invento / evento
para como seda ser teu
mesmo se sendo um vento

numa caricia à distância
levando o perfume pele
um corpo de ser na ânsia
a escrita sobre o papel...

no formato digital dito
nu que agora te escrevo
em pensamento expedito

sentir a alma em seda ser
a ideia de sorte um trevo
quatro pétalas do dizer

Tento, aos poucos, como um aprendiz, seguir o aprendizado que vou tendo/fazendo com o Assim. Uns dias sei, nos outros esqueço. Só não esqueço que, sem prazer, a vida pode não fazer sentido e isso faz todo o sentido e isso tira todo o sentido, brindo: à vida!
Escolhe, espero acolhas bem da quadra ao soneto.
Beijos,
F
O acabamento que pode ser o título, tem as virtudes que se lhe quiser dar. Por vezes pode até estar a mais... Quando seja o caso, o melhor é nomear pelo primeiro verso. Mas, como o título é uma ideia inicial ou pode ser já uma leitura final, vou procurar um título para o soneto, ver como fica:

QUERENDO SER SEDA

igual a ninguém eu sou eu
sendo invento em evento
para como seda ser teu
mesmo se sendo só vento

numa caricia à distância
levando o perfume pele
um corpo de ser na ânsia
da escrita sobre papel...

em formato digital dito
nu que agora se escreve
um pensamento expedito

sentir alma de seda a ser
na ideia de mim vai leve
como de ti veio prazer

Burilei e dei uma nova versão ao último verso, quando das palavras bebo a ideia de veio, filão, mina... garimpando (o) sentido final.!.
A_DEUS// Agradecido amiga,/ a amizade seja seda/ assim tecida! 

**
Arte Poética - Assim Mesmo
LUGAR_ES

I
amar em qualquer...

felicidade o poder vigor
e diga-se o que se disser
em todo o seu esplendor
faça-se o que se quiser(!)

a exclamação no corpo
um peixe sem escamas
possuir prazer de porco
sem precisar de camas...

navegar nu verbo amar
todo colorido de bonito
sem do prazer definhar
desejo até ao Infinito.!.

a fome como dum fogo
teu corpo todo em brasa
vibrar desde cada afago
ter mundo além da casa!

II
teu corpo amado

macio som de piano
toda tu a tocares nua
também eu sem pano
mas agora cada na sua

pele de papel tactear
à procura deste sentir
sempre para te tocar
neste rio feito a fluir

sensação tão completa
que só poderá acabar
para quem a interpreta
se conseguir completar

lugar da poesia poema
com teu corpo amado
pelo que sendo o tema
é meu verdadeiro fado!

III
música eternamente

na ternura do desejo
fica tua fenda a abrir
com a boca do beijo
que te dou a colorir

nas notas agora tocas
com um leve pássaro,
feitas a voar loucas
nelas paro um reparo

consigo ficar imóvel
até parar no coração
como se fosse móvel
onde se guarda razão

se seguindo melodia
caminho na invenção,
torno-me da fantasia
recantos de sensação!

IV
compor da emoção

o corpo agora vazio
filmando a fantasia,
viajo por um baldio
levo sua companhia

o que sentes é balão
estica depois encolhe
é igual pois a razão
em si tudo lhe acolhe

o intenso num penso
retiro e fica a ferida,
já cicatriz do imenso
o figo seco querida

o balão voou e caiu
ainda poderás encher
se não perdeu o piu
será o lugar a crescer!

Do artigo definido masculino, até ao lugar feminino entre parênteses (o), a minha tese é tê-lo teso: intenso, soltá-lo do que penso.!.
Assim


O Assim apanhou-me a escrever uma Arte Poética, também quis dar ar da sua graça :)
F(im self


Resposta ao Assim - SEMELHANDO SEMENTEIRA

um bom poema seria aquele que eu não pudesse escrever
nem num dia, nem numa vida, algo que me ultrapassasse
como um pensamento levado no vento como outonal folha
caindo do alto das coisas até ao rés do chão semelhando
as ideias a cair de mim e a poisar em palavras que escrevo
sem sequer as olhar enquanto de olhos fechados sinto isto
que é escrever como uma percussão sobre a pele do todo

na imensidão admirável desse poema imponente escreveria
enfim, finalmente escreveria, algo que incondicionalmente
ultrapassasse a razão humana e voa-se para longe Espaço
Universo de cada uma das linhas do poema transformado
agora em poesia sem Poesia e sim em si mesmo ilimitado
pela imitação do desejo em palavras semelhantes ao mar
como o sinto quando nele olho errante o meu olhar errante

em todo ou em cada parte a folha caída continuaria ainda
como sendo parte, da árvore, duma floresta inventada, algo
capaz de servir de arca a Noé e a mim levar inteiramente
este espírito que espirro aflito igual que estivesse doente
sofrendo duma forma intensa e cruciante aqui crucificado
mártir dos meus equívocos duma vocação para a qual sou
apenas um estranho a importunar a minha calma sem pena

ou usando-a como utensílio duma escrita arcaica de antiga
mitificada num diálogo ao longo dos dias da semana toda,
algo como um mês a continuar num ano os séculos antigos
profeticamente abrindo portas do Futuro ao Passado Hoje
num dia onde o Sol no interior da eclíptica da Terra assistiu
tranquilo a mais uma rotação da nossa translação múltipla
de 365 ou 366 rotações que são os nossos dias sobre eixo

de uma inclinação polar influenciada por um magnetismo
cuja força milhar de vezes a dum cavalo cansado atrelado
a um arado no cultivo dum milharal imponente ao longe
e agradável se nos sentarmos junto aos pés frescos verdes
num dia quente em que apeteça a sombra com seu recato
neste recanto de letras desenhadas para guardarem nelas
imorredoiro significado que já vai morrendo mal é solto

mas mais que morrer é a anunciada ressurreição humana
insurrecta perante o seu destino de cadáver adiado que
procria o que Pessoa escreveu e cada pessoa que o lê vê
para contrariar ser esquecido esquecimento num respirar
onde nem damos conta da saúde que temos enquanto ela
somos nós gozando dela sem a saber saborear tão fortes
quanto a força que temos e não usando é inutilmente útil

mas mais ainda que dar conta do que sou ao que somos
sinceramente quero ser idealmente eu meu próprio ser,
condicional, se o poder fruir ecoando como um tambor
do meu coração batendo ao compasso escrita enquanto
de olhos fechados e braços erguidos faço cair ritmados
movimentos da minha pele sobre papel onde represento
semelhando as palavras como sementes onde semelhei...
R

{
R (registo) o narradoR Recantista surgido no Recanto das Letras, solto agora como poeta ou pateta ou tanto lhe faz como lhe fez, mas lá que conseguiu ser poeta, conseguiu, em SEMELHANDO SEMENTEIRA deixa um solo de bateria monumental (erguidas baguetes)!!
}

Também me apetece entrar na dança:

ÉCLOGA

falo por mim,
quando com as palavras falo
muitas vezes estou à procura ainda
de como hei-de sentir
o que sinto

depois elas
vão-me dizendo como digo
e desse modo nos vamos dando bem
até que eu me cale e elas
em sossego

acontece raro
eu cansar as palavras e ficar
sozinho a falar sozinho daí resultando
não terem elas paciência
para mim

é pois ciência
só escrever o que elas querem
para nelas podermos dizer nosso crer
com o querer desejável
está visto!

Pastor de ideias que vou comendo para me alimentar, enquanto lhes vou dando a comer o pasto onde pastam, outras ideias que elas mesmo são: omnívoras ideias!

ODE
ANTROPOLÓGICA

pastor de ideias
que eu vou comendo
ao me alimentar

enquanto lhes dando
a comer o pasto
onde pastam outras

ideias que elas
mesmas outras também
omnívoras são
F

RESUMO OPERAÇÕES

I
diferença
nestes meus tempos do ter
vivo momentos tendo
a diferença feita

aquela que dita...
a escrita

é subtil acção (descrita...)

II
soma
juntando-os obtenho soma
como o pensamento
duma ideia...

esta que se dita
às palavras

na operação feita (inscrita)

III
multiplicação
na continuidade de contar
com todo momento
pesa a Física

quando se aplica
a força

nas teclas (aqui escrevo)

IIII
divisão
razão dos versos feitos
numa distribuição
por estâncias

estorno estrofes
a jeito

dum hábito (que habito.!.)
Assim

{
No dia seguinte:
}

ARS POÉTICA
a palavra a vibrar
como a flauta
de beiços
Mim

Veja aqui… Dia 18 

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/471730

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 18/05/2007
Reeditado em 18/05/2007
Código do texto: T492102