Prosseguimos as entrevistas com Andréa Duarte - médica dermatologista graduada pela UERJ e pós-graduada pela UFF. Entre os seus textos mais lidos estão O Facebook da morte; A casa das sete noivas; Liquidação do fim do mundo; Oração das quarentonas,Mostre-me o teu celular e eu te direi quem és; amolando a faca, entre outros.
Sua paixão pelas letras lhe acompanha desde a infância quando então escrevia pequenos contos literários. Durante a faculdade de Medicina ,as poesias deram lugar aos textos mais técnicos,ligados à sua área de atuação. Seu verdadeiro despertar como escritora veio na maturidade quando conheceu o site de escritores Recanto das Letras. Há quatro anos frequenta a "escrivaninha" do Recanto, onde se dedica à diversos estilos literários, com mais de trezentos textos publicados e cerca de dez mil visitações.
RE-Quando você iniciou a escrita de textos literários?
AD- Sempre gostei muito de escrever e desde a infância rabiscava poemas e pequenos textos, mas depois dos 35 anos, a vontade de escrever surgiu de maneira avassaladora, como uma represa que abriu as suas comportas. Os textos simplesmente brotavam na minha mente e cobravam a sua justa forma de maneira urgente, numa sofreguidão de quem tinha sede há muito tempo...
RE-Recebeu algum incentivo para escrever ou iniciou sozinha?
AD- Escrever sempre foi um ato solitário e prazeroso. O meu momento de dar a forma que eu quisesse aos meus pensamentos,observações e emoções.
RE- Quais são os autores que de certa forma influenciaram a sua escrita?
AD- Gosto de tramas românticas e bem humoradas com toques de ironia e erotismo. Houve uma época em que a melancolia era tanta que praticamente sentia a mão da Clarice guiando as minhas. Adélia Prado me encanta e Martha Medeiros, das contemporâneas, é a que tem um estilo mais próximo do meu.
RE-Quais são os elementos que julga essenciais para a criação de um excelente de terror?
AD- Comecei a me aventurar pelo terror a pouco tempo,mas tive uma resposta tão boa dos leitores que durante alguns meses fiquei completamente envolvida com o gênero. Um conto de terror é como uma receita em que não se pode abusar dos componentes.
A partir de uma ideia central, construo a história misturando os elementos de forma a estimular o interesse,sem transforma-lo numa carnificina. Suspense, tensão e ter o domínio do que se escreve para dar bastante credibilidade são os temperos que nunca podem faltar.
RE- No conto O Facebook da morte contamos com muitos elementos que movimentam a trama, tais como o jogo de interesses – pessoal-vital x profissional-científico, lealdade e deslealdade de conjugê. Comente sobre esses conceitos presentes no texto.
AD- O Facebook da morte foi um conto baseado na observação de que frequentemente as pessoas morrem, mas seus perfis continuam ativos nas redes sociais, nos lembrando de forma mórbida, mas também engraçada, da data de aniversário dessas pessoas,nos estimulando à felicitá-las em seus murais. Em cima dessa ideia central,criei uma trama mexendo com elementos ritualísticos indígenas e inseri esses elementos na realidade virtual nossa de cada dia. Ao mesmo tempo, levantei questões éticas sobre até onde o ser humano pode ser desleal a quem diz amar, em favor do seu individualismo e crescimento pessoal.
RE- O fim do conto de terror O Facebook da morte é surpreendente. Comente um pouco sobre esse desfecho.
AD- Os desfechos dos textos de suspense e terror devem ser o mais imprevisíveis dentro do possível. Mesmo quando existe uma certa previsibilidade, devemos procurar surpreender o leitor,confundi-lo, assustá-lo e ao mesmo tempo criar um gancho que o mantenha interessado,preso à leitura, por mais apavorado que esteja,até o final.
Em todo conto,seja ele de terror,humor,romance ou drama, temos que "seduzir" o leitor, despertar sua curiosidade e atraí-lo para um epílogo que justifique a confiança que ele depositou em você, quando resolveu seguir as nossas pegadas, através das páginas do nosso texto.
RE- Fale um pouco do conto de terror o preço da liberdade.
AD- O preço da liberdade foi inspirado na observação de um boneco através da vitrine de uma loja. Pensei na rebeldia adolescente e nas responsabilidades que a vida adulta lhes impõe. Pensei até em criar uma "série" em que esse bonequinho seria o protagonista dos contos de terror, uma espécie de brinquedo assassino mas numa versão light e inteligente.
RE-Quais são os escritores que você admira no Recanto das Letras?
AD-No Recanto fiz ótimas amizades de todas as naturalidades. Mi Guerra é uma ótima escritora de cunho mais crítico e jornalístico que gosta de caçar jacaré no Pantanal. NuNuNO Grienbach é um curitibano que adora os temas do surreal, do oculto,do sobrenatural. Duda Manfer é de São Paulo, sempre muito romântico e encantador e de Minas Gerais,sempre visito a escrivaninha da minha grande amiga Marina Alves. Escrevi uma prosa poética sobre essas minhas amizades chamada “Para Todos os Cantos desse Recanto"(http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3473728)
RE-Você escreveu algum texto de que goste bastante ? Qual é? Nos explique o motivo dessa preferência.
AD-Meus textos são minhas criações, filhos de muitas gestações. Seria injusto,comigo mesma, se tivesse alguma preferência.Mas gosto muito dos meus eróticos. Acho que são sutis nas suas metáforas,o que me permite brincar com o duplo sentido das palavras. Procuro ser intensa sem ser vulgar. Sensual e insinuante, sem ser permissiva. Erotismo e terror sempre mexem com o inconsciente dos leitores e costumam chamar mais a minha atenção.
RE- Como você considera a relação autor-texto-público?
AD-Considero uma relação complexa, como toda relação. Existe de um lado, o escritor que gostaria de ser lido,entendido e prestigiado pelo seu público. Do outro lado existe o leitor,ávido por novidades, densidade e cheio de expectativas. No meio,feito recheio, existe um texto,num código,numa linguagem que pode aproximá-los ou afastá-los.
RE-Você adota algum ritual para começar a escrever?
AD- Normalmente, se faço algum ritual,não consigo escrever nada. As ideias nascem da observação do cotidiano, de fatos comuns ou incomuns, em que empresto a minha visão particular do mundo. Frequentemente quando dirijo, sou assaltada pelas minhas melhores ideias. Algumas vezes paro o carro e escrevo algum resumo para retomar o raciocínio em outro momento. Muitas vezes gravo esses pensamentos no celular,para não perder o momento. Sempre digo que a inspiração é como um grande tesão que tem urgência na sua saciedade. Você até pode deixar prá depois, mas nunca é a mesma coisa...
RE- Que dica você daria para um escritor iniciante?
AD- Sou uma escritora iniciante, amadora e com muita estrada pela frente. Aprendi com o tempo a vencer as minhas limitações e a tentar escrever todos os estilos literários,como uma bailarina que tem no ballet clássico o início de tudo,mas não se fecha às outras modalidades de dança. Procurar ter a mente aberta ,captante,feito antena parabólica e nunca desperdiçar nenhuma informação. Estar sempre atento ao que está à sua volta e desenvolver o senso crítico são alguns toques que podem ajudar bastante.
AD- Você gostou das informações que colheu e qual o objetivo desse seu estudo?. Qual foi o seu critério para selecionar os seus entrevistados?
RE- Andrea entrei em têxtase ao receber e ler as suas respostas precisas, inteligentes e otimamente humoradas. Sua escrita tem o poder de encantar o receptor em qualquer gênero, pois noto a observação, a leveza criativa, o poder de síntese e empoderamento por meio da palavra - características essas, que algumas escritoras contemporâneas possuem. E você faz uso tão bem!!
O objetivo dessas entrevistas é oportunizar o leitor/escritor a conhecer a opinião daquele(a) que cria e liberta seus textos para voarem junto a outros diversos, tais como pássaros de variadas espécies apreciadas.
Tenho alguns critérios qualitativos para selecionar os autores entrevistados, porém os primordiais se baseiam em: observar textos bem escritos- coesos e corentes, criativos,provocativos e dialógicos que causem impacto no leitor permitindo-lhe reflexões. Também leio a interação do autor com os leitores/escritores.
Obrigada por ser tão solícita, e nos dar essa oportunidade de aprender com sua entrevista!! Um abraço ! Renata Emily.
Para conhecer os textos da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=89202&categoria=&lista=lidos
Sua paixão pelas letras lhe acompanha desde a infância quando então escrevia pequenos contos literários. Durante a faculdade de Medicina ,as poesias deram lugar aos textos mais técnicos,ligados à sua área de atuação. Seu verdadeiro despertar como escritora veio na maturidade quando conheceu o site de escritores Recanto das Letras. Há quatro anos frequenta a "escrivaninha" do Recanto, onde se dedica à diversos estilos literários, com mais de trezentos textos publicados e cerca de dez mil visitações.
RE-Quando você iniciou a escrita de textos literários?
AD- Sempre gostei muito de escrever e desde a infância rabiscava poemas e pequenos textos, mas depois dos 35 anos, a vontade de escrever surgiu de maneira avassaladora, como uma represa que abriu as suas comportas. Os textos simplesmente brotavam na minha mente e cobravam a sua justa forma de maneira urgente, numa sofreguidão de quem tinha sede há muito tempo...
RE-Recebeu algum incentivo para escrever ou iniciou sozinha?
AD- Escrever sempre foi um ato solitário e prazeroso. O meu momento de dar a forma que eu quisesse aos meus pensamentos,observações e emoções.
RE- Quais são os autores que de certa forma influenciaram a sua escrita?
AD- Gosto de tramas românticas e bem humoradas com toques de ironia e erotismo. Houve uma época em que a melancolia era tanta que praticamente sentia a mão da Clarice guiando as minhas. Adélia Prado me encanta e Martha Medeiros, das contemporâneas, é a que tem um estilo mais próximo do meu.
RE-Quais são os elementos que julga essenciais para a criação de um excelente de terror?
AD- Comecei a me aventurar pelo terror a pouco tempo,mas tive uma resposta tão boa dos leitores que durante alguns meses fiquei completamente envolvida com o gênero. Um conto de terror é como uma receita em que não se pode abusar dos componentes.
A partir de uma ideia central, construo a história misturando os elementos de forma a estimular o interesse,sem transforma-lo numa carnificina. Suspense, tensão e ter o domínio do que se escreve para dar bastante credibilidade são os temperos que nunca podem faltar.
RE- No conto O Facebook da morte contamos com muitos elementos que movimentam a trama, tais como o jogo de interesses – pessoal-vital x profissional-científico, lealdade e deslealdade de conjugê. Comente sobre esses conceitos presentes no texto.
AD- O Facebook da morte foi um conto baseado na observação de que frequentemente as pessoas morrem, mas seus perfis continuam ativos nas redes sociais, nos lembrando de forma mórbida, mas também engraçada, da data de aniversário dessas pessoas,nos estimulando à felicitá-las em seus murais. Em cima dessa ideia central,criei uma trama mexendo com elementos ritualísticos indígenas e inseri esses elementos na realidade virtual nossa de cada dia. Ao mesmo tempo, levantei questões éticas sobre até onde o ser humano pode ser desleal a quem diz amar, em favor do seu individualismo e crescimento pessoal.
RE- O fim do conto de terror O Facebook da morte é surpreendente. Comente um pouco sobre esse desfecho.
AD- Os desfechos dos textos de suspense e terror devem ser o mais imprevisíveis dentro do possível. Mesmo quando existe uma certa previsibilidade, devemos procurar surpreender o leitor,confundi-lo, assustá-lo e ao mesmo tempo criar um gancho que o mantenha interessado,preso à leitura, por mais apavorado que esteja,até o final.
Em todo conto,seja ele de terror,humor,romance ou drama, temos que "seduzir" o leitor, despertar sua curiosidade e atraí-lo para um epílogo que justifique a confiança que ele depositou em você, quando resolveu seguir as nossas pegadas, através das páginas do nosso texto.
RE- Fale um pouco do conto de terror o preço da liberdade.
AD- O preço da liberdade foi inspirado na observação de um boneco através da vitrine de uma loja. Pensei na rebeldia adolescente e nas responsabilidades que a vida adulta lhes impõe. Pensei até em criar uma "série" em que esse bonequinho seria o protagonista dos contos de terror, uma espécie de brinquedo assassino mas numa versão light e inteligente.
RE-Quais são os escritores que você admira no Recanto das Letras?
AD-No Recanto fiz ótimas amizades de todas as naturalidades. Mi Guerra é uma ótima escritora de cunho mais crítico e jornalístico que gosta de caçar jacaré no Pantanal. NuNuNO Grienbach é um curitibano que adora os temas do surreal, do oculto,do sobrenatural. Duda Manfer é de São Paulo, sempre muito romântico e encantador e de Minas Gerais,sempre visito a escrivaninha da minha grande amiga Marina Alves. Escrevi uma prosa poética sobre essas minhas amizades chamada “Para Todos os Cantos desse Recanto"(http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3473728)
RE-Você escreveu algum texto de que goste bastante ? Qual é? Nos explique o motivo dessa preferência.
AD-Meus textos são minhas criações, filhos de muitas gestações. Seria injusto,comigo mesma, se tivesse alguma preferência.Mas gosto muito dos meus eróticos. Acho que são sutis nas suas metáforas,o que me permite brincar com o duplo sentido das palavras. Procuro ser intensa sem ser vulgar. Sensual e insinuante, sem ser permissiva. Erotismo e terror sempre mexem com o inconsciente dos leitores e costumam chamar mais a minha atenção.
RE- Como você considera a relação autor-texto-público?
AD-Considero uma relação complexa, como toda relação. Existe de um lado, o escritor que gostaria de ser lido,entendido e prestigiado pelo seu público. Do outro lado existe o leitor,ávido por novidades, densidade e cheio de expectativas. No meio,feito recheio, existe um texto,num código,numa linguagem que pode aproximá-los ou afastá-los.
RE-Você adota algum ritual para começar a escrever?
AD- Normalmente, se faço algum ritual,não consigo escrever nada. As ideias nascem da observação do cotidiano, de fatos comuns ou incomuns, em que empresto a minha visão particular do mundo. Frequentemente quando dirijo, sou assaltada pelas minhas melhores ideias. Algumas vezes paro o carro e escrevo algum resumo para retomar o raciocínio em outro momento. Muitas vezes gravo esses pensamentos no celular,para não perder o momento. Sempre digo que a inspiração é como um grande tesão que tem urgência na sua saciedade. Você até pode deixar prá depois, mas nunca é a mesma coisa...
RE- Que dica você daria para um escritor iniciante?
AD- Sou uma escritora iniciante, amadora e com muita estrada pela frente. Aprendi com o tempo a vencer as minhas limitações e a tentar escrever todos os estilos literários,como uma bailarina que tem no ballet clássico o início de tudo,mas não se fecha às outras modalidades de dança. Procurar ter a mente aberta ,captante,feito antena parabólica e nunca desperdiçar nenhuma informação. Estar sempre atento ao que está à sua volta e desenvolver o senso crítico são alguns toques que podem ajudar bastante.
AD- Você gostou das informações que colheu e qual o objetivo desse seu estudo?. Qual foi o seu critério para selecionar os seus entrevistados?
RE- Andrea entrei em têxtase ao receber e ler as suas respostas precisas, inteligentes e otimamente humoradas. Sua escrita tem o poder de encantar o receptor em qualquer gênero, pois noto a observação, a leveza criativa, o poder de síntese e empoderamento por meio da palavra - características essas, que algumas escritoras contemporâneas possuem. E você faz uso tão bem!!
O objetivo dessas entrevistas é oportunizar o leitor/escritor a conhecer a opinião daquele(a) que cria e liberta seus textos para voarem junto a outros diversos, tais como pássaros de variadas espécies apreciadas.
Tenho alguns critérios qualitativos para selecionar os autores entrevistados, porém os primordiais se baseiam em: observar textos bem escritos- coesos e corentes, criativos,provocativos e dialógicos que causem impacto no leitor permitindo-lhe reflexões. Também leio a interação do autor com os leitores/escritores.
Obrigada por ser tão solícita, e nos dar essa oportunidade de aprender com sua entrevista!! Um abraço ! Renata Emily.
Para conhecer os textos da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=89202&categoria=&lista=lidos