BENEDITA: ESTUDANTE DO HAIKAI

A escritora Benedita Silva de Azevedo concedeu nos concede uma entrevista bastante esclarecedora sobre seu envolvimento com a literatura de origem japonesa chamada Haikai. Essa entrevista foi

Benedita Azevedo é aposentada do magistério público e particular. Grande parte de suas atividades docentes foram desenvolvidas em Magé-RJ, entre 1990 e 2005. Mas, continua em contato com os alunos, através do “Projeto Haicai na Escola”, desde 2004.

1. D.S: Quando a senhora começou a escrever haicai?

Benedita Azevedo: Meu primeiro contato com o haicai aconteceu em 2000, quando participei do lançamento do livro de haicai moderno da Lena Ponte. Como participante do Grupo Mônaco, no Calçadão da Cultura, em Niterói-RJ, já conhecia Luiz Antônio Pimentel, mas, não sabia que era haicaísta. Tendo eu demonstrado interesse pelos poemas, ele me deu de presente o livro “Poesia Budismo Haicai” de Vinicius Sauerbronn, no qual tem um ensaio de sua autoria: Gênese do haicai – Luiz Pimentel, à página 35. Sempre que nos encontrávamos falávamos sobre o assunto. Mas, só em 2004 comecei a escrever meus pretensos haicais e publiquei o livro “Nas trilhas do haicai.

2. D.S: Atualmente, qual a sua relação com o haicai?

Benedita Azevedo: Pertenço ao Grêmio Haicai Ipê desde agosto de 2005. Entretanto, participo das seleções quinzenais do Nippo-Brasil, enviando meus trabalhos, a partir do outono de 2004, onde tenho mais de uma centena de haicais publicados. Sou a idealizadora dos dois primeiros grêmios do Estado do Rio de Janeiro, cujas coordenações exerço desde a fundação: Grêmio Haicai Sabiá, na cidade de Magé-RJ, fundado em 17 de junho de 2006 e o Grêmio Haicai “Águas de Março”, na cidade do Rio de Janeiro, fundado em 16 de fevereiro de 2008. Edito a Revista HAIKAI - Com Amor, do Portal CEN, já na 11ª edição.

3. D.S: Além dos Grêmios e da Revista a senhora participa de mais alguma atividade relacionada ao haicai?

Benedita Azevedo: Participo de várias outras atividades:

* Da HAKAI-L, uma lista virtual de aproximadamente 150 pessoas, onde são postados artigos, ensaios e haicais de haijins (haicaístas) consagrados e a produção dos participantes com o objetivo de comentar os poemas postados e tirar dúvidas com os mais experientes.

* De quase todos os concursos de haicai tradicional: Do encontro Brasileiro de Haicai, promovido pelo Grêmio Ipê. Do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas e como professora no Concurso Nacional de Haicai Infanto-Juvenil, através de oficinas oferecidas nas escolas.

* Tenho vários haicais publicados, na seção de haicai brasileiro, da Revista Brasil Nikkei Bungaku, através das seleções quadrimestrais do haijin Edson Kenjin Iura.

4. D.S: Quer falar sobre algum Prêmio recebido nesses concursos?

Benedita Azevedo: Com prazer..

* Em novembro de 2005, fazia três meses que começara a frequentar o Grêmio Ipê, fui classificada em 1º lugar no “17º Encontro Brasileiro de Haicai”, promovido pelo Grêmio Haicai Ipê, São Paulo-SP

* Em agosto de 2006, fui classificada em 4º lugar no “28º São Paulo Tanabata Matsuri – Festival das Estrelas”, promovido pela Associação Miyagui Kenjinkai do Brasil, São Paulo-SP

* Em agosto de 2006, meus 02 haicais enviados foram classificados em 4º e 9º lugares no “I Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas”, promovido pelo Grêmio Caminho das Águas, Santos-SP. Também em 2007, no “II Concurso” fui premiada em 4º lugar.

* Em 2008, fui classificada em 5º lugar no Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato, promovido pela Secretaria de Cultura do Paraná, Curitiba – PR, dentre os 1.100 poemas concorrentes.

5. D.S: Além do livro “Nas trilhas do haicai” que a senhora diz ser de pretensos haicais, tem outras publicações?

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Benedita Azevedo: Minha trajetória no mundo do haicai inclui quatro publicações: Nas Trilhas do Haicai, H. P. Comunicações, Rio de Janeiro, 2004; Canto de Sabiá, haikai, Araucária Cultura, Curitiba, 2006; Praia do Anil, haikai, Araucária Cultural, Curitiba, 2006; Gotas de Orvalho, haikai, Araucária Cultura, Curitiba, 2007. Mas, também escrevo em outros gêneros literários, e além dos livros de haicai, tenho 07 outras publicações individuais. Somando ao todo 11 livros solo, participação em 26 antologias e projetos e organização de 11 antologias.

6. D.S.: Qual é a sua opinião sobre o haicai praticado no Brasil?

Benedita Azevedo: O haicai tradicional de origem japonesa, praticado nos grêmios de haicai é o que me interessa. Ele foge da linguagem metafórica, de qualquer manifestação de sentimentalismo, da linguagem conotativa. É resultante de um momento de percepção vivenciado pelo haijin. No meu caso, que tenho uma deficiência visual. É um momento sinestésico que desperta uma sensação concreta e em poucas palavras tenta-se sugerir o acontecimento que o despertou. Por ser um poema breve de apenas dezessete sílabas, deve ser claro, objetivo e fluir com leveza. Para se alcançar a simplicidade e a beleza desta forma poética, é necessário aprender a conviver com a natureza. O haicaísta precisa estar atento a tudo que o rodeia no cotidiano. Observar os fenômenos da natureza produzidos no decorrer das estações e a vivência humana relacionada a elas. Fazer um haicai é eternizar em palavras um momento singular, em linguagem simples, quase coloquial. É importante captar a sensibilidade em relação à natureza, o despojamento, a sobriedade, o sentimento da permanência e da mudança. Mas, a mais importante qualidade de um haicai é o haimi, o sabor do haicai. O haicai nos ensina a olhar e a sentir de modo diferente os aspectos da natureza e da vida. A linguagem muito elaborada descaracteriza o haicai, tornando-o artificial.

É essa a minha concepção de haicai. Há muitos praticantes que não observam certos aspectos que aprendi no Grêmio Haicai Ipê e que hoje tento compartilhar com participantes do Grêmio Haicai Sabiá e o Grêmio Haicai "Águas de Março", como você sabe, idealizados por mim, com a intenção de me manter conectada e divulgar esta modalidade apaixonante de composição poética. Só com a vivência e a prática consegue-se escrever haicais com simplicidade e leveza.

7. D.S: O que significa sabor de haicai?

Benedita Azevedo: É uma expressão muito usada pelo prof. Franchetti, Mestre de haicai, o Haimi – é a combinação de coisas como intuição, mistério, economia de elementos, simplicidade, sutileza. Em japonês seria : Karumi, uabi, sabi, além do kigo.

8. D.S: Pode traduzir esse termos?

Benedita Azevedo:

Karumi – leveza.

Uabi – beleza das coisas simples.

Sabi – sentimento de solidão e tranquilidade.

Kigo – termo de estação

D.S: Agradecemos à professora Benedita Azevedo, por compartilhar conosco, a sua paixão por esta poesia mínima de origem japonesa, que vem divulgando em nossa cidade desde 2005, através das oficinas de haicai.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 15/06/2009
Reeditado em 15/02/2011
Código do texto: T1650604
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