A PROSIFICAÇÃO DA VAIDADE

A PROSIFICAÇÃO DA VAIDADE

RETRATO DA ACADEMIA TOCANTINENSE DE LETRAS

MOURA LIMA

“As melhores biografias são aquelas da qual o biógrafo está ausente.” Henri Troyat

“A historiografia deve proceder sem cólera nem parcialidade”

Tácito

“Os vinte e seis membros efetivos, que assinaram a ata de Fundação da ATL, são Membros fundadores”. (Estatuto da ATL, Tit. II Caput. I, art.4º, §3º.).

Retrato da Academia Tocantinense de Letras, 1ª edição, é o novo livro de Mário Martins, que foi lançado recentemente, em 26-5-2005, às 15h49min, no sistema de comunicação mundial – internet, no site www. usina de Letras.com. br, para o conhecimento global do que se fez e faz presente no campo das letras tocantinenses. Agora, neste festivo 12 de julho de 2005, vem a público a robusta 2ª edição, de 490 páginas, revista e ampliada. E, assim, em primeira mão, eu tenho a honra de compulsá-la. É obra pioneira e de fôlego, que reúne no seu bojo um acurado estudo de pesquisa analítica das obras literárias e vida dos Acadêmicos. Como também dos patronos das respectivas cadeiras, que de certa forma contribuíram com suas atuações na vida pública, ou privada, para a grandeza e consolidação do novo Estado da Federação.

Não tenho dúvida em afirmar que a obra, em si, é um estudo crítico avançado, de grande alcance sociológico e histórico. Também pudera, o autor é um escritor de currículo invejável, (para a glória das letras tocantinenses e do país), bom baiano, do fundão de Brotas, oriundo do tronco dos coronéis da Chapada Diamantina, o que lhe explica o ânimo combativo e o temperamento independente às curvaturas hipócritas. É um templário da pena, que não tolera a injustiça literária e o anonimato preconcebido. E assim vem palmilhando com denodo e competência, os caminhos do saber, ao longo dos anos; ora na tribuna jurídica, ora no magistério superior, onde tive a honra de ser seu aluno na saudosa Universidade Evangélica de Anápolis-GO, nas disciplinas de sociologia e filosofia, sendo as obras adotadas de sua própria autoria. Mário Martins é senhor de seu ofício, percuciente, cioso da verdade histórica, sempre empenhado em extrair dos fatos e das pessoas uma visão social profunda, no binômio: - responsabilidade e ética literária.

Com esta postura de estirpe superior, o escritor Mário Martins, como homem de letras e ação, vem, através dos anos, construindo e organizando titanicamente, sem apoio público, um painel vasto da Literatura Brasileira, no resgate de valores esquecidos do mundo cultural. Com isto, acaba praticando justiça social no campo das letras. É um trabalho gigantesco e farto para os estudiosos, pesquisadores e professores. De tão minucioso que é, se não fosse a sua força de vontade incansável de pesquisador, dificilmente se acreditaria que foi realizado por uma só pessoa. Por isso merece o aplauso oceânico das multidões. E aí está para comprovar a grandeza deste trabalho, o DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO DE GOIÁS, com 1230 páginas, DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO DO TOCANTINS, com 924 páginas; e o DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO REGIONAL DO BRASIL, com mais de dez mil biografias, encontra-se na internet, no site http://www.usinadeletras.com.br.

Retrato da Academia Tocantinense de Letras é obra planejada de escritor para escritores, de professor para professores, de pesquisador para pesquisadores, com um objetivo maior, ou seja, alcançar o ensino médio e as comunidades universitárias do Tocantins e do país. É um livro bem elaborado, suculento, de agradável leitura e de fácil consulta, em razão do índice onomástico. E riquíssimo em dados históricos relevantes, onde podemos viajar no tempo, e que certamente o professor, o pesquisador, o bibliotecário, o amante da cultura em geral guardarão com imenso prazer na sua estante.

Um outro ponto interessante, que Mário Martins usou para elaborar a magistral obra, foi o critério sistematizado da contextualização. Todo o seu trabalho girou em torno de observações iluminadoras, associadas a uma afinada percepção de perspectiva, num exame rigoroso dos dados biográficos. Com isso salvou do esquecimento contribuições de suma importância. Não mutilou o perfil dos biografados, com omissões intencionais de deslustrar o sucesso de cada um, em proveito próprio. Mas, pelo contrário, procurou exaustivamente valorizar a obra de cada escritor, suas vitórias e grandezas, advindas com sacrifício do áspero caminho da escrita. Com isso fez uma obra de humanismo vivo! E escapou com altivez da indignação secular de Balzac, que, preterido por um biógrafo medíocre, exclamou:

- “É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja!”.

Já no livro Perfil da Academia Tocantinense de Letras, do escritor Juarez Moreira Filho, que nos faz lembrar uma velha passagem do Talmude – “É melhor pecar com boas intenções do que praticar uma boa ação com más intenções;” o autor, na página 112, numa omissão gritante, de erros de composição e estilização, deixou de citar a obra completa do autor destas linhas, apesar de tratar-se de obra popularíssima no Tocantins, com várias passagens em vestibulares; como os romances SERRA DOS PILÕES - Jagunços e Tropeiros, CHÃO DAS CARABINAS-Coronéis, peões e Boiadas, (Que retrata o massacre dos Barbosa, ocorrido no Peixe) SARGENTÃO DO BECO (peça teatral) e MUCUNÃ - Contos e Lendas do Sertão. Com os outros biografados esse lapso intencional não ocorreu. Não citou também, nominalmente, os prêmios nacionais que o autor conseguiu para a cultura do Estado, como Malba Tthan de literatura, outorgado pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores, em solenidade ocorrida na Academia Brasileira de Letras, e outros. Também não registrou o título de “Cidadão Piauiense”, que foi outorgado ao autor pela Assembléia Legislativa do Estado do Piauí, por força do Decreto Legislativo nº188, de 17/12/2004, numa justa homenagem à produção literária tocantinense do homenageado. E não citou o livro de ensaio “Moura Lima – A Voz Pontual da Alma Tocantinense”, da renomada crítica literária brasileira de Goiás, Moema de Castro e Silva Olival, doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela USP, titular da Academia Brasileira de Filologia, professor emérita e fundadora do curso de mestrado da UFG; bem como o livro de ensaio do crítico brasileiro Francisco Miguel “Moura Lima – Do Romance ao Conto - Travessia Fecunda pelos Sertões de Goiás e Tocantins”. Informação não faltou ao autor, pois os dados biográficos ora questionados estão devidamente registrados nas próprias obras e no DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO DO TOCANTINS, DE Mário MARTINS, ENCICLOPÉDIA DA LITERATURA BRASILEIRA, 2ª EDIÇÃO, de Afrânio Coutinho, Biblioteca Nacional, acervo da Academia Tocantinense de Letras e na internet, site www.usinadeletras.com.br. Tudo isso, é claro, sem citarmos o nosso endereço postal, e-mail e telefônico, que sempre esteve à disposição do autor.

Uma biografia com intenções de metodologia cientifica não pode conter sinete, sinalização do biógrafo, como se fossem marcas do dono na anca de bois. Revelando assim, um outro lado da mente – a insegurança e a pretensão arrogante de auto-afirmação. Uma biografia deve abarcar tudo, isto é, de formula expressa. – nascimento, formação escolar, profissional, obras publicadas, estudos ensaísticos, prêmios, títulos e honrarias conquistadas com o histórico literário. Em caso contrário não será biografia, mas, sim, uma maçorocada com disfarces estilísticos desta natureza: - “figura como verbete em dicionários, enciclopédias; é citado com abundância em muitos estudos literários”. Com isso, furta, oculta e camufla os dados informativos de suma importância a outros pesquisadores, e esconde as atitudes não confessadas.

Portanto, não há espaço para o inacabamento composicional de uma biografia, quando se trata de citação imperativa nominal da obra do biografado e outros dados de domínio público. No romance, segundo Bakhtin, é permitido o inacabamento, como também o plurilinguismo, a plurivocalidade e da pluridade de estilos. Mas isto é para o romance, jamais para pesquisas biográficas!

Voltando ao livro Retrato da Academia Tocantinense de Letras, de Mário Martins, observamos então que, de fato, o autor se esmerou proficuamente no estudo cuidadoso dos traços biográficos dos 26 membros fundadores da Academia Tocantinense de Letras e respectivas cadeiras. Digo assim, porque o são, de fato e de direito, num ato jurídico perfeito e acabado, os eternos fundadores da Academia Tocantinense de Letras; sem eles não existiria a Academia. E o Estatuto da ATL, juntamente com o testemunho presencial do autor destas linhas, corrobora essa assertiva. Vejamos:

- “Os vinte e seis membros efetivos, que assinaram a ata de Fundação da ATL, são Membros fundadores”. (Estatuto da ATL, Tit. II Caput. I, art.4º, §3º.).

Todavia, quanto a este despretensioso ensaísta, (conforme cópia no meu arquivo), foi convidado para a fundação da ATL, pela historiadora Ana Braga, organizadora da reunião preliminar, que contou com a colaboração dos 26 membros fundadores. E todos compareceram com a alma transbordando de intenções superiores, para colaborar com a formação da identidade cultural do novo Estado, visando à integração com a constelação maior da cultura nacional. E não com a intenção de render culto a personalidades, numa auto-ilusão de egos fragmentados. Mas isso são questiúnculas, catilinária, que não somam nem subtrai o mérito de ninguém. Uma academia não tem dono, está a serviço da evolução do homem, da sociedade, e, conseqüentemente, torna-se um patrimônio da humanidade. O mais importante de tudo foi a fundação da Academia Tocantinense de Letras pelos 26 membros, e a sua consolidação na brilhante e histórica gestão do primeiro presidente, desembargador Liberato Póvoa, para a glória da cultura tocantinense e brasileira.

Com efeito, pensar o contrário é erguer monumento à vaidade e ao personalismo arrogante. E é de bom alvitre parafrasear as palavras do historiador Monsenhor Chaves: - “A história que temos é da classe dominante, a classe que produz os documentos e organiza os arquivos.” Assim sendo, a verdadeira história não se pode confundir com culto à vaidade, que muitas das vezes é usada para justificar o status quo e santificar os erros de perspectiva do personalismo. Notoriamente, sepultado nas areias gordas do horripilante inferno concêntrico de Dante, através da marcha das civilizações e dos séculos. Ressuscitá-lo em pleno século XXI é erguer templo à vaidade! Um pouco de humildade não faz mal a ninguém, só engrandece a dimensão cósmica da alma.

Da sua cátedra, que foi moldada na tradicional escola do Recife, que deu tantas glórias ao Brasil, como Tobias Barreto, Gilberto Freyre e outros; Mário Martins conhece que “não há ciência social, mas ciências sociais, direito, política, economia, religião, moral, e que todos esses domínios se penetram multiplamente.” Com essa visão sociológica expressiva, o autor da monumental obra dá aos mais obscuros textos históricos dos patronos uma luminosidade esclarecedora; como da vida trágica e tumultuada de Teotônio Segurado, até o seu assassinato na vila da Palma e dos demais. Sempre numa seqüência cronológica espantosa e didática. Um outro registro que não escapou ao autor, e, até inovador, foi de catalogar a biografia dos candidatos que concorreram à ATL. Com a palavra o próprio autor:

- “Mas o Retrato da Academia Tocantinense de Letras é um livro SUI GENERIS porque ele faz justiça aos que foram candidatos nas diferentes cadeiras e não conseguiram se eleger. E como estes candidatos tiveram votos de vários confrades, nada mais justo do que homenageá-los, incluindo suas biografias neste livro.”.

Aí está a grandeza de Mário Martins, nesta obra vingadora, que intrinsecamente restaura, corrige os erros, as omissões intencionais e oferece ao pesquisador sério, ao professor, ao estudante uma fonte segura e rica em dados históricos.

No confronto da obra de Mário Martins com outras do mesmo gênero, notadamente com a de seu predecessor, a dele é sem sombra de dúvida, a mais completa, a mais abrangente e a mais precisa, no que tange à verdade dos fatos históricos e da vida e obra dos imortais da Academia Tocantinense de Letras. É uma obra que veio para ficar e vai atravessar gerações. A sua contribuição é imensa para a formação da identidade cultural do Estado.

MOURA LIMA
Enviado por MOURA LIMA em 21/04/2008
Código do texto: T955274