O poeta que decidiu contar histórias
Eu sou um poeta. Isso me parece pretensioso. Sou um poeta nas horas vagas, ou na verdade, quando dá tempo. Ou até mesmo quando tenho algo a dizer, um pensamento ou um sentimento que não consigo expressar, na verdade, quase sempre, tenho uma dificuldade enorme de me expressar.
Então eu sou um poeta nas horas vagas e por uma certa necessidade quase fisiológica. Você já teve uma necessidade grande, daquela que dói na bexiga ou que torce os músculos anais e você pensa se pode peidar ou seria melhor encontrar um banheiro acessível e miseráveis dois metros de papel higiênico? A poesia às vezes é assim.
Eu gosto muito da arte da escrita e sempre gostei dessa brincadeira de ser um escritor. Acho o máximo ser escritor. É muito mais humano, realista, multiuso do que um "poeta". Quando eu era criança e escutei a palavra "poeta" pela primeira vez, em uma canção, achei que se tratava de um animal selvagem, ou mitológico, ou as duas coisas, e por muito tempo segui acreditando nisso, até que eu cresci, estudei e entendi, mas nada tira da minha cabeça essa primeira impressão, e como dizem por aí, a primeira impressão é a que fica.
Dizem por aí também que um bom escritor precisa saber contar histórias. E eu sou péssimo em contar histórias. Tenho preguiça de contar histórias. Mas eu gostaria de ter essa habilidade. Eu escreveria contos, contaria algumas histórias, umas engraçadas, outras mais sérias, e provavelmente esse meu espaço seria bem mais visitado.
Ouvi falar não me lembro onde que todo o escritor conta uma história mesmo sem querer, e faz sentido. Quem não conta efetivamente uma história, escreve parte de uma história, ou empresta sua parte pra história, e de qualquer forma a literatura toda conta histórias, e todos os escritores contribuem direta ou indiretamente pra elas. A Bíblia é um livro fundamental, atravessou gerações por toda a humanidade contando histórias, e foi escrita por mãos de escritores, cronistas, apóstolos, poetas, filósofos, e mesmo um ateu ou agnóstico tira o chapéu pra essa obra divina.
Mas afinal, o que é uma história? É um conjunto de fatos, personagens (como eu e você), conflitos e desfechos? É uma forma de entreter, ensinar, emocionar ou provocar? É uma maneira de registrar, interpretar, criticar ou mudar a realidade? Talvez seja tudo isso e otras cositas más. Talvez seja algo que cada um cria e recria na sua mente, no seu coração, na sua alma. Talvez seja algo que cada um conta do seu jeito, com as suas palavras, com os seus gestos, com os seus silêncios. Talvez seja algo que cada um vive do seu modo, com as suas escolhas, com as suas consequências, com as suas surpresas. Talvez eu seja um poeta que decidiu contar histórias. Talvez eu seja uma história que decidiu ser poeta.