Sou de origem camponesa e posso, sim, ser poetisa!

Livro que será publicado pela editora Toma Aí Um Poema (TAUP) — com financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria — expõe um vocabulário simples da autora nordestina, Maria José de Melo, que denuncia, renuncia, chora e grita alto suas críticas e dores.

Antes de qualquer coisa, sou de origem camponesa, natural de São Caetano, município do Agreste de Pernambuco, onde nasci e morei por 19 anos com a minha família. Nesse lugar, criei o meu mundo e formei o meu pensamento. Em 2008, mudei-me (com a família) para a cidade de Jaboatão dos Guararapes-PE, Região Metropolitana de Recife-PE, logo após a morte de meu pai. Neste lugar, pude estudar e tive oportunidade de me desenvolver intelectualmente e profissionalmente como sujeito social.

Desde menina, sempre quis ser escritora. Tornei-me geógrafa por primeira opção, e, apesar de ter hiperfoco em geografia desde criança, nunca tive vontade de exercer a docência em escolas. Por isso, escolhi fazer o bacharelado em geografia. “Escolha errada demais para uma pessoa pobre”. Ouvi isso na graduação e no mestrado. Ser poetisa, então... Não! “Isso não é coisa para os pobres. A arte é para os ricos”, diziam. Como pode alguém acreditar que deve ser assim?! O povo cria a arte, independentemente de suas condições econômicas, sociais ou culturais.

O meu contato com a palavra escrita de forma mais viva começou a ser explorado na ciência, no curso de geografia, em 2012. Em 2013, comecei a guardar as minhas anotações, e desde 2014, mantenho diários pessoais, embora nunca tivesse coragem para levá-los ao público leitor. Eu não sabia como explorá-los, por não me sentir, ainda, uma escritora de fato.

Depois da publicação do meu primeiro livro, “A Renda Fundiária na transposição do Rio São Francisco”, em março de 2021, comecei a refletir sobre a possibilidade de me tornar escritora (já sendo há muito tempo...). Em julho de 2021, passei de fato a me dedicar à escrita em gêneros literários. Comecei a organizar o livro “O Prelúdio de Um Amor”, escrito a partir dos meus relatos nos diários. Este livro se tornou o terceiro de uma trilogia e corresponde a um romance. Com previsão para ser publicado depois do livro de Amora. Nessa trilogia, o primeiro aborda a Luta pela terra, e o segundo, a ciência e o autismo – ainda estão em processo de construção com breves rascunhos.

Nesse processo surgiram as primeiras prosas poéticas, crônicas e poesias que deram fôlego para que eu abordasse um assunto mais delicado da minha vida pessoal. No impulso da escrita, em outubro de 2021, surgiu outro livro em prosa longa, que relata experiências traumáticas da violência sexual vivida por mim na infância e na vida adulta. “Memórias Literárias de Amora: uma carta-manifesto” nasceu em meio a lágrimas e sofrimento cercados por um trauma e pelo silêncio de longos 20 anos. Com previsão para ser publicado ainda esse ano de 2023.

A sensibilidade e a força de a “A Jitirana Poética” surgiu de uma regressão à melancolia latente, que permitiu o desabrochar em meio ao contexto da pandemia de COVID-19. Com o intuito de chegar ao meu “Agreste” interno, renasci em um encontro marcado com o Sertão. Na simplicidade interiorana envasada por um solo regional. Ah! Fui convidada ao renascimento no meu brio. Nele, continha sentinelas adormecidas com aromas, sons, texturas e luz. Assim, entre 2021 e 2022, nasceram as minhas primeiras poesias e crônicas.

A minha poesia é simples, crítica e regionalista!

De maneira idêntica, termino falando do meu povo, da nossa terra e da nossa luta prolongada pelo acesso à terra e água. Isso deve ser coisa do povo camponês do Nordeste brasileiro – melhor dizendo, do povo brasileiro!

Não sei se faço um refinamento cru ou cozinhado. A única coisa que sei: as expressões do ser feminino podem acontecer através da palavra escrita. Marcados por uma época em que tudo se passa tão rápido, eu persisto em ser lenta. A vida não dá certeza; mas, mesmo assim, a certeza pode ser encontrada em períodos e em fases quando estamos abertos para recebê-la. Se a poetisa não tem certeza, ela apenas cria a sua certeza. Assim, entendi que poesia é a expressão potencial da alma humana. O sentir a lentidão do sentir é estar distraído. Nesse movimento, busquei o meu “Agreste” interior, inspirada na delicadeza e força da Jitirana.

Eu cá, digo logo, sou interiorana do Agreste da Jitirana, de alegria genuína e com um estandarte beleza. Como sou pernambucana de alma regionalista, não poderia deixar de dizer que faço as linhas por onde o meu trem passa. Tenho um coração cheio de lembranças e memórias vivas. Ir contra a maré fez-me mestra no meu amor-próprio. Uma cientista do povo se fez poetisa junto do Sertão. Logo, o meu sentir me deixa atemporal com o meu mundo singular que mede o particular no universal.

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