o que sobrou de tudo isto?
é muito doido, mas há momentos que parece não ter sobrado nada de coisa nenhuma.
há momentos que parecem sucessões de fatos e ocorrências.
há momentos que parecem ter sobrado só dúvidas e incertezas.
mas acho que este sentimento de indefinição constante e de incompletude está muito relacionado à três coisas:
primeira coisa a ser considerada é sempre estarmos a cada segundo fazendo escolhas, desde quando acorda se vai levantar ou não naquele momento, até a hora de dormir se vai deitar ou prolongar-se acordado por mais um tempo, ainda que sem forças e caindo pelas tabelas. mas cada escolha trará consequências que serão sentidos física e emocionalmente, ainda que de imediato não consigamos dar conta objetivamente de como isso se dá no momentos. pensar que isso é ininterrupto, enquanto consciente e acho que mesmo inconscientemente (o ato de ter que escolher), traz um peso, um cansaço, um esforço natural, que acaba nos tornando incompletos, ainda mais quando a encruzilhada da escolha traz um ou mais elementos que gostaríamos escolher para nós e se torna inviável por serem distintos e impossíveis de ter ao mesmo tempo, pelas mais variadas questões... é um fardo fortíssimo que necessitamos nos habituar, se é que de fato é possível. se é que só nos rendemos a esta condição, devido a própria impossibilidade de mudá-la;
a segunda coisa é a inquietude que cada um de nós traz e que faz queremos mais e mais, e nunca estarmos satisfeitos, por mais que consigamos atingir as coisas que mais queríamos e tínhamos como nossas metas primordiais. daí vamos percebendo que além das escolhas, das nossas vocações e as escolhas primordiais, acho que o fato de termos que ser seletivos, e muito das vezes há pessoas que se vangloriem disso, na verdade seja nosso martírio, ao invés de nossa redenção. intimamente temos os desejos, as curiosidades, os ímpetos mais diversos. somos curiosos. somos seres da experimentação e de tudo que envolve os impulsos e sensações. somos sensoriais, os sentidos nos fala muito alto, e ter que represar muito dos nossos sentidos, emoções e sentimentos, por quaisquer que sejam as justificativas, não deixa de ser castrador. a interrogação que fica por não saber o que seria do outro caminho, da outra coisa, de toda uma imensidão de coisas dispensadas pelo transcorrer da vida, uma enorme gama delas muito boas, se faz dor ainda que também num outro espaço, ainda que de forma psicossomática. não é nada fácil lidar com isso.
a terceira coisa é a finitude das coisas, a finitude das sensações, o imediatismo dos impulsos e das sensações, que parecem acabar muito rápido o estímulo. o que quero dizer com isto, explico exemplificando, se lembra daquela coisa que desejou muito, daquela viagem tão almejada, daquela festa tão esperada, daquele encontro tão aguardado, daquele passeio no parque de diversão que te faz perder a noite de sono na véspera, daquele show que você aguarda tanto. e no momento vivendo aquilo ou acontece pequenas incompletudes ou mesmo que corram as mil maravilhas, no término fica a sensação das lembranças e do só (ou só isso)... e isto se dá muitas e muitas vezes no transcorrer de nossa vida, para não ser tão pessimista e baixo astral, junto à incompletude (alimentada por nossas inquietações) e à defasagem que escolher nos ocasionam.
há muitas outras coisas com certeza que deveriam ser consideradas, mas estas três são bem pesadas para lidar e já dão um bom caldo para absorvermos e digerirmos, ruminando involuntariamente, pois nossa maior certeza é que através da nossa passagem, todos vamos absorvendo as coisas que nos impulsionam ruminando (tudo vem e volta para que possamos processar quantas vezes forem necessárias para se tornarem os nutrientes que podemos absorver e que nem sabemos se foram os ideais).
acho que nesses momentos que tudo parece não fechar a conta, parece não nutrir nossas almas, esteja vinculado de alguma forma com estes instrumentos que nos norteiam na busca dos elementos que iremos absorver para ruminarmos e levarmos à nossa alma.
aonde vamos colher, o que vamos colher, com qual abundância é dado o alimento que extraímos pelas nossas escolhas. inquietudes e a finitude dos elementos que buscamos, nos leva também ao consumo e desgaste enorme destes elementos absorvidos, que de fato ainda temos dúvidas se não poderíamos ter pegos outros ainda mais saudáveis e palatáveis. isso consome muito das energias e faz com que tenhamos sempre a sensação de termos sidos saciados e de uma fome constante e desejos por coisas indefinidas muita das vezes. e isto é a nossa maior sina.
e fecha a conta do estupor, dessa sensação de parecer que nada dá conta o suficiente, que sempre há alguma coisa a querer, ainda que tudo esteja as mil maravilhas. explica esse sentimento de sermos insaciáveis e nunca nos contentarmos com as coisas, mesmo chegando ao nosso pico, pois o pico não significa o tudo. o pico é limitado, é uma minúscula parcela de uma infinidade de coisas que sabemos que ficaram pra trás...
e este pensar é simplista e obviamente e somente levado em consideração à nossa condição física e material de existência, que não podemos subestimar nunca, pois tem uma importância fundante, pois é deste ponto que construímos todas as nossas cognições e isto poderia ser considerada a quarta coisa a ser levada em consideração, que nos mantém em alguns momentos de nada ter acontecido, ou nada ter acontecido objetivamente como seria o nosso ideal.
a verdade é que nessa miscelânea de coisas, qual o nosso verdadeiro ideal? acho que fato nunca saberemos.
daí se justifique um pouco esses momentos da perda da referência das coisas, da gente e de tudo no universo, seja este interno ou externo, nos levando há um nihil qualquer e profundamente desolador e ao mesmo tempo inquisidor, provocante e conscientizador de nossas condições primordias, seja quaisquer que forem.
jo santo
zilá