ALVO MAIS QUE A NEVE
Sonhei com belas paisagens, prados verdejantes com campinas extensas ornada por colinas e montanhas de indescritível beleza, onde fauna e flora fazem um sincronismo perfeito harmonizando a natureza.
Não foram poucas as cachoeiras e cascatas que desenhavam o desfile dessa contemplação visual que me fazia mergulhar no imaginário.
Todavia, era como não estivesse sonhando, pois todas as imagens eram reais e me faziam sorrir de modo que eu chegava a pensar: SE FOR SONHO, TOMARA QUE EU NÃO ACORDE TÃO JÁ.
O sol brilhava tanto, mas não chegava arder-me os olhos, eu podia sentir o dilatar das pupilas na ânsia de querer enxergar mais e mais como se estivesse em êxtase, em elevado grau de deslumbre por essa fascinante visão jamais vista.
Em todo o meu existir, jamais me fora possível tal agraciamento tão visível e tão oportuno.
O verde era mais verde e todas as outras cores, fidedignas as suas matizes reais, embelezando o jardim terreno que aos meus pés pareciam aveludados cuja maciez despertava uma satisfação enorme ao caminhar, com a leveza de sentimento comparada a uma flutuação, em que eu não sentisse o toque com o solo, tão gracioso era o caminhar.
Que dimensão era aquela, onde de fato eu estava, que de tão prazeroso não pensava mais em voltar?
Ao longe de onde eu estava, eu vi pessoas vestidas de branco, cantando canções que aos ouvidos eram doces afagos melodiosos que me atraia para mais perto deles, como se meu corpo estivesse imantado, pois eu já não sentia mais o pisar. Eu estava levitando ao encontro de um grupo que foi se multiplicando, triplicando, quadruplicando, virou imensidão de uma multidão incontável.
Uma mulher aproxima-se de mim, jovem linda de um encanto dificil de narrar, seus traços eram angelicais seus cabelos brilhavam como um prisma em multicores, seu olhar me remetera a lembranças vividas e vi a candura com a qual me fitava, notei uma semelhança nela mas não tinha como ter a certeza se a conhecia ou não. O meu coração palpitava em compassos satisfatórios como se estivesse rindo por dentro de mim. Eu a reconhecia, mas não queria ter a ilusão de decepcionar-me, então fiquei estático diante dela sentindo-me atraído para um abraço.
Com a suavidade na voz que mais parecia o canto de um anjo, numa sinfonia leve carregada de muita ternura e suavidade, eu a ouço dizer tão pausadamente: Meu filho amado, bendito seja esse momento que nos une, nos interliga e nos traz um ao encontro do outro, nessa gloria de vida onde o belo é constante e onde as dores inexistem e o passado não tem motivos para ser lembrado.
Mãe? Em tremula voz, balbuciei com trêmulos lábios carregados de um sentir jamais vivenciado por mim. Ela sorri, se aproxima, me enlaça com seus braços carregados de ternura, de paz, de benção e de uma energia que fez meu corpo vibrar e eu a apertei em meus braços, glorifiquei a Deus em tê-la de volta para senti-la tão minha e tão perto de mim outra vez, n~~ao houve lágrimas, pois lágrimas não existiam.
Será que essa era a recompensa de que ela tanto falava e que sempre repetia? LEMBRE-SE; OS JUSTOS HERDARÃO A TERRA.
Então, eu percebi que aquele lugar era o céu e que eu tinha morrido e que eu tinha razão pela felicidade sentida, de não querer mais voltar. Sim, eu estava onde eu deveria estar, longe das agruras tantas, vividas num mundo de incompreensões, desamor, desilusões, solidão, sofrimento e tristezas... não....definitivamente, eu não quero mais voltar de onde eu vim.
Sim, eu estava feliz, feliz e morto para a terra que deixei para trás e que já mais valeria apena recordar(ou tentar faze-lo). Me vi em paz, e magicamente, minhas vestes embranqueceram e foi ai que eu compreendi o que tanto ouvir um hino me dizer: ALVO MAIS QUE A NEVE.
Carlos Silva