solidão trans.
há um espaço nulo, uma solidão trans
por onde tantas e tantas almas preambulam
e não é necessário que você reconheça
mas nós temos que ter isso bem claro
pois é nesse limbo que nos situamos
neste espaço paralelo que nos encaixamos
pois não há espaço real e concreto
nessa realidade ortodoxa em que nos encontramos
e é deste ponto de referência etérica
irreal mesmo
é que depositamos nossas forças
e partirmos
quase um nada temos de lugar comum
e de referência
mas de tantas coisas que depositamos nesse nada
este toma forma e plasma realidades
e espaços consistentes para nos abrigarmos
nessa solidão trans que temos
de um espaço que nunca é comum à gente
e que não faz movimento nenhum de agregar
toda uma gama de olhares
de pensares, de sentires tão concretos
tão coesos, que temos a oferecer e agregar
ao movimento desta roda
que estamos, o viver
há códigos que imporam para ser vivenciados
tão rígidos, que nossa flexibilidade
que esta fragilidade não é concebida
acho que nenhuma sensibilidade é permitida
de verdade verdadeira
a brutalidade dos fazeres, a rigidez das formas
dos seres, dos saberes, dos sentires
é o estabelecido
mas ainda bem, que este lugar comum
este espaço irrealmente material que nos abarca
serve de consolo, de espaço das nossas tradições
de nossas culturas diversas
e de nossa diversidade em nos fazermos humanos
a pasárgada que construímos para depositarmos
tudo o que poderíamos contribuir efetivamente
existencialmente
e que é renegada a chance de se fazer
presente e coexistir
à rigidez tirânica, que impõe à todos
um sofrer enclausurado, este transvestido
da forma ideal de se viver.
não há formas, há vidas a serem vividas
e deveriam ser plenamente vividas
sem lugares espaço para o refúgio
das almas perdidas
onde seu lugar de existência se torna renegada.
acho que o ser humano escolheu renegar
à toda a sua complexidade
de contribuir, por uma suposta ordem
e harmonia que lhe aprisiona e de fato
não existe.
mas tudo isto, pra falar de uma solidão
a solidão trans.
jo santo
zilá