solidão trans.

há um espaço nulo, uma solidão trans

por onde tantas e tantas almas preambulam

e não é necessário que você reconheça

mas nós temos que ter isso bem claro

pois é nesse limbo que nos situamos

neste espaço paralelo que nos encaixamos

pois não há espaço real e concreto

nessa realidade ortodoxa em que nos encontramos

e é deste ponto de referência etérica

irreal mesmo

é que depositamos nossas forças

e partirmos

quase um nada temos de lugar comum

e de referência

mas de tantas coisas que depositamos nesse nada

este toma forma e plasma realidades

e espaços consistentes para nos abrigarmos

nessa solidão trans que temos

de um espaço que nunca é comum à gente

e que não faz movimento nenhum de agregar

toda uma gama de olhares

de pensares, de sentires tão concretos

tão coesos, que temos a oferecer e agregar

ao movimento desta roda

que estamos, o viver

há códigos que imporam para ser vivenciados

tão rígidos, que nossa flexibilidade

que esta fragilidade não é concebida

acho que nenhuma sensibilidade é permitida

de verdade verdadeira

a brutalidade dos fazeres, a rigidez das formas

dos seres, dos saberes, dos sentires

é o estabelecido

mas ainda bem, que este lugar comum

este espaço irrealmente material que nos abarca

serve de consolo, de espaço das nossas tradições

de nossas culturas diversas

e de nossa diversidade em nos fazermos humanos

a pasárgada que construímos para depositarmos

tudo o que poderíamos contribuir efetivamente

existencialmente

e que é renegada a chance de se fazer

presente e coexistir

à rigidez tirânica, que impõe à todos

um sofrer enclausurado, este transvestido

da forma ideal de se viver.

não há formas, há vidas a serem vividas

e deveriam ser plenamente vividas

sem lugares espaço para o refúgio

das almas perdidas

onde seu lugar de existência se torna renegada.

acho que o ser humano escolheu renegar

à toda a sua complexidade

de contribuir, por uma suposta ordem

e harmonia que lhe aprisiona e de fato

não existe.

mas tudo isto, pra falar de uma solidão

a solidão trans.

jo santo

zilá

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 11/04/2021
Código do texto: T7229483
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