não sou.

qual a sua maior tristeza? o que acha que deu mais errado em ti?
o que deu mais errado em sua vida?
esta resposta é simples... estar num corpo em que você não se identifica, por anos e anos e anos.
há uma tristeza contida, que tudo parece ser paliativos.
e a vida se torna uma sucessão de acontecimentos, que parecem alcançar o seu objetivo, fechar a conta, ser suficiente para satisfazer, por mais tranquila e melhor que se aparente o momento.
e este olhar não diz respeito à aparência, à forma do corpo, nada disso.
está relacionado há um gênero que nunca será compreensível ter que carregar por esta trajetória.
imagine ter que responder à estímulos de todos, que insistem a te encaixar em padrões de identidade de gênero que notadamente não lhe corresponde.
sinceramente a vida se cansa e esta realidade exausta.
exausta a tal ponto que se sobrevivi às mais variadas (e até algumas involuntárias e não percebidas) violências.
o que deu mais errado nesta vida, é ser olhado por uma identidade que não possuo. mas sou preso pela forma, pelo identidade genital que trouxe, involuntariamente,
é muito ruim ter algo que não corresponde ao seu ser, algo que não permite expressar-se adequadamente, pois há tanta confusão e desencontros dos olhares, que se faz um bola de ferro gigantesca presa à perna esquerda, para acabar com todas as forças extras que possua em sua direita,
não sou o que você vê, não sou o que o simples olhar apresenta.
nesta encruzilhada de identidade, que deve sempre encontrar um denominador comum. para se tentar minimizar os efeitos danosos, há uma perda do próprio eu.
por isto não sou.
acho que muitos como eu, passamos por um não ser, por não saber a plenitude do que poderia alcançar, pela inadaptabilidade da identidade que supostamente carrega, que há uma sombra de invisibilidade do seu próprio eu.
há um simulacro que segue a vida, tentando sobreviver com sua falta de identidade, com sua asa quebrada, seu corpo quasímodo (pois é assim que o sente), esperando que algo possa salvar desse estado constante de desespero e incertezas de sentimentos que compõe cada dia que se passa.
é algo pesado de se dizer, de sentir, mas é uma parte do que a mente e o coração traz.
mas por outro lado, há uma resistência interna, que não se rende aos grilhões físicos, e deixa a alma tentar voar em outras esferas, onde a identidade que carrega é livre e encontra seus espaços de identidade e pleno amor.

jo santo
zilá
Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 11/04/2021
Reeditado em 11/04/2021
Código do texto: T7229444
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