não é lugar para fazer amizades.
não é lugar para fazer amizades...
por muitas vezes e momentos, e em meios à muitas conversas e discussões ouvi esta frase.
imediatamente junto à ela me vem à mente: e também não deveria ser lugar de acumular inimigos (imaginários ou não).
penso que não é lugar para se fazer inimigos também.
mas acho que as pessoas todas, tem em si uma balança descalibrada, que faz dela sua justa medida, e lógico que vai dar ruim.
lógico que quando se trata de si, esta balança parecerá ter um peso mais leve sobre suas coisas e o que emana.
mas ante ao alheio, sempre tenderá a ver que o peso à mais difícil de suportar e ainda mais, que o outro sempre estará tirando vantagem e roubando na pesagem pra si, em detrimento aos seus interesses.
e nestes pesos e medidas, é esquecido, que não importa o peso e o que trazemos pro mesmo lugar. tudo, mas tudo mesmo, acaba sendo compartilhado e trará efeitos para todos...
e é insano pensar, que o outro sempre tem a sua balança descalibrada, que o tem (se assim o for) intencionalmente. e que está sempre querendo ser doloso aos outros.
daí cria-se um ambiente eternamente insustentável, onde as relações nunca poderão se estabelecer de forma mais saudável, pois, sempre todos andam armados, devendo suas coisas e achando que sempre haverá motivos pra suspeitar da contribuição do outro, se esta contribuição é genuína e está à justa medida.
como se a própria contribuição fosse a mais imprescindível e de melhor qualidade possível.
daí também se transfere isto nas relações. há uma supervalorização do eu, aonde parece que o sentimento que deposita e o olhar que se tem e lança sobre tudo, é imprescindivelmente o mais assertivo e crucial, diante de tantos outros olhares. e onde a transparência e a troca limpa de ideias se perdem, na convicção ferrenha e na posição ferrenha de se achar mais certo e inteiro no rolé...
e desta forma, na vida da gente, na construção das relações, sejam quaisquer que forem, nunca o lugar será para se fazer amizades, mas o contrário é legítimo, pois o personalismo que trazemos na nossa balança interna, sempre quer se impor.
e como querer fincar sua bandeira no território que outros também pretendem ao seu olhar conquistar?
esquecendo que o espaço poderá ser comum, compartilhado, construído com a verdadeira participação e integração de todos, por uma identidade construída na concórdia e paz, que de fato não seja necessariamente para ser todos uma irmandade, mas o contrário acho também não deveria ser o vivido como normal e aceitável.
damos uma abertura e legitimidade para as toxicidades que nos rodeiam, as naturalizamos à ponto de permitir tal concepção:
este lugar não é para fazermos amigos, mas se daqui sair inimigos e contendas, tudo bem... faz parte!
é lamentável que aceitamos viver assim, nestas condições sem ao menos pararmos pra analisar o que estamos fazendo com os pesos e as medidas.
no final, quando sairmos de uma situação e formos para outras, estaremos exaustos, fadigados, esgotados, não pelo que sofremos do que vem externo, mas de como contribuímos para a constituição dos espaços que nos inserimos.
espaços estes que esperamos acumular inimizades e deixar para trás mais contendas, que vivenciamos na nossa trajetória mundo afora.
jo santo
zilá