TRILHOS E RODAS SEM RIOS
TRILHOS E RODAS SEM RIOS

Muito se fala sobre os modos que a humanidade usou para expandir seus horizontes para além das montanhas ou cânions escarpados com que se deparava e limitava o saber sobre o mundo e o que encontrar adiante, na busca da sobrevivência, que era restringida por todas as adversidades de clima, relevo, biomas ou medos, visto não dominávamos os segredos do mundo em que habitávamos.

Mas o mundo gira, enquanto translada o Sol, que também faz os mesmos movimentos, numa regra vital para tudo que há.

Muito embora os caminhos dos astros e aderentes sejam traçados no vácuo, eles servem de Norte para as reflexões que devemos ter ante os nossos destinos, que nos exigem mobilidade maior do que um simples andar, pois nos passos de outrora os avanços eram restritos ou solapados por eventuais revezes, que deixavam os grupos humanídeos expostos às intempéries de cada momento, época ou era.

E foi aí que inventaram a roda, que percorre caminhos os quais enxergamos, mas que muito mais do que enxergar, nos levou a sonhar com uma vida menos árdua ou com mais fartura daquilo que fosse preciso para subsistir ou perpetuar a nossa espécie.

E as rodas nos trouxeram os trilhos, em que um dia as locomotivas brilharam ao Sol, nos levando além dos limites que o corpo sozinho servia de trava.

Num certo momento, usamos os rios, os mares e o vento, como hélices dos nossos moinhos de sonhos, rompendo os limites de outrora. Foram tantas praias ou margens de rio, buscando a água, os peixes e as fadas que nos alimentavam o corpo e a alma.

Mas, chega o momento em que precisamos fugir da mesmice dos dias, como todos galináceos se deparam com a aurora, na trilha sonora do anunciar do dia, em que vai aguardar o entardecer para repetir a folia, pra nada mais ser.

É assim que singramos os mares, procurando novos lugares para poder renascer, em que o florescer seja com novas cores, caminhos e sabores para nos envaidecer.

Só que as águas têm curso restrito e sujeito aos ritos de transpor as cascatas, pois os rios escorrem nas matas, mas também nas planícies, enquanto se esgueiram pro mar.

Então, já não somos apenas barqueiros ou navegantes, mas também percorremos caminhos distantes, no chão e até pelo ar. Mas, nesse chão só andamos pra perto, pois temos caminhos abertos por trilhos e estradas que há. E já nem precisamos da matilha para puxar os trenós, mas sim da correia dentada ou da engrenagem azeitada, fazendo o motor só girar todo eixo motriz da energia, que nos traz muito mais que alegria, mas também a mercadoria do povo do mundo a criar, toda sorte de coisas e de mais valia, fazendo de noite ou de dia, o que precisamos para o sustentar.

E vamos nos trilhos e rodas sem rios, pois as canoas ou um barril já não competem com os metrôs ou os foguetes e jatos no ar.

Então, não estamos mais restritos à beira da água, pois os canos e todas estradas nos levam pra qualquer lugar.

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Publicado no Facebook em 22/01/2020