AINDA SOU LAGARTA SEM MEUS DENTES

AINDA SOU LAGARTA SEM MEUS DENTES
 
De repente eu como carnes, mas também mordo legumes, pois todos os meus costumes não ganhei nesses meus dias, em que são forjas do antes, já que existo desde um distante tempo, em que se foram mais rebentos do que posso imaginar.

Foram caminhos percorridos entre florestas e desertos, savanas de mil campos abertos, que hoje nem consigo imaginar, pois os bichos encontrados e invernos enfrentados se contrastam com a força que eu não tinha pra sonhar.

Mas fui dando os meus passos, vindo de todos espaços, onde a vida borbulhava em vertentes e riachos, nichos que me foram tachos pras castanhas eu assar, a partir daquele fogo que só vinha lá do céu, mas que um dia um fogaréu me ensinou a cozinhar.

E nas etapas que seguiram recriei as minhas garras, numa arcada variada para a tudo se adequar, tendo até os vis caninos, sem deixar de ter molar. E minhas unhas se encurtaram, pra poder acarinhar, permitindo que meu tato me ajudasse a enxergar, já que águia eu não sou, nem uma cobra a sibilar, mas eu mesclo meus sentidos para tudo dominar.

Mas careço de conselhos, pois é estranho o meu amar, que se faz tão doentio que a paixão tem seu lugar, pois eu mesclo o convívio de harmonia, com o chicote e o torturar, que satisfaz minhas loucuras, de um humano que já não se compraz em ser só criatura, por querer dominar o que nem compreende, pois a vida e o vácuo celeste muito mais se estende, pois vaga no além do mistério e do imaginário, que nem temos neurônios ativos e capazes de se sobrepor ao espaço cósmico que se encontra no tudo após o olhar.

E se tenho uma boca, mas estou sem meus dentes, ainda sou lagarta para me transformar, buscando razões pra sair do casulo, em que cedo ou tarde preciso de asas pra voar, abrindo minha caixa, que pode ser de sementes, ou ser de Pandora pra tudo estragar, pois alguns perpetuam o que tem que vingar, pra crescer em harmonia e se adaptar, enquanto outros se estragam e envenenam o mar, sendo sal para o solo que seria seu lar, sem se importar com o que deve se responsabilizar, pois foi essa a diferença que nos trouxe pra cá, pelas dimensões de outras vidas ou de outro lugar, para valer mesmo a pena ser um rei, se é que há, pois viver em harmonia é melhor que reinar, pois a grande alegria que levaremos pra lá, onde o descanso teremos se tivermos lugar, é deixar como exemplo o nosso agir ou pensar, pela busca da vida, na carne ou espírito, na noite ou no dia, no calor ou no frio, para sentir o arrepio que nos liga no ar, com a sensação de um pulmão no primeiro aspirar, que se contorce de dor pelo oxigênio entrar, mas que tem a certeza de que assim é que é, o seu modo ligado e de vitalizar o todo do existir, simbolicamente a pulsar, como a luz das estrelas que fico a admirar, cujos fótons me chegam para iluminar, numa luz diferente de satélites no ar, vindo como o sangue de corações a me bombardear.
 
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Publicado no Facebook em 18/12/2019