DIFÍCIL É A ARTE DE JULGAR, SE NÃO VIVERMOS O QUE PREGAMOS!

DIFÍCIL É A ARTE DE JULGAR, SE NÃO VIVERMOS O QUE PREGAMOS!

Quando o hominídeo alcançou a maturidade do domínio do fogo, da pedra lascada e do discernir os próprios atos, já não mais tão instintivos ou furtivos, ao acaso dos seus enfrentamentos, ele então pode se arvorar da possível sapiência, no seu encaminhar para o atual estágio evolutivo, que alcunhamos de 'homo sapiens sapiens'.

Mas é preciso que elucidemos o nosso passado, nessa jornada de milhares de gerações, buscando entender o porquê de nos enfrentarmos a todo momento, como se irracionais o fôssemos, muito embora estejamos no topo da cadeia alimentar.

Se somos predadores sem desafiantes, não podemos achar lógico o digladiar desnecessário, quando podemos realmente nos tolerar harmonicamente, deixando para o intelecto as discussões sobre nossos delírios, quereres umbilicais ou predomínio entre iguais, sem a tola ilusão das disputas ferozes das bestas, as quais quando imitadas nos nossos momentos de instintividade ancestral e pré-civilizatória, nos denigrem a humanidade, que se arvora da qualidade de gestores altivos da terrena criação divina, visto que só assim poderemos ter uma lógica para irmos do alfa ao ômega - do início ao fim, como diriam os gregos - e apreciarmos a noção de infinitude do Universo, diante de nossas retinas e da nossa criatividade imaginária, que imprimimos aos nossos sonhos e imaginação.

Ao desenvolvermos nosso lado cognitivo, deixando a comunicação gutural de lado, ao sairmos das profundezas dos urros lancinantes ou rosnados apenas demonstrativos de um caráter belicoso, passamos para um estágio em que norteamos nosso comportamento social com a premissa da ética e da moral entre os pares, onde a busca da felicidade comum passa a ser a tônica.

Assim, não nos cabe dualidades imbecis, nas quais as ações não combinem com o verbo, num salutar equilíbrio, que nos coloque na linha eficaz da razão, sobreposta ao intemperismo desnecessário dos que norteiam o agir ao mero sabor dos ventos ou à mudança das estações climáticas.

Ou seja, se somos onívoros conscientes, consideramos que somos aptos a todo tipo de habitat ou alimentação, equilibrando a absorção de nutrientes advindos dos reinos mineral, vegetal e animal, numa trilogia multi-facetária, na qual impomos o nosso estilo e o nosso ideário de paraíso ao meio ambiente em que nos refestelamos.

Aprendemos a adequar o que nos rodeia aos nossos gostos e necessidades. Mas ainda estamos longe de exercermos nossas virtudes perante nossa própria espécie.

É urgente que reflitam os nossas ações, buscando diferir o que seja conveniente e respeitoso, em que seja aceito socialmente em nosso "timing", do que realmente seja adequado aos propósitos inerentes a todo ser vivo, visando à perpetuação.

Todavia, ao alçarmos o degrau máximo da cadeia alimentar, passamos a ter uma responsabilidade inerente ao nosso estágio evolutivo, que é não destruir o nosso próprio lar, extraindo da terra o máximo e o salutar, visto que na natureza nada se cria, mas sim, tudo se transforma ou se molda, como um rio contorna a montanha, em seu propósito de chegar ao oceano.

Estamos ainda muito longe do apagar da nossa estrela maior, que é o Sol. Mas, também devemos estar antenados para os ciclos terrestres, aos quais já podemos imprimir nossa marca ou induzir na temporalidade das eras, acelerando ou retardando seus efeitos à nossa capacidade de sobreviver.

Não é fácil corrigir os erros dos outros, como não é prazeroso enfrentar num rinque o nosso semelhante, salvo se nós ainda estivermos a pensar como os dinossauros, crescendo as garras em vez do encéfalo.

É preciso que olhemos primeiro para o espelho, enxergando bem mais o que é oculto em nosso composto celular e etéreo, pois esse mistério tem hora marcada com a nossa jornada de vida e energia, da luz que transpassa o vácuo cósmico.

Ao nos tornarmos cada vez mais conscientes é que perceberemos sermos capazes de intervir em nossos próprios defeitos, sem esperar que os outros o façam por nós. Pois temos o arbítrio de corrigir a nossa carta de navegação, se atentos formos aos desígnios do tempo.

Mas, querer que todos os demais nos sigam é ter a presunção de deidade, se não dermos os exemplos necessários para forjar o caráter de quem nos cerca, conquistando a todos pelo amor e compaixão, que são o tempero para a imortalidade, pois a saudade só se pronuncia quando a tirania e a maldade são deixadas de lado.

Só entendendo, que as responsabilidades caminham 'pari passo' com o conhecimento, é que perceberemos que os menos afortunados do saber erudito são os mais despojados dos encargos, pois um pai sempre vai dar o cobertor ao filho de acordo ao frio que irá enfrentar.

Quem pensa que apenas frequentar os púlpitos e altares, dos templos e teatros, ou os microfones da mídia, sejam suficientes para salvarmos nossas almas, está muito enganado, pois errado mesmo é viver de mentiras, enganando a si próprio, enquanto o caminho escolhido vai se mostrando como uma avalanche em direção ao precipício, já que "beleza não põe a mesa" nem garante que o tempero escolhido seja o adequado ao prato que se quer degustar.

Por isso é impositivo que cuidemos dos nossos defeitos e nossas feridas, para que as cicatrizes não se abram ou putrefem pela gangrena. Cuidemos do corpo e também da alma, pois a virtude nos indica que o caráter dos que nos cercam serão tão melhores se os contaminarmos com nosso sincero amor, sem a presunção de sabermos a verdade, a qual só pertence a Deus.

Cuidemos da casa para aguardar o seu verdadeiro dono, como se donos o fôssemos nesse momento, pois estaremos a acalentar os que virão para o nosso lugar nessa fábrica artesanal, em que somos únicos e muitos, como as águas que vagueiam nos rios, levando os peixes e a vida pro grande banquete nas águas do mar.

Julguemos aos outros, julgando primeiro a nós mesmos, como se estivéssemos no banco dos réus a pleitear o respeito de todos os presentes, mostrando a face sem nenhuma maquiagem, só tendo a verdade como regra de ser.


Publicado no Facebook em 17/06/2019