°"ENTRE LAMBRETAS E CARANGUEJOS, O CAMINHO NOS COBRA UMA MANSA ENSEADA"°

°"ENTRE LAMBRETAS E CARANGUEJOS, O CAMINHO NOS COBRA UMA MANSA ENSEADA"°

Quando olhei para o álbum de minha jornada, logo vi aquele registro em preto & branco, bem sentado no selim de uma lambreta, a me cobrar o meu assento nas estradas e caminhos, de semáforos e encruzilhadas, donde como bem quentinho, temperados com carinho, os crustáceos sem um ninho, que me custam o gostinho de andar de lado ou de bandinha, lá no mar ou na esquina, pra chegar na enseada.

Mas não posso descuidar das puãs que me beliscam, nos rabiscos que esqueço, nas minhas trilhas lá na praia. Pois se o mar for só pra lixo, como será o final de minha jornada?

Tenho certeza de que não devo e nem posso mais chorar pelo leite derramado, troncos milenares já cortados, ou até mesmo onde foi parar tudo que havia de sobra e que achávamos que nunca faltaria.

É preciso uma nova cultura e filosofia, onde reciclo tudo o que eu tenho por valia, pois senão de heresias viverei no manguezal, já que nem folha de jornal eu terei pra ler acerca do dia, que se foi na escuridão já bem tardia, em que me levará às profundezas abissais, de onde só terei como base o que degradei, sem a coragem de ser o mantenedor.

Viver com desculpas, não nos levará ao longe, mas só nos trará mais ruínas e presságios de um fim cada vez mais próximo, pois estaremos a negociar sem sócios, o fracasso de nosso desleixo com o nosso próprio colo, de vivermos o ilusório de que tudo é para sempre.

Me angustia ver o humano avançar cada vez mais a sua profundidade neural, produzindo ainda algumas bestas, que clamam por ideologias, as quais são flashes de retardo aos nossos estágios primordiais de presença nesse ambiente terreno, como se fossem proclamas de casamento com o retrógrado, visto que devíamos estar a buscar a luz e não as trevas.

De que adianta o embate verdadeiro, de quem veio primeiro a se lambuzar de mel ou de petróleo, se agora o importante é o que sobra!

Temos sim, é de cultuarmos o que é justo e necessário para que todos possamos desfrutar com equidade das boas coisas que criamos, respeitando a todo ser humano, independente de etnia, credo ideológico ou religioso, acúmulo de bens patrimoniais ou financeiros, pois o importante que vem primeiro não deve ser o que temos, mas o que somos, pois todos bem sabem que daqui nada levamos, apenas valendo o que transmitimos aos que se lembrarão de nós como fiel e merecedor legado, recheado com o tempero da saudade benfazeja, pois terão à mesa a certeza do continuar a busca por evolução e sapiência, do que faz e propõe que seja feito, como numa estrada perfeita, que nos permita acesso ao paraíso.


Publicado no Facebook em 28/04/2019