QUANDO OS PONTOS CARDEAIS PRECISAM DE UM CENTRO, NÃO HAVERÁ COMPLETUDE SENDO INDIVÍDUO.

QUANDO OS PONTOS CARDEAIS PRECISAM DE UM CENTRO, NÃO HAVERÁ COMPLETUDE SENDO INDIVÍDUO.

Muitas pessoas vêem o mundo em pólos, mas se esquecem do que se passa nas paralelas, nas transversais, no dilatar do que pode se esconder no centro imaginário daquilo que pode ser cruzado em diagonais, já que nem tudo são extremos de longitudinais, quando temos que enfrentar as encruzilhadas da vida para entender ou distender o que pensamos ser verdade ou insanidade na vida, que nem mesmo podemos imaginar unitária, quando o mel que escorre pelos favos guardados nos tocos das árvores, precisam de conjunto, união e desafios, para enfrentar o colher minúsculo, mas sequencial, do pólen que se solta das singelas ou majestosas flores nos campos.

Ser indivíduo, unitário e sozinho, não pode servir de ninho para entrelaçar todos os vértices e linhas cruzadas pela rosa emblemática dos ventos que sopram em nossos juízos, em que às vezes nos tornam narcisos, quando deveríamos ser oceano, ou uma atmosfera abraçando, pois que ela não fala, mas age numa escala que não admite a desunião, atingindo com sua força avassaladora a toda a colmeia, sem chiliques de se demonstrar para ninguém, mas apenas acontecer.

E é nesse momento que podemos nos lembrar de um ditado que diz aos loucos espectadores de uma corrida em que se queria comparar velocidade e alcance de animais em disputa. Tendo eles colocado cachorros, emparelhados a um jabuti e um guepardo.

Não atinaram para o orgulho ou obstinação de cada um, pois que o guepardo nem sair do seu canto o fez, enquanto o jabuti também ficou a apreciar a ensandecida disparada dos cães.

Só aí é que podemos atinar para o foco que cada um pode dar ao seu papel que se quer ver representado na comédia da vida, onde se pretende objetivos de orgulho ou desapego, de vaidade ou congraçamento, pois um guepardo se mostra superior um velocidade o suficiente para não querer participar da corrida, ao passo em que o jabuti também sabe que longe se vai sem a avidez do esforço desmesurado de cães ou coelhos, pois esses se cansarão e ficarão pelo caminho, sem o alcance dos destinos almejados.

Por isso, quem fala demais dá bom dia a cavalos, e quem declama de si só expõe o orgulho dos tolos e não o dos sábios, como a cigarra que canta no verão sem lembrar do inverno que está por vir.

Todos os espaços e lados precisam de conexões, que passam por um centro que exige comunhão e conjunto, impedindo que a individualidade sobreviva, numa completude que exige a coletividade, para centrar os pontos cardeais das rosas de polens que tornam bom para a abelha apenas o que também for bom para a colmeia.

E é nesse tom que podemos estabelecer as nossas conexões, se serão das metades ou do complexo de todas as partes, pois não consigo me ver como um mel sendo eterno, ou longevo jabuti dos caminhos, se às vezes me sinto com a ansiedade dos felinos guepardos, que não se vêm no aguardo do tempo infinito, que são a promessa dos sábios conselhos dos que já passaram por todas as agruras, e dos que se aventuraram na história dos homens que almejaram a grandeza da imensidão do cosmo imaginário de uma eternidade efêmera.

Mas essa ansiedade minha e humana, mesmo sem saber se é infortúnio ou ventura, me vem a reboque, de quem tem a pressa por perceber os dias como minutos, os meses como horas e os anos como milênios, num perscrutar o tempo como amigo e aliado de quem se vê pairando no vácuo infinito à procura dos porquês da loucura de ver a humanidade sem cura na vontade insana de tomar de Deus o lugar, como se fosse possível folhear um livro que tem suas páginas ainda sem mesmo terem sido plantadas as árvores que trarão a celulose com que as tais folhas, que secarão a tinta das letras rabiscáveis, e em cujo conteúdo serão transcritos os contextos das vidas de livre arbítrio que nos foram ou serão presenteadas pelo Criador.

Talvez por tudo isso é que lacrimejo gotas salgadas de sangue, pálidas pela secura que transpira no deserto da minha solidão, como se estivesse a jejuar como João Batista no deserto eremítico de quem contrasta a solidão com a mais pura necessidade do colo dos que amamos, embalado pelo frio que queima e seca nossas peles nas noites do sertão mais agreste, nos tempos de inverno sem chuva, das sêcas persistentes, só sujeitos ao sereno testemunhado pelas estrelas cadentes, cascavéis rastejantes, buscando os ninhos de ovos dos pássaros, ou corujas e guarás a cercar suas presas para se saciarem, na esperança de que o Sol venha logo raiar, para ver o orvalho me lembrar que ainda respiro e consequentemente estou ainda vivo para nova luta travar, mesmo que seja enfrentando os algozes que passeiam nos sinédrios e palácios de tramas urdidas pelos fracos de alma e luz no caminhar.

Tudo se centra e irradia no criador e não nas suas criaturas, e isso só nos faz devermos fidelidade e agradecimento, ao contrário dos que cobram de Deus a fortuna e a fidelidade, que lhes custará a incerteza do ambicionado eterno da alma que vaga em busca da imortalidade, incorrendo nos riscos dos revezes ainda nesse plano ou dimensão de vida, como consequência da colheita do que se planta.

Publicado no Facebook em 28/07/2018