No alto da pedra grande

Nas noites de luar, onde a lua beija a terra se enfeitando de estrelas, aproveitando nossas férias, íamos à cidade de Caldas de Cipó. O ponto mais sublime e inesquecível daqueles tempos, eram as lindas historias que Vovó contava.

Eram historias bonitas, coisas pra deixar a gente feliz e nos fazer sonhar numa mágica viagem pela nossa imaginação, seguindo o som da sua voz, e as expressões tão lindas do seu doce e tão puro olhar.

Sorrindo, olhava com todo carinho e excesso de zelo para cada um de nós, que nos assentavamos ao seu lado com a grande expectativa para ouvir as suas doces narrativas.

Prontos? (Acenavamos com a cabeça afirmando que sim).

Então, vamos começar. Todos fiquem em silêncio para ouvir.

Ela dizia:

No alto da pedra, tem uma moringa encantada, onde a bela sereia sai do rio e toma a forma de uma linda mulher. Toda noite, ela entoando um canto lindo e suave, vem beber água, dessa mesma moringa, em busca do seu amado encantado.

Na pedra grande, até o vento é melodia, é sopro de brisa que fala na noite, e ecoa nas águas do caudaloso rio Itapicuru, que desce dançando ao ouvi-la cantar.

O seu canto, é uma tentativa de atrair o seu amado que nunca vem.

Ela senta na pedra olha pra lua que ilumina seu rosto e que a faz mais bonita ainda.

Ninguém pode vê-la, somente se ela permitir.

O canto da sereia se ouve daqui ate O buri, passa pela praia verde, visita o São Caetano e desce rumo a Caldas do jorro, seguindo outras águas por baixo do chão procurando o rumo do mar.

Os moradores de Mãe D'agua, vivem sonhando em ter sua cidade tão bonita outra vez, que chegam ate dizer (arrodeados na Praça que repousa as lembranças dos lindos tempos passados):

OH linda sereia, Quem dera se o seu canto, invadisse o Grand hotel, passasse pelo Radium, e visitasse nosso teatro e pudesse ver de novo o presidente Getúlio Vargas passeando pelas lindas calçadas da minha cidade.

Mas a sereia, após cantar seu canto tão bonito e tao carregado de tristeza, não ouve suas vozes nem suas preces lamentosas.

Então, ela desce da pedra caminha até o rio, entra nas águas, retoma sua forma de sereia, e desliza pro fundo do rio, de onde por um bom tempo, ainda ouvimos o seu solitário cantar.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 17/08/2019
Reeditado em 17/08/2019
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