Música e Modernidade
Sabe? A música que eu gosto é ultrapassada e fora de moda. Mas é inteligente, dessas em que o sábio do compositor e o letrista passavam meses para compô-las, e o cantor estudava as melhores formas de interpretá-las, pois sabia que seu público era exigente e não engoliria qualquer vômito por seus ouvidos. Aliás, hoje não há nada mais ultrapassado do que a inteligência humana.
Sabe? A música que eu gosto é ultrapassada e fora de moda. Mas é inteligente, dessas em que o sábio do compositor e o letrista passavam meses para compô-las, e o cantor estudava as melhores formas de interpretá-las, pois sabia que seu público era exigente e não engoliria qualquer vômito por seus ouvidos. Aliás, hoje não há nada mais ultrapassado do que a inteligência humana.
Outro defeito meu é ser discreto. Quando estou no meu carro, só ouço a minha música preferida em tom baixo. Além disso, se estou no ônibus, uso meu aparelho sonoro com fone de ouvido, que é para não incomodar os demais usuários do ônibus, da rua, do mundo. É que para mim, não importa mostrar meu pretenso bom gosto musical e nem quantos neurônios eu ainda tenho em minha memória já fora de moda.
Mas eu sei que estou completamente errado. Sei que essa minha persistência em cultivar a inteligência humana, diversificar, respeitar o próximo e não cuspir mediocridade na cara e nos ouvidos alheios já é coisa do passado, uma atitude sem importância. A onda agora é muito mais alta, faz sucesso e todo mundo gosta.
O que é música? Meu som preferido não precisa ser música e sim um belo ruído. Então que seja penetrante, bem alto e estridente, com uma só frase, repetitiva, apelativa, medíocre. Em suma, a letra tem que ser “engraçada”, em som ambiente, para que todos possam ouvir. Pois, só assim, todos poderão medi-la a qualquer hora, do dia ou da noite. Logo saberão o quanto sou interessante e como meu som é da hora! Uma vez e outra, alguém poderia até não gostar, mas não vai dizer nada, pois reclamar sobre seus direitos já seria estar fora de moda.
Ninguém vai atrever-se a isso. As pessoas geralmente têm medo de serem chatas ou deselegantes. Além de tudo, se alguém se sentir ofendido e criticar a minha falta de bom senso, eu, definitivamente, não me importo. Afinal, ser inteligente, educado e respeitar os direitos e os limites do próximo não vale mais nada. Isso tudo é coisa das antigas, e não me interessa ser antigo. Eu quero mais é ser moderno. E a modernidade é isso!