A Manifestação da Arte

(No contexto da polêmica exposição do Queermuseu no espaço Santander Cultural em agosto de 2017)

Não pretendo aqui neste espaço me apoderar da verdade, nem tampouco esgotar a discussão em torno da questão; apenas quero lançar uma luz sobre essa temática que vem ganhando atualmente vulto dada a sua repercussão principalmente nas redes sociais.

A arte como manifestação do pensamento e materialização de uma concepção individual, é por si só de natureza subjetiva, pois a percepção do seu conteúdo varia de pessoa para pessoa. O nível desta percepção está intimamente ligado ao sistema de crenças e valores que carregamos. Um símbolo nada mais é do que a representação do próprio sistema de crenças/valores numa relação de mais completa simbiose num processo de retroalimentação: a existência de símbolos reforça a nossa crença que por sua vez alimenta a existência destes mesmos símbolos.

Como vivemos numa sociedade cada vez mais simbólica, é inevitável que o artista ao se utilizar de qualquer símbolo no seu processo criativo, sensibilize o referido sistema de crenças (que tem natureza afetiva/emocional). O artista ao fazê-lo não quer deliberadamente ofender ninguém, apenas exercita o seu legítimo direito de expressão por meio da sua obra. Sendo a arte ainda de caráter libertário, transgressor no sentido de propor uma ruptura de modelos pré-estabelecidos, muitos dos quais seculares, há sempre também uma inevitável grita da sociedade mais conservadora. Reitero: a arte não quer "ferir" ninguém; está em seu DNA propor (e apenas propor) reflexões das mais variadas espécies. Eu temo que esse "patrulhamento cultural" nos leve sem sabermos ao retorno da "era das trevas", período obscuro da idade média em que a teocracia submeteu toda uma população ao jugo da ignorância, que só foi quebrada com a Renascença e mais tarde com o Iluminismo. Ao longo da evolução da humanidade, as grandes revoluções sociais só aconteceram porque movimentos libertários (também de natureza artística) emergiram do seio da sociedade e a transformaram.

Concluindo, convoco todos a refletirem sobre a questão, no sentido de discernirem uma ação orquestrada, deliberada, exclusivamente com o propósito “terrorista” da livre, legítima e autêntica manifestação do pensamento por meio da arte.

Despeço-me, deixando uma mensagem do escritor e poeta argentino Jorge Luís Borges (1899-1986): “O fato estético não pode prescindir de certo elemento de assombro”.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 19/07/2018
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