O porte de armas para a sociedade civil, deve ser liberado de forma indiscriminada?

(Uma contribuição ao debate pela ótica da prudência, sem querer esgotar a discussão do tema)

Ao defender o porte de armas indiscriminadamente, muitos se esquecem, ou parecem não considerar alguns aspectos importantes desta questão. Vamos a eles:

1) O país já tem uma estatística alta dos chamados "crimes banais", que ocorre por exemplo por uma "dose de pinga" não paga, por uma "cantada" na pessoa que o está acompanhando, por R$ 2,00, não pagos ou por outras razões esdrúxulas. Vocês já imaginaram, num país de intolerância crescente, uma simples divergência de opinião, fenômeno comum numa sociedade democrática e plural, sendo resolvida "a luz de bala" porque as pessoas “de bem” não sabem conviver com o contraditório?

2) No mesmo contexto de intolerância acirrada, será que o povo armado não vai querer praticar ainda mais o “justicianismo”, seja pela inoperância da polícia ou da justiça, ou seja por um sentimento de querer fazer “profilaxia social”? Será que “a justiça pelas próprias mãos”, será capaz, num momento de turba, de diferenciar “um “ladrão de galinhas” de um criminoso de alta periculosidade? O povo está preparado para atuar também como um juiz, condenando à morte e aplicando a pena a todos que julgarem ser ameaça à sociedade?

3) Será que não seria um estímulo ao recrudescimento de movimentos extremistas, de qualquer ideologia ou viés partidário, que veem no discurso de ódio e na violência os seus “principais argumentos”?

4) Será que também não ensejaria alguém com algum tipo de distúrbio mental a promover um massacre como infelizmente aconteceu recentemente em Las Vegas e que todos nós acompanhamos estarrecidos, pelo noticiário, “lamentando” o fato de alguém conseguir montar um arsenal pela facilidade de adquirir legalmente armas e munições?

Essas são apenas algumas questões que ponho na mesa de discussão.

Não quero ser o dono da verdade, nem insensível àqueles que perderam entes queridos por força da covardia de alguns ou da incapacidade de defesa das vítimas. Entendo a dor de muitos e sou solidário; mas entendo também que não podemos combater um incêndio jogando gasolina nas chamas. Vamos lutar por uma polícia melhor, mais bem aparelhada e ostensiva; por uma justiça mais célere e “mais justa”, por um sistema prisional que não seja um “depósito de pessoas” e que ofereça tratamento diferenciado aos crimes de diferentes potenciais ofensivos, não “misturando” pessoas que podem e devem ser recuperadas socialmente com pessoas “incorrigíveis”.

A problemática que envolve o direito de acesso às armas e o seu porte, deve ser tratada pontualmente, analisando-se cada a caso, e não como “política pública” de combate à violência, num exercício oportunista de populismo político ou ideológico, alimentado principalmente em períodos eleitorais.

Caso a tese do “armamento” geral” vença, como defendem pessoas ligadas à “bancada da bala”, no Congresso Nacional ou à indústria bélica (em maior ou menor escala), será definitivamente a falência do poder público como agente garantidor da segurança. Estaremos irremediavelmente dando passos largos à era da barbárie, numa reedição contemporânea do enredo dos velhos filmes de faroeste americano, onde os conflitos que vinham que vinham à baila vinham também com a resolução à bala, ou ainda, retrocedendo no relógio da história, a modernização do remoto Código de Hamurábi, com a sua famigerada Lei do talião: "Olho por olho, dente por dente".

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 18/07/2018
Reeditado em 18/07/2018
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