A Propriedade das Cotas Raciais e a Análise de Desempenho
Quando falamos, no contexto da sociedade e de uma política inclusiva para determinadas etnias, notadamente os negros, devemos ter sempre em mente uma diferença básica na interpretação da questão racial: a oportunidade (o acesso à informação, ao mercado de trabalho, etc.) versus a avaliação do desempenho do negro nas diversas funções. É muito importante termos a percepção clara de que ações ou políticas inclusivas não significam um tratamento mais benevolente para as pessoas de pele mais escura em detrimento do branco, por exemplo. Se, ao dar oportunidade a um profissional negro, este, no exercício do trabalho, não corresponder às EXPECTATIVAS TÉCNICAS criadas, deve ter o mesmo tratamento que um profissional branco teria na mesma circunstância, ou seja, sem condescendência pelo fato de ser negro, mas também sem estereótipos, pela mesma razão.
Ninguém está pedindo tratamento diferenciado para os negros, nem tampouco favor. Apenas uma questão de justiça social a uma grande parcela da população que foi histórica e literalmente maltratada e marginalizada pela sociedade e só começou a revelar o seu valor muito depois da libertação da escravidão, pois a sociedade dominante, branca, tinha um olhar refratário que impediu a projeção dos negros imediatamente ao 13 de maio de 1888. A população negra, liberta, apenas formalmente com a lei áurea, se estabeleceu nos morros e periferias das vilas e das cidades, não por uma questão de OPÇÃO, mas, e principalmente por FALTA DELA.
Muitos são flexíveis ao avaliar o progresso tecnológico, científico, cultural, político do Brasil em relação a outros países, notadamente, os de primeiro mundo. Atribuem, com certa razão, ao processo de colonização predatória do país, à corrupção endêmica trazida nas caravelas e naus do Cabral e potencializada com a chegada da família real em 1808, ao atraso da inserção brasileira no mundo globalizado, a balzaquiana democracia do país, dentro outros fatores. Porém quando o olhar é lançado para o tecido social de textura mais escura, este olhar torna-se convenientemente míope. Ainda que alguns casos, o argumento isolado do racismo tenha sido (ou venha sendo) usado indevidamente como uma espécie de escudo para legitimar alguma suposta injustiça sofrida por um negro devido a cor da sua pele, isso aconteceu ou acontece, apenas de forma pontual e não representativa.
Concluindo, não basta apenas, a uma RAÇA secularmente oprimida no Brasil, que a sociedade economicamente de supremacia branca aponte a PORTA de acesso a um mundo mais justo. ELA sabe o caminho. É preciso também GARANTIR o acesso a esta PASSAGEM e fundamentalmente possibilitar aos homens e mulheres negras o direito a usar a chave, pois, infelizmente, para eles, a tão desejada porta na maioria das vezes encontra-se TRANCADA.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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