A Neurose da Competitividade

A internet tornou o comportamento competitivo extremamente voraz. Cada pessoa precisa se afirmar e ser reconhecido de alguma forma perante os outros, demonstrando ser uma autoridade em algum assunto. Quando surge alguém com uma visão divergente, é comum ser visado de maneira agressiva e ofensiva. Essa é uma das bases que justificam as ações dos "Haters", segundo a minha concepção. Não há mais espaço para errar ou expressar uma opinião sem sofrer perseguição ou humilhação. O mundo está em um estado generalizado de pessoas ansiosas pelas cobranças das outras e, à medida que não conseguem suportar tal pressão, também se tornam depressivas ou neuróticas.

Sabem o que é mais engraçado nessa situação? A simplicidade da solução. Ela consiste, em primeiro lugar, em sermos honestos com nós mesmos e admitirmos as nossas próprias fraquezas. Por mais inteligente que uma pessoa seja, ela não é onisciente; por mais conhecimento que possua, ela não é onipotente. Não estou falando de Deus aqui, refiro-me a atributos absolutos de perfeição ou infalibilidade. O mundo exige que se acerte sempre e que se esteja certo o tempo todo e isso que está acabando com a saúde mental de toda a sociedade. Contudo as mesmas pessoas que são exigidas e cobradas são as mesmas que exigem e cobram gerando um ciclo vicioso provocado pelo medo - o medo do Outro. Por desconhecermos o fato de que o Outro também sofre desse mesmo medo - só que de nós - deixamos de desenvolver empatia e, ao mesmo tempo, acabamos com a possibilidade de construir uma relação honesta, verdadeira e saudável.

Para que tal relação possa acontecer, vejo dois caminhos: ou reconhecemos a falibilidade do Outro como algo natural e intrínseco a nós mesmos, através de uma identificação honesta de nossa compartilhada condição humana, ou, então, basta que admitamos para o Outro que nós, afinal, somos de fato falhos e imperfeitos, assim como ele. Desta forma, o Outro teria a oportunidade de se reconhecer em nós mesmos, uma vez que o seu medo pelo desconhecimento acerca de nossa natureza seria desvelado, desmistificado perante os seus olhos. Enfim, eu vejo que o Homem, nos dias de hoje, criou o mito do Homem dentro de si mesmo. Dada tal situação, cabe a nós, filósofos e cidadãos engajados, lançar por terra esse mito revelando aos outros os limites de nossa própria ignorância, de maneira aberta, escancarada, e sem medo para que a humanidade se livre dessa neurose cujo cerne está, precisamente, naquilo que é a nossa responsabilidade e dever combater: A própria ignorância.

Arthurx
Enviado por Arthurx em 26/04/2018
Código do texto: T6319228
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