Elemento de Transição: Classe Média

É possível observar ao longo da história, as formas como determinados grupos impuseram seu domínio. Se pensarmos em comunidades primitivas e em obras que abordam o domínio patriarcal, podendo recorrer a obras como a do Friedrich Engels, “A origem da família, da propriedade privada e do estado”, ou mesmo se pensarmos em Pierre Clastres, “A sociedade contra o Estado”, teremos abordagens sobre essa lógica de poder entre grupos distintos. Não podemos deixar de lado a visão macro de Marx acerca da luta de classes, o que faz com que este ensaio procure evidenciar uma possibilidade sob esse viés.

Se analisarmos a forma como se estrutura a sociedade a partir do chamado Feudalismo, podemos observar uma sociedade que se forma ainda mais dependente de estruturas que eram estratificadas como de níveis inferiores, como é a vassalagem em relação ao suserano. Claro que não descartarmos sociedades como a egípcia, pensando no Egito Antigo, e sua dependência de mão de obra escrava. Apesar dessa relação evidente, o poderio dos faraós acaba se distinguindo de outras camadas sociais com intuito de criar essa ideia de desvinculação. No Feudalismo, bem como a visão religiosa, especificamente a cristã, demonstra essa ideia de pertencimento de todos a um mesmo conjunto de ordenação social, criando um pertencimento não apenas do vassalo, mas também dos que administram esse tipo de estrutura, criando uma necessidade de dar voz aos plebeus posteriormente, já que a dinâmica social faz com que a união entre grupos distintos seja fomentada.

Tal dependência política de grupos considerados inferiores, fez com que surgisse em especial a ascensão de classes, criando a expansão burguesa que eclodiria com a Revolução Francesa. Não seria mais possível retirar os privilégios oferecidos a burguesia e o aumento de poder acabou criando a queda dos sistemas monárquicos e provocando a diminuição do domínio clerical. Só a complexidade de tais relações, bem como o predomínio da alta burguesia francesa, estruturaram novas relações, para que articulassem laços de poder e sustentassem a base de seus domínios.

A questão é que da mesma forma, a burguesia precisou criar vínculos com outras esferas sociais, não apenas fornecendo direitos as classes outrora subalternas, como aumentando o poder do elemento de transição entre o seu estado de submissão e de posterior controle na sociedade do capital. Os burgos fortaleceram a monarquia para continuarem expandindo, até criar o efeito reverso, onde deixam de ser um elemento agregado e buscam sua emancipação. A classe média, herdeira dessa pequena burguesia, também se apresenta como incentivador do poder vigente e fiel escudeiro, mas cada vez mais exige direitos e busca sua ascensão.

Não se trata de uma questão apenas de segurança, já que exércitos fizeram parte de todas essas sociedades, mas que cada vez mais existe uma necessidade de apoio popular e que determinados grupos, que oscilam entre extremos em uma luta de classes, acabam sendo peças fundamentais na forma como as disputas de poder ocorrem. Marx já havia desvendado o mistério, de que é das mãos do proletariado que vem o fim desse ciclo vicioso de rapinagem, já que o poder estaria fragmentado ao máximo, ao ser distribuído no grupo de maior contingente populacional.

Fica a reflexão acerca das novas tendências. Se a classe média e seu ranço reacionário promoverão ainda alguma nova forma de revolução, ou serão apenas um apêndice da burguesa, como foi o absolutismo, em que o desespero da classe dominante, ao ver ruir seu império, buscar novas alianças para consolidar um poder esmagador e que ao mesmo tempo será a sua própria derrocada? Inflamarão as classes subalternas para sua própria ascensão ou se unirão de vez aos conservadores carrascos? O próprio Marx deixou claro que é da própria burguesia que nascerá sua própria contradição, sendo vista como a formação da classe trabalhadora. Mas o que ainda estará por vir nesse teatro da tragédia humana? Teremos ainda a revolução dos especialistas, com sua meritocracia fajuta enrolada embaixo dos sovacos e a medicalização do proletariado, transformando-os em dóceis zumbis? Devemos esperar aquela revolução aos moldes gregos, de forma cíclica? Se assim for, ainda resta a revolução do povo, a verdadeira Democracia e não essa representatividade de faixada.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/06/2017
Código do texto: T6027176
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