Camilo Castelo Branco e a construção de um herói popular: o caso de José do Telhado
Introdução
No começo do século XIX, num período marcado pelas invasões francesas em Portugal (1807-1814), perante a completa falta de reação do exército português aos exércitos de Napoleão Bonaparte, grupos de populares revoltam-se e procuram quebrar a total impunidade dos invasores, formando verdadeiras milícias populares, que, após 1814, devido à experiência de guerrilha adquirida e consolidada durante as aludidas invasões, são aproveitadas pelas partes envolvidas na guerra civil liberal que então grassa o país, estando na origem do futuro fenómeno organizativo de formação espontânea de grupos de assaltantes que se irão disseminar pelo território português até meados do século em apreço (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
É neste contexto que iremos encontrar José Teixeira da Silva, mais conhecido pela sua alcunha de “José do Telhado” ou “Zé do Telhado”, que, para esquecer mágoas amorosas, se alista na vida militar, alcançando as divisas de sargento e sendo condecorado com a Ordem da Torre e Espada, por ter salvado, em 1846, a vida ao Visconde de Sá da Bandeira, de quem era então ordenança (“Telhado, José do,” 1988, “Telhado, José do,” 1991). Contudo, não será pelos seus feitos militares heroicos que José do Telhado se tornará conhecido, mas sim pela sua atividade enquanto salteador e chefe de quadrilha, tendo efetuado, na região norte de Portugal, mais concretamente nas terras de Entre Douro e Minho (“Telhado, José do,” 1991), um grande número de assaltos, com o propósito de, segundo reza a lenda popular, qual Robin dos Bosques nacional, “roubar aos ricos para dar aos pobres” (Contribuidores da Wikipédia, 2016; “Telhado, José do,” 1988, “Telhado, José do,” 1991; Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b)
No entanto, apesar da fama de salteador que granjeou na época, será na sequência da sua captura e prisão, em março de 1859, pelas atividades criminosas que vinha desenvolvendo, que José do Telhado conhece, na Cadeia da Relação do Porto, o escritor romântico Camilo Castelo Branco, também ele preso na altura no âmbito de um processo por adultério com Ana Plácido, na sequência de queixa apresentada pelo marido desta última (Castelo Branco, n.d.-b; Contribuidores da Wikipédia, 2016; “Telhado, José do,” 1988; Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), com quem irá estabelecer e firmar uma amizade à qual o escritor faz referência na sua obra as Memórias do Cárcere (Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b), onde imortaliza os feitos heroicos de José do Telhado, num capítulo que lhe é inteiramente dedicado (Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b), deixando para a história e cultura popular a imagem de um herói, à semelhança do famoso herói-bandido da Idade Média Robin dos Bosques, que roubava aos ricos para poder ajudar os mais desfavorecidos (Andrade, 2014).
Embora José do Telhado tenha ficado no imaginário popular como uma espécie de justiceiro do povo, cuja heroicidade é reforçada através do discurso literário, que a realimenta e promove a sua divulgação (Andrade, 2014), como acontece, por exemplo, nas Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco (Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b), importa, à luz dos factos, compreender onde termina o homem e começa a personagem heroica do salteador em apreço.
Nesse sentido, partindo da apresentação histórica de José Teixeira da Silva, mais conhecido como José do Telhado, assim como dos processos que constam do acervo dos Tribunais do Distrito do Porto relativos ao salteador em apreço e a Camilo Castelo Branco (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a, n.d.-b), que estão na origem do conhecimento e estabelecimento de uma amizade entre ambos durante a respetiva permanência na Prisão da Relação do Porto (Alvim, 2008a, 2008b; Andrade, 2014; Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b; Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a), o presente ensaio pretende, por um lado, analisar como foram transpostos os atos praticados por José do Telhado na narrativa feita por Camilo Castelo Branco nas suas Memórias do Cárcere (Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b), que confere ao salteador o estatuto de herói popular que ficou na memória coletiva, e, por outro, tentar compreender, dentro do possível e considerando os poucos documentos a que tivemos acesso, como o próprio José do Telhado viu os atos por si cometidos, assim como o respetivo castigo que lhe foi aplicado.
Apresentação de José do Telhado: enquadramento histórico
De acordo com Andrade (2014), José Teixeira da Silva, conhecido e consagrado no imaginário popular como José do Telhado, nasceu, em 1816, na freguesia de Castelões de Recesinhos, concelho de Penafiel, na localidade do Telhado, onde, ao contrário do que acontecia noutras localidades próximas, em que as coberturas das casas eram, normalmente, feitas com colmo, já existiam algumas casas com cobertura de telha , advindo daí, muito possivelmente, o apelido popular de “Telhado” com que ficou conhecido pelos seus contemporâneos e para a posteridade (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1988, “Telhado, José do,” 1991).
Nos pormenores da sua biografia cruzam-se, por um lado, os dados históricos comprovados e, por outro, a lenda (“Telhado, José do,” 1991), pelo que nem sempre é fácil fazer a distinção entre o homem real e a personagem heroica popular do salteador José do Telhado. Contudo, não obstante as dificuldades em apreço, os registos históricos confirmam a existência de José do Telhado, assim como a sua fama pelas ações de banditismo que levou a cabo, enquanto chefe de quadrilha, nas terras de Entre Douro e Minho (“Telhado, José do,” 1991), “(…) ficando [notabilizado] no imaginário popular, como o Robin dos Bosques português, [que se transformou em] controversa personagem histórica[,] [acumulando] honras e vilanias, [assim como] apaixonados defensores e implacáveis inimigos (…)” (Andrade, 2014).
Segundo consta, as atividades criminosas e a vida à margem da lei já estavam enraizadas na família do salteador português: o seu pai, embora escondendo habilmente dos filhos a sua participação em atividades criminosas, procurando dar-lhes uma educação esmerada, também terá levado um modo de vida semelhante ao de José do Telhado, sem, contudo, granjear a notoriedade conseguida por este último (Castelo Branco, n.d.-b; “Telhado, José do,” 1991).
Segundo consta, as atividades criminosas e a vida à margem da lei já estavam enraizadas na família do salteador português: o seu pai, embora escondendo habilmente dos filhos a sua participação em atividades criminosas, procurando dar-lhes uma educação esmerada, também terá levado um modo de vida semelhante ao de José do Telhado, sem, contudo, granjear a notoriedade conseguida por este último (Castelo Branco, n.d.-b; “Telhado, José do,” 1991).
De origens humildes, irrequieto e insofrido, aos catorze anos foi viver com um tio seu no lugar de Sobreira, na freguesia de Caíde de Rei, com o objetivo de aprender o ofício de castrador e tratador de animais (Andrade, 2014; Contribuidores da Wikipédia, 2016; “Telhado, José do,” 1991). Durante esse período, para além de aprender o ofício em questão, acaba por se apaixonar pela sua prima Ana de Campos Lentine, pedindo a mão da mesma em casamento a seu tio, que, contudo, lhe nega o pedido e o manda embora (Andrade, 2014).
Assim, para as esquecer mágoas amorosas e conquistar a credibilidade de seu tio com vista a obter a anuência para o casamento com a sua prima Ana de Campos Lentine, viaja de Sobreira para Lisboa, onde se alista no Regimento de Lanceiros da Rainha, iniciando então uma carreira militar, na qual acaba por se destacar pelos seus feitos heroicos e pela sua valentia no campo de batalha, granjeando o respeito dos seus pares e dos superiores, e alcançando as divisas de sargento (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1988, “Telhado, José do,” 1991). Nesse período, combateu com bravura e distinção nas lutas civis que se seguiram à vitória do liberalismo e chega a estar exilado em Espanha, de onde regressa, em 1846, para ser condecorado com a Ordem da Torre e Espada, por ter salvado a vida ao Visconde de Sá da Bandeira, de quem era então ordenança (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1988, “Telhado, José do,” 1991).
Entretanto, conquistada a credibilidade junto do seu tio e obtida a anuência para casar com a sua prima Ana de Campos Lentine, regressa a casa, atendendo a um pedido da sua futura esposa, e abandona a vida militar para se dedicar à família, que, com os cinco filhos que o casal entretanto terá, em breve se torna numerosa (Andrade, 2014; Contribuidores da Wikipédia, 2016). Contudo, apesar do retorno à vida familiar, fruto dos seus hábitos aventureiros, assim como do seu temperamento impulsivo, indomado e excessivamente generoso, acaba por se ver novamente atraído para ações de combate, desta feita ao lado dos chamados “Setembristas”, também conhecidos como “Patuleias”, contra os “Cabralistas”, chegando ainda a participar na insurreição que ficou conhecida para a posteridade como a da “Maria da Fonte” (Andrade, 2014).
Neste cenário, face aos aludidos hábitos aventureiros de José do Telhado, que, com o tempo, o levaram a dissipar os seus bens e a envolver-se em dívidas e com credores, começam a escassear os recursos necessários para manter o sustento da sua mulher e dos seus cinco filhos, levando a que o mesmo procure auxílio junto dos amigos, sem, contudo, o conseguir obter (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1991).
Assim, sem meios para garantir o sustento da sua família e perseguido pelos credores, bem como pelos opositores políticos, José do Telhado acaba por seguir a via da criminalidade, transformando-se o valoroso combatente num temível chefe de quadrilha e salteador de estradas (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1991). Contudo, apesar do sucesso inicial nesta sua nova atividade, em 1849, é forçado a fugir para o Brasil de forma a escapar à justiça, de onde regressa, dois anos depois, para retomar as atividades criminosas que vinha desenvolvendo nas terras de Entre Douro e Minho, que incluíam a prática de assaltos, roubos e assassínios (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1991).
Entretanto, com base na sua experiência militar, consegue consolidar a liderança na quadrilha, elaborando e impondo um código moral rigoroso aos membros do seu grupo e fomentando/desenvolvendo uma espécie de banditismo social (Andrade, 2014), em que passa não só a garantir a justa repartição do produto dos assaltos pelos membros do bando, mas também a partilhar parte desse produto pelos mais desfavorecidos, conseguindo, desta forma, construir uma imagem popular e, simultaneamente, temida, que lhe permite saltar da vida real para entrar no imaginário popular, nomeadamente, através dos romances-folhetim , que passaram a contar as aventuras e feitos de José do Telhado e da sua quadrilha, apresentando-o, muitas vezes, como uma espécie de Robin dos Bosques português, que roubava aos mais abastados para dar aos mais pobres (Andrade, 2014; “Telhado, José do,” 1991).
Em 1859, quando tentava fugir novamente para o Brasil, José do Telhado é finalmente detido pelas autoridades, na sequência de uma denúncia, sendo enviado para a Prisão da Relação do Porto, onde conhece Camilo Castelo Branco, na altura preso por motivo de adultério com Ana Plácido, na sequência de queixa apresentada pelo marido desta última (Castelo Branco, n.d.-b; Contribuidores da Wikipédia, 2016; “Telhado, José do,” 1988; Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), “(…) que traça dele o perfil de um homem generoso e esmoler (…)” (“Telhado, José do,” 1991), em que os menos favorecidos “(…) acharam sempre (…) a ardente caridade que seria a glória e o céu de um justo (…)” (Castelo Branco, n.d.-b, p. 60), e imortaliza os seus feitos heroicos, num capítulo das Memórias do Cárcere (Castelo Branco, n.d.-a, n.d.-b), que lhe é inteiramente dedicado, deixando para a história e cultura popular a imagem de um herói, à semelhança do famoso herói-bandido da Idade Média Robin dos Bosques, que roubava aos ricos para poder ajudar os mais desfavorecidos (Andrade, 2014).
Será ainda Camilo Castelo Branco que, por um lado, face às dificuldades financeiras de José do Telhado para assegurar um defensor no seu processo judicial e, por outro, num gesto de gratidão pela proteção que lhe foi oferecida pelo salteador durante os tempos que passaram juntos no cárcere, compartilha com ele o seu advogado de defesa, Dr. Marcelino de Matos, que consegue salvar o quadrilheiro da forca, embora o mesmo acabe por ser condenado, após alguns recursos e revisões da sentença inicial, a uma pena final de degredo, pelo período de 15 anos, na África Ocidental Portuguesa (“Telhado, José do,” 1991; Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), para onde é enviado em 28 de setembro de 1863 (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), retomando a atividade de combatente destemido, desta feita do lado da lei, contra os indígenas insurgentes na região do Ambriz, ao mesmo tempo em que vai desenvolvendo atividade como comerciante e levando uma vida desafogada, até à sua morte, em Malange, aos cinquenta e sete anos de idade, vítima de varíola (Contribuidores da Wikipédia, 2016; “Telhado, José do,” 1991).
Os processos de José do Telhado e de Camilo Castelo Branco: a Cadeia da Relação do Porto como ponto de partida para a amizade entre o escritor e o salteador
De acordo com os arquivos dos Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a, n.d.-b), o processo de José do Telhado iniciou-se em 30 de maio de 1859, cerca de oito anos depois do regresso do salteador português da sua fuga para o Brasil em 1849, tendo sido efetuada a acusação pública em 9 de dezembro de 1859 (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), que culminou com a condenação do acusado, em 1861, por sentença do juiz António Pereira Ferraz, na pena de trabalhos públicos, por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das respetivas custas (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b). No entanto, embora mantendo a pena em apreço, o Tribunal da Relação do Porto irá substituir, numa primeira fase, a expressão “costa ocidental de África” por “Ultramar” (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), acabando por, posteriormente, comutar a pena aplicada, por acórdão do mesmo Tribunal, de 11 de agosto de 1865, na de quinze anos de degredo para a África Ocidental Portuguesa, com efeitos a partir de 11 de agosto de 1865, inclusive (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
A condenação em apreço foi reportada a diversos crimes violentos (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), entre os quais se destacam os seguintes:
- Tentativa de roubo, com começo de execução, em casa de António Patrício Lopes Monteiro, de Santa Marinha do Zêzere, comarca de Baião (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b);
- Homicídio de João de Carvalho, na altura criado de D. Ana Victória de Abreu e Vasconcelos, de Penha Longa, Baião, pelo qual acabou por ser responsabilizado devido à sua qualidade de chefe do bando, assim como o roubo, na casa da mesma senhora (Casa de Carrapatelo), de objetos de ouro e prata, num valor estimado em cerca de oitocentos mil e um conto de reis, e de algumas sacas com dinheiro, cujo valor, à falta de uma estimativa exata, se calcula em doze contos de reis (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b);
- Roubo em casa do Padre Albino José Teixeira, de Unhão, comarca de Felgueiras, no valor de um conto e quatrocentos mil reis em dinheiro, bem como de objectos de prata e ouro (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b);
- Homicídio de um correligionário de José do Telhado, ferido num confronto com as autoridades (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b);
- Autor e chefe de associação de malfeitores (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b);
- Tentativa de evasão do reino sem passaporte e com violação dos regulamentos policiais (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
Ainda de acordo com os arquivos dos Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b), a atividade de José do Telhado e do seu bando enquadra-se no fenómeno organizativo de grupos de assaltantes que encontram a sua origem no começo do século XIX, num período marcado pelas invasões francesas em Portugal (1807-1814), em que, perante a completa falta de reação do exército português aos exércitos de Napoleão Bonaparte, grupos de populares se revoltam e procuram quebrar a total impunidade dos invasores, formando verdadeiras milícias populares, que, após 1814, devido à experiência de guerrilha adquirida e consolidada durante as aludidas invasões, são aproveitadas pelas partes envolvidas na guerra civil liberal que então grassa o país (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b). Estes grupos, terminadas as aludidas invasões e guerras, aproveitando o gosto e o proveito das suas atividades de guerrilha, mas, desta feita, por conta própria, irão proliferar pelo território nacional até meados do século XIX, deixando para a história o nome de salteadores famosos, como são o caso de João Barandão, mais conhecido como o Remexido, e de José do Telhado, entre outros (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
Por fim, ainda relativamente ao processo de José do Telhado, fica a nota de indícios de uma cultura acima da vulgaridade por parte do salteador, que “[usava] evoluída assinatura, com o último apelido abreviado (S.ª) (…)” (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
É no processo de Camilo Castelo Branco, do Tribunal Criminal, 1.º Distrito do Porto, que nos surge a referência ao facto do escritor e de José do Telhado terem tido como advogado defensor o Dr. Marcelino de Matos (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a). Na altura, Camilo Castelo Branco encontrava-se preso na cadeia da Relação do Porto, no âmbito de um processo de querela, por motivo de adultério, instaurado na sequência de queixa apresentada por Manuel Pinheiro Alves, marido de Ana Plácido, contra esta e o escritor, que culmina com ambos a serem pronunciados por decisão do Tribunal da Relação do Porto, ela por adultério e ele por ter copulado com mulher casada, recolhendo ambos à prisão da Relação do Porto (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a), onde Camilo conhece então o salteador José do Telhado, com quem acaba por estabelecer e firmar uma relação de amizade (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a).
Durante o período de um ano de dezasseis dias em que permaneceu preso, Camilo Castelo Branco, receando que o tio de Ana Plácido, que esteve na base da descoberta da situação de relação adúltera, pagasse a alguém, dentro da prisão, para o matar, irá contar com a proteção de José do Telhado, que, ouvindo os receios do escritor, o sossega, dizendo-lhe “(…) que estivesse descansado, pois, se alguém ali lhe tocasse com um dedo, três dias e três noites não chegariam para enterrar os mortos (…)” (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a). Este facto acabará por estar na origem da gratidão de Camilo ao salteador, levando a que, conhecendo as dificuldades financeiras de José do Telhado em conseguir um defensor condigno para o seu processo, partilhasse com ele os serviços do seu advogado, Dr. Marcelino de Matos, que o defende eloquentemente, livrando-o da forca, mas não, conforme já referimos, do degredo, pelo período de quinze anos, na África Ocidental Portuguesa (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-a).
Camilo Castelo Branco e a construção do herói popular José do Telhado nas suas Memórias do Cárcere
Antes de avançarmos para a análise da representação literária de José do Telhado nas Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco (Castelo Branco, n.d.-b), importa começar por enquadrar o escritor, assim como a sua obra, no movimento artístico/literário em que o mesmo se insere. Nesse sentido, começaremos por referir que Camilo Castelo Branco foi uma das figuras de relevo da segunda geração do Romantismo em Portugal, tendo encontrado na sua vida agitada e romanesca a melhor fonte de inspiração para a sua obra (“Castelo Branco, Camilo,” 1991), como aconteceu, a título de exemplo, com as Memórias do Cárcere, cuja inspiração deriva do tempo que passou preso na cadeia da Relação do Porto e dos conhecimentos e amizades que ali fez, e que alimentaram, em larga medida, a obra em apreço (Castelo Branco, n.d.-a).
No que concerne ao Romantismo, importa referir que “(…) foi um movimento artístico, político e filosófico que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América nas últimas décadas do século XVIII, tendo perdurado durante grande parte do século XIX. O nome deste movimento decorre do termo “romance” (história de aventuras medievais), que, respondendo ao crescente interesse pelo passado gótico e à nostalgia da Idade Média, teve uma grande divulgação no final do século XVIII. Inicialmente, começou por tratar-se apenas de uma atitude e de um estado de espírito, mas, mais tarde, acabou por assumir a forma de um movimento, passando a designar toda uma visão do mundo centrada no indivíduo e sustentada filosoficamente em três pilares: o individualismo, o [subjetivismo] e a intensidade. Assim, contra a ordem e rigidez [intelectual] clássica, os artistas deste movimento imprimiram maior importância à imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais acreditavam poder atingir o sublime e o genial. Esta nova visão romântica do mundo trazia associada a ideia de que a natureza era inspirada pelo espírito divino, que a imaginação humana podia fundir-se com a estrutura universal e que a mente criativa, sendo profundamente solitária, ansiava pela harmonia entre o homem e a natureza” (Santos, 2009).
Assim, o primeiro aspeto que nos chama a atenção no tratamento que é dado por Camilo Castelo Branco à personagem de José do Telhado, no capítulo que lhe dedica nas suas Memórias do Cárcere (Castelo Branco, n.d.-b), é o fascínio exercido pelo salteador sobre o escritor, sendo de destacar, entre outras, as referências feitas por Camilo à figura imponente e assustadora de José do Telhado, assim como à sua generosidade e valentia (Andrade, 2014).
Neste sentido, logo na abertura do Capítulo XXVI das Memórias do Cárcere (Castelo Branco, n.d.-b), inteiramente dedicado a José do Telhado, o escritor revela a sua simpatia pela figura do salteador (Andrade, 2014), apresentando-nos um José do Telhado vítima das injustiças de uma pátria, onde prolifera o tratamento desigual entre os salteadores de origens humildes e os criminosos da alta sociedade, que, fruto da sua pequenez cultural e social, não consegue estar à altura daquele que é apresentado como o maior e o mais afamado salteador do seu tempo, negando-lhe o reconhecimento merecido que lhe concederia o vulto de herói romântico (Andrade, 2014; Castelo Branco, n.d.-b).
Feita a apresentação inicial do salteador, Camilo Castelo Branco avança então para história de José do Telhado (Castelo Branco, n.d.-b), apresentando-o como uma vítima das circunstâncias, que, não obstante as qualidades que possuía, se vê dramaticamente e irremediavelmente à mercê das circunstâncias (Santos, 2009), acabando por se tornar num salteador (Andrade, 2014). Nesse sentido, o escritor começa por fazer referência ao pai de José do Telhado, conhecido capitão de ladrões, de seu nome Joaquim do Telhado, cuja atividade criminosa apresenta um cariz nobre, em virtude de ser direcionada aos invasores franceses, que ele matava na qualidade de membro da nação espoliada, chamando a si, segundo as palavras do autor, somente o que pertencia à fazenda nacional (Castelo Branco, n.d.-b). Contudo, ainda de acordo com o escritor, apesar da nobreza subjacente às atividades criminosas de Joaquim do Telhado, este procurava esconder habilmente dos filhos o seu ofício (Castelo Branco, n.d.-b).
Neste capítulo, com vista a reforçar a linhagem nobre e valente de José do Telhado, o escritor, por um lado, faz ainda referência a um tio-avô de José do Telhado, de seu nome Sodiano, que também teria sido um valente salteador na região do Marão, onde manteve atividade durante muitos anos, e, por outro, entrando nos mitos da Antiguidade Clássica e mais concretamente no mito da fundação da cidade de Roma, afirma ser possível encontrar um antepassado de José do Telhado naquela cidade, a participar no famoso episódio do Rapto das Sabinas (Pereira, 2002, pp. 28–29), eternizado pelo poeta romano Vergílio, na descrição do Escudo de Eneias (Vergílio, 2005, p. 167).
Destarte, embora inicialmente o relevo da ascendência de José do Telhado pudesse, numa perspetiva determinista, ensombrar-lhe o futuro, tal não acontece, sendo-nos então apresentado um José do Telhado ainda jovem, que, com catorze anos de idade, parte para casa de um tio francês, casado com uma tia irmã de sua mãe, para aprender o ofício de castrador (Andrade, 2014; Castelo Branco, n.d.-b) e assim ficar mais próximo da sua prima, filha do seu tio, por quem estava enamorado e que lhe correspondia na mesma medida (Castelo Branco, n.d.-b). Ali permanece durante cinco anos, tempos que, de acordo com o escritor, José do Telhado recorda com saudade, vivendo o ideal de amor romântico, em contemplação da sua amada, tendo como enquadramento a natureza (Castelo Branco, n.d.-b; Santos, 2009), sem que se manifestasse qualquer instinto de salteador (Castelo Branco, n.d.-b).
Contudo, conta-nos então o escritor, aos dezanove anos, movido não só pelo amor, mas também pela honra, em virtude de ter já consumado o seu amor com a prima, pede ao seu tio que lhe conceda a mão da sua prima em casamento, que, por sua vez, não só lha recusa, como ainda o expulsa de casa (Castelo Branco, n.d.-b).
Assim, Camilo Castelo Branco destaca de seguida a viagem de José do Telhado para Lisboa, onde se alista no Regimento de Lanceiros da Rainha, iniciando aí uma bem-sucedida carreira militar, sendo ainda enaltecida pelo escritor a “esbelta figura” de José do Telhado, que, qual herói romântico, nos é apresentado como o “encanto dos oficiais”, o “mais airoso na sela” e o melhor e o mais “garboso” a “menear” a lança (Andrade, 2014; Castelo Branco, n.d.-b).
Após receber notícia do desejado consentimento para o enlace com sua prima Ana Lentine, José do Telhado regressa a casa, vivendo numa espécie de idílio nos primeiros anos de vida conjugal, sendo querido dos vizinhos, em virtude de aos ricos nada pedir e aos pobres ajudar com o que lhe sobrava de sua renda e do seu trabalho de castrador (Castelo Branco, n.d.-b). Contudo, o escritor salienta a apreensão da sua esposa, que, perante tal generosidade, temia a forma como eram geridos os recursos domésticos sem pensar no futuro (Andrade, 2014; Castelo Branco, n.d.-b).
Na revolução popular de 1846, é aclamado líder da população, sem que, de acordo com Camilo Castelo Branco, pudesse recusar tal honra, comprando então cavalo e fardando-se a expensas suas, e continuando a repartir o seu dinheiro com os camaradas mais carecidos, com pouco ficando para ajudar ao sustento da sua casa (Castelo Branco, n.d.-b). Nesta aventura, onde se destaca novamente como um verdadeiro herói militar, salvando a vida ao Visconde de Sá da Bandeira, acaba condecorado pelo mesmo, em pleno campo de batalha, pelas proezas cometidas (Castelo Branco, n.d.-b).
Regressa então novamente a casa, contudo, desta feita, fruto da sua excessiva generosidade, encontra a mesma numa situação delicada, enredada em dívidas, sendo perseguido por credores e adversários políticos, e não conseguindo garantir o sustento da sua esposa e dos seus filhos (Castelo Branco, n.d.-b). Assim, perante as dificuldades encontradas e não conseguindo encontrar um emprego que lhe permita garantir o sustento da sua família, vendo-se, citado por Camilo Castelo Branco, “(…) quase pobre e perseguido pelos credores e pelas autoridades (…)” (Castelo Branco, n.d.-b), acaba por se juntar ao séquito do seu irmão, que, de acordo com o escritor, mantinha as tradições da família, acabando por ser nomeado pelo grupo como chefe do bando (Castelo Branco, n.d.-b).
Sempre com a justificação de garantir o sustento da sua família e contrariado por se ver obrigado a viver à margem da lei, José do Telhado tem então, de acordo com Camilo Castelo Branco, a sua estreia nas atividades criminosas em 12 de dezembro de 1849, num ataque de surpresa a uma casa rica na freguesia de Macieira (Castelo Branco, n.d.-b), não mais abandonando esse modo de vida até à sua prisão em 1859, quando tentava fugir para o Brasil.
Contudo, importa também salientar a referência que o escritor faz à liderança forte do salteador no bando que chefiava, onde impunha um código moral rigoroso aos membros do seu grupo, fomentando e desenvolvendo uma espécie de banditismo social (Andrade, 2014), em que, para além garantir a justa repartição do produto dos assaltos pelos membros do bando, procura também partilhar parte desse produto pelos mais desfavorecidos (Castelo Branco, n.d.-b).
José do Telhado em discurso direto: análise da correspondência enviada a Camilo Castelo Branco do degredo em Malange, na África Ocidental Portuguesa, em 14 de julho de 1871
No final da introdução do presente trabalho, estabelecemos como um dos objetivos do mesmo a compreensão, dentro do possível e considerando os poucos documentos a que tivemos acesso, de como o próprio José do Telhado viu os atos por si praticados, assim como o respetivo castigo que lhe foi aplicado. Assim, embora esta tarefa, como acabamos de referir, não se afigure fácil, iremos tentar a sua concretização através da análise da correspondência enviada por José do Telhado para Camilo Castelo Branco, com data de 14 de julho de 1871, que se encontra pulicada no Blog PetromaX (Guy, 2011), onde para além das notícias sobre a sua situação, o salteador faz uma breve reflexão acerca dos atos que praticou e do castigo recebido pelos mesmos, confirmando, pela forma como se expressa, possuir uma cultura acima da média, conforme já havia sido referido no arquivo dos Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto (Tribunal da Relação do Porto, n.d.-b).
Na correspondência em apreço, para além de dar conta ao seu amigo Camilo Castelo Branco da nova vida em Malange, na África Ocidental Portuguesa, onde se encontra estabelecido, vivendo do comércio de cera, bebidas e marfim, tendo, entretanto, constituído nova família, José Teixeira da Silva, mais conhecido como José do Telhado, fala também da família que deixou para trás, da sua esposa falecida e dos filhos que ficaram e que o acusam de se ter amancebado com uma nativa local, sugerindo-lhe que vá ao encontro deles no Brasil, o que, contudo, não faz, por não querer ficar novamente debaixo da alçada da lei, que o condenou ao degredo naquelas terras, tornando-se novamente alvo de lutas e de perseguições por parte da justiça, sendo este o ponto de partida para uma breve reflexão do salteador sobre os atos praticados na sua terra natal, assim como do castigo recebido pelos mesmos (Guy, 2011).
Assim, José do Telhado refere na correspondência em apreço a sua aceitação da justeza pela pena recebida, não se envaidecendo dos atos por si cometidos/praticados e da violência utilizada na concretização dos mesmos, sendo nesse sentido que afirma que, embora não se sinta regenerado pela pena que lhe foi aplicada, o cumprimento da mesma conduziu-o a uma meditação sobre os seus atos e ao reconhecimento da gravidade dos mesmos (Guy, 2011).
Neste sentido, considerando esta breve reflexão de José do Telhado, é nosso entendimento que, apesar de nem sempre ser fácil a distinção entre o homem real e a personagem heroica popular do salteador, o mesmo revelou uma compreensão da gravidade dos atos por si praticados, reconhecendo que, por vezes, os mesmos poderão ter ido além do imaginário popular, onde ficou retratado como uma espécie de Robin dos Bosques, tendo efeitos mais lesivos do que benéficos, o que, em certa medida, vai contra o estatuto de herói que a cultura popular lhe atribuiu.
Conclusões
Partimos para o presente ensaio tendo como objetivos, por um lado, analisar como foram transpostos os atos praticados por José do Telhado na narrativa feita por Camilo Castelo Branco nas suas Memórias do Cárcere, que confere ao salteador o estatuto de herói popular que perdura na memória coletiva, e, por outro, tentar compreender, dentro do possível e considerando os poucos documentos a que tivemos acesso, como o próprio José do Telhado viu os atos por si cometidos, assim como o respetivo castigo que lhe foi aplicado.
Nesse sentido, partimos da caraterização histórica de José do Telhado, de forma a conseguirmos apurar as razões que o levaram a escolher uma vida de salteador, à margem da lei. Contudo, nem sempre se revelou fácil fazer a distinção entre o homem real e a personagem heroica popular do salteador José do Telhado, em virtude de na sua biografia se cruzarem, por um lado, os dados históricos comprovados e, por outro, a lenda. No entanto, não obstante as dificuldades em apreço, os dados recolhidos permitiram-nos não só confirmar a existência factual de José do Telhado, mas também a sua fama pelas ações de banditismo que levou a cabo, enquanto chefe de quadrilha, nas terras de Entre Douro e Minho, onde, apesar da violência das atividades criminosas que desenvolveu, se notabilizou no imaginário popular, como uma espécie de Robin dos Bosques português.
E foi este herói, que a história nos legou e mostrou, que, apesar de construído literariamente por Camilo Castelo Branco, de forma a conferir-lhe uma maior nobreza e generosidade, fomos encontrar no capítulo que lhe é inteiramente dedicado nas Memórias do Cárcere, onde a ficção nos surge a confirmar a vida real, apresentando-nos um José do Telhado, herói militar, que tenta contrariar o seu passado familiar de atividades à margem da lei, mas que, por razões que lhe são superiores, se vê envolvido numa vida de crime, como único meio para garantir o sustento da sua família, acabando preso e degredado para a África Ocidental Portuguesa, onde, pelo que conseguimos apurar no presente trabalho, sabemos que finalmente conseguirá encontrar paz, abrindo caminho para uma introspeção acerca dos seus atos e da pena que lhe foi aplicada.
O resultado dessa introspeção acaba refletido, ainda que brevemente, na correspondência que envia a Camilo Castelo Branco, a partir de Malange, na África Ocidental Portuguesa, onde revela uma compreensão da gravidade dos atos por si praticados, reconhecendo que, por vezes, os mesmos poderão ter ido além do imaginário popular, que o retrata como uma espécie de Robin dos Bosques, tendo efeitos mais lesivos do que benéficos, o que, em certa medida, vai contra o estatuto de herói que a cultura popular lhe atribuiu.
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