Übermensch
O chamado übermensch nietzschiano, revelado na sua obra “Assim falou Zaratustra”, aparece como o último homem, associado a conceitos como de “vontade de potência” ou “eterno retorno”, onde tal figura seria aquela contradição máxima do objeto humano estudado pelo filósofo. Tal perspectiva se daria mesmo numa projeção, onde esse se tornaria um além.
Percebe-se que esse além, volta pra si, na medida em que converte essa força criadora, fazendo uma espécie de curvatura, onde as forças de desagregação acabam contribuindo para a criação de um novo plano. O sujeito assujeitado em sua condição atual, se desvincularia em forma de resistência, criando uma realidade alternativa que caminharia em sintonia com a anterior ou anteriores, fazendo com que existe uma certa convergência. Mas essa tal convergência não seria plena, no sentido de algo harmônico, mas falamos de conflito.
O máximo de conflitos ou o ápice desse escalada potencial, cria uma ruptura, por nãos e dar conta de que ao mesmo tempo que acreditava crescer em potência, também decrescia por conta da falsa potência que acompanha o processo. Como se algo fosse caminhando e uma sombra acompanhasse, até o momento em que se confundem e o lado sombrio assume, fazendo com que os parâmetros de realidade se percam e criando o campo necessário para provocar a mudança. Esse além seria essa fuga de si sem perder-se por completo, a ponto de poder se tornar outro em si. Idas e vindas em si mesmo, numa espiral que vai e volta, por conter diversos fluxos que se interconectam.
Esse seria o limiar da loucura, no sentindo de perder-se, onde diante do desdobramento, deve-se escolher um caminho e não se perder no vácuo criado pela dobra. Por isso Nietzsche pede para que tomemos cuidado ao olhar para o abismo. A trajetória marca esse momento de ponto de ignição, onde não pode mais ser como era, já que se tornou outra coisa que não aquela mesma que acreditava ser, ainda que tenha se mantido enquanto ponto de criação ou ponto de vista sob as perspectivas criadoras. Quando Apolo e Dionísio se confundem, tornam-se Zeus, já que a grande ruptura, seria esse relâmpago da criação que atravessaria a todos, não ficando restrito apenas ao indivíduo que sofreu o processo.
O indivíduo se vê como divíduo, e ao se unir novamente, abrange a todos, nessa mescla que faz com que o sujeito se torne realmente ativo, junto com a sociedade a qual faz parte. Agora é um ser político completo, agregando numa real democracia, onde seu fazer é agregado, a pólis tomando corpo e repercutindo com efeitos infindáveis. São fins que se dão de forma diversificada, criando esse eco que não os deixa perecer, numa vibração que vai se ouvir pela eternidade, até que suas ondas venham novamente se insinuar por essa porosidade espacial, no eterno retorno criado por esses buracos negros.
Pensemos o übermensch como essa saturação necessária, que renova o embate entre forças e devolve as cargas aos devidos planos, numa troca constante, um fluxo. Esse último homem não é necessariamente o que resta para sobreviver no mundo, mas o resto daquilo que foi concebido em uma existência. Não é lixo, pois se recicla, renova. Problematiza a realidade e inspira por ser esse elemento combativo, que ecoa nos outros por ter percebido que os outros repercutem nele também. Também é eco a partir de um processo de reverberação. A diversidade acústica cria essa confusão necessária, já que é desse caos que emergirá essa força que tenta se impor, daí a vontade de potência, mas que sempre será tolida, já que seu destino é acumular e nunca se satisfazer.
Assim, temos o orgasmo como ápice, em que o derramamento desse fluxo alivia apenas naquele instante, criando essa catarse do gozo da criação, mas que precisa reiteradamente acumular novas energias libidinais, pulsões de vida e morte, numa dinâmica de dialética, uma termodinâmica. Esse artista da criação aparece como o grande demiurgo, que vai dar sentido pela falta de sentido.