Multiplicidade Temporal
A multiplicidade temporal se daria a partir de uma perspectiva de relatividade da Física. Tendo em vista a diversidade existencial e que cada ser ocuparia um lugar distinto, sendo medido a partir de uma linha do tempo própria, e que cada coisa, ou seja, qualquer habitante de uma realidade, possuiria esse desenvolvimento linear, partindo do seu ponto de existência. Imaginar que cada ser, pois assim que chamo cada um desses que habitam um espaço, é visto a partir de perspectivas e formado através das mesmas, tendo em vista que um corpo seria percebido como complexo de relações, tomando forma não por ser um organismo no sentido mais lato, de algo fechado, e sim por possibilitar aberturas, como se a todo momento perdesse e ganhasse estruturas, num duelo constante entre vida e morte, ou adições e subtrações, num quebra-cabeças que não permite o encaixe perfeito, por se alimentar justamente do movimento.
Pensando nas grandezas como forças primárias e no processo de aceleração, acrescentando a velocidade, teríamos o movimento, que seria o que denominamos vida, onde as relações básicas de química, em diálogo com as leis físicas, provocariam os estágios de reação que resultariam na transformação de um ser, ainda que não estejamos restritos a Biologia em seu sentido mais popular, já que mesmo se nos depararmos com minerais, não poderíamos negar sua presença nas estruturas dos seres biológicos, já que existe uma composição básica, que poderia ser até alarmada sob um reducionismo mítico, com a frase “do pó vieste e ao pó voltarás”. Cada ser, biológico ou natural, estando presente na dimensão espacial, é produtor e produto do Tempo, sendo visto e encarado como quarta dimensão.
Imaginando que um fragmento de rocha possa gerar linhas de tempo, já que sua existência se dá a partir de um ponto, prolongando-se em uma linha que estabelece por estar relacionado com outros seres, onde escorrem em um plano que os lança em um espaço, fazendo com se projetem no tempo, criando com isso ramificações sombrias, ou uma série de inter-relações que façam com que, cada vez mais, os processos temporais se multipliquem, ainda que sob efeito reflexivo, já que a projeção sobre a projeção, geraria mais projeção, num infinito que se dá na contenção de uma realidade finita. As múltiplas temporalidades são a possibilidade de ir além do mesmo e sem esgotar as possibilidades relacionais dentro da contenção espaço-temporal.
Imaginando que todas essas temporalidades estejam em um “diálogo” contínuo, podemos imaginar que mesmo o efeito de dobra, pensando em prismas, no sentido das próprias projeções criarem linhas de escape ou mesmo de enclausuramento. Quando ocorrem entrecruzamentos temporais, podemos sofrer efeitos como de alteração de nossa linha do tempo, ao contrário do que se imagina, não teríamos apenas uma linha do tempo e todo esse emaranhado espaço-temporal faria com que nossas linhas, em relação com as dos demais seres, mudasse constantemente de sentido. Imaginemos uma montanha-russa em que o carrinho saísse dos trilhos e tomasse caminhos inimagináveis, já que, apesar da apreensão diante do próximo looping, onde o frio na barriga cresce diante da queda, podemos nos deparar com a suavidade de uma calmaria, como a que ocorre quando o carrinho está acabando ou iniciando o percurso. Ao mesmo tempo, as linhas entrecruzando-se podem nos tirar da calmaria e nos projetar diante de um looping que faça com percamos o sentido da realidade e o vazio existencial possa tomar conta, diante do inesperado que afronta.
O déjà-vu seria um encontro entre linhas paralelas, criando aquele estado de já vivido, mas o que torna a relação ainda mais complexa é o efeito reverso, onde também alteramos a todo momento de nossa existência a ruptura de outras linhas, favorecendo esse fluxo que gera esse tempo maior. Nosso livre arbítrio nada mais é do que arbitrariedade que não podemos impedir, já que somos perpassados por estes estágios e perpassamos, assim como transpassamos e somos trespassados. Passado, presente e futuro, são esse fluxo do existir e que tem a necessidade desse deixar de ser. A perda de um ente querido, poderia ser vista como uma ruptura desse fluxo de tempo, causando o chamado horizonte de eventos, ou o limite, talvez melhor dizendo, a fronteira do espaço-tempo, onde a perspectiva se encerra e é obrigada a seguir por outras linhas, sulcando a realidade e criando novas rupturas inimagináveis. Já uma singularidade nua se daria ao perceber esse fenômeno em outro existente, onde a ruptura é vista e sentida, ainda que não cause aquele evento de dobra imediato que uma ruptura subjetivista causaria. A ruptura favorece a curvatura de linhas, criando uma maior aproximação entre extremidades, numa dobra que pode trazer para si o que para o outro causa afastamento, numa espécie de cabo de guerra, onde o tempo acompanha esse espaço em origami.