Sobre o Traço
Nas palavras de Jacques Derrida, “O traço é a desaparição de si, da sua própria presença, é constituído pela ameaça ou a angústia da sua desaparição irremediável, da desaparição da sua desaparição."
Pensar o traço é sair do imaginário e cari em um passado presente, já que a marca fica como uma pegada que espera o palentólogo. Uma sombra fixada em uma perspectiva cuneiforme. A impressão mais viva sulcada em uma lauda, variando conforme a força do escriba, além da ponta do objeto destinado a marcar.
O grafite faz das suas, mas uma lâmina poderia também abrir feridas, talvez profundas demais para que o papel as sustente, mas a pele as recebe como escarificações. O relevo invertido da cicatriz na pele é o mesmo efeito da fundura que racha a superfície, ou melhor, a torna venosa. Criamos uma digital e podemos esfregar o grafite mais uma vez, ou mesmo um giz de cera, para podermos ler as funduras na tela borrada.
Temos um corpo todo vascularizado, onde a escrita é disforme, já que altera as formas habituais e depois se retira, mas não por completo, já que feito uma tatuagem, grafou-se no espaço dado e agora faz do plano o seu habitat. O início da composição do braile, onde os dedos mais sensíveis podem percorrer as fraturas, apalpando cada curva desse relevo discreto.
As pistas forenses que darão a ideia do já ocorrido em uma perspectiva da evidência de agora. Ágora do tato e descortinar da visão periférica rumo ao fundo dessa planificação rasa. Estética que das formas faz emergir esse estar-aí. Campo onde se concentra para criar um sítio arqueológico da grafia.
O traço é tudo isso e muito mais. Apesar de apresentar tantas novidades, não é nada inédito, não passando de uma espécie de simulacro, onde o real não estará nem nele e nem na escrita do grafite que foi apagada, mas nesse nada por ser indefinível, que por um simples declive grita através da folha branca, saindo dos fragmentos de pigmentação, criado a partir de destruições e deformações. Eis o traço, em sua excelência.