Das bananas simbólicas às pitangas reais: literatura brasileira e nacionalismo

No texto Notícia da atual literatura brasileira/Instinto de nacionalidade, de Machado de Assis, o autor enfatiza o pendor da literatura brasileira em levantar observações acerca da vida no Brasil e os traços diferenciadores dessa vida e da natureza latino-americana.

Para Machado de Assis é o conceito estético que dará nuances tamanhas para que se designe e nomeie uma literatura genuína no Brasil, a conceder-se o encargo de escritor como um “homem de seu tempo e do seu país.” Se os traços da fisionomia literária para Antônio Cândido, em Formação da literatura brasileira, dependem da construção nacional, advinda da Independência política do Brasil; para Machado de Assis dependem bem mais dos aspectos mitigados do cotidiano e do tempo presentes a funcionar como reflexão filosófica e social.

Machado de Assis trata do romance brasileiro como uma reprodução dos viveres de certa ordem da vida brasileira, faltando-lhe ânimo à critica de valores estabelecidos. É como se, de maneira geral, em nossa literatura primeira colocassem-se diante dos fatos a certeza exuberante de um deleite idealizado e supervalorizado, suprimindo-se as movimentações distintas desses mesmos fatos, que desencadeariam fomento bastante para reflexões contumazes de fenômenos específicos da “nova terra”.

Afrânio Coutinho, em Conceito de Literatura brasileira, reporta-se à autonomia da literatura brasileira como um descobrimento de formas e de artifícios literários que se adaptavam a uma visão estética peculiar. O sentimento íntimo, ou a tendência nacionalizante? Qual seria o marco inicial de diferenciação da literatura brasileira?

Sendo o exotismo das paragens brasileiras tão somente uma cristalização de certo porte motriz de uma figuração, por que gerar inquisidoramente uma idealização senão para mascaramento de construtos socioculturais? Explico-me: o pitoresco nasce prioritariamente de um conhecimento parcial dos modos como ações se desencadeiam em um dado cenário. Parece que, até mesmo no século XXI, o pitoresco do e no Brasil é reforçado pela maioria da sua população gentílica. Mais uma vez estamos diante de um olhar redutor que mais abranda do que se faz propulsor de características basilares da estrutura real do e no Brasil.

Se na forma, a literatura brasileira fora ancilar à europeia, no conteúdo houve a produção de temas comuns ao Brasil, entretanto esse conteúdo sempre fora marcado pela imposição do elemento “maravilhoso” em face de constituintes de uma percepção exótica. O próprio brasileiro, geralmente, afixa-se a um caráter que não lhe é comum na vida real, pelo contrário, emula-se em símbolos nacionais idealizados. Será mesmo que o Brasil em seu território tão vasto, constituído por socioculturabilidades tão singulares e distintas deve ser simplesmente referenciado como a terra do futebol, das mulatas seminuas, do jeitinho trambiqueiro de levar a vida, dos trejeitos caricaturais? Ao mesmo tempo, em que medida essa imagética (pautada em elementos simbólicos) de caracterizações do Brasil mais conhecidas e mais difundidas revela certa verdade do povo brasileiro?

E lá vai Carmem Miranda fatigada dos seus remelexos e dos seus balangandãs, figura construída como pretexto aglutinante e aglutinador do Brasil.

Em qual Brasil você encaixa-se? No das bananas simbólicas (planta asiática), ou no das pitangas reais (planta endêmica do Brasil)?