Conceito Científico e Conceito Cotidiano
Pensando na lógica vygotskyana, onde a produção conceitual se faz dentro de uma dialética relacional, articulada a uma verticalidade que faz com que um seja dependente do outro em forma de sobreposições, chegamos a um determinado esquema acerca dessa dinâmica.
Imaginar a forma como os conceitos científicos são elencados, formando uma abóbada celeste, em um direcionamento descendente, enquanto os conceitos cotidianos seguem uma rotina inversa, de forma ascendente e partindo de uma base telúrica. Assim temos uma verticalização dessa parcela teórica, onde a relação se dá num plano de hemisférios.
Mas a complexidade se dá, na forma como ocorre a relação entre os dois campos conceituais, já que o científico busca ir se desmoronando até chegar nos níveis abaixo de seu condicionamento mais abstrato, bem como a elevação dos cotidianos, saindo de uma associação objetivista e levantando os pés, tornando-se menos palpável.
Como um dispositivo de desfragmentação que ajuda a otimizar o desempenho de um HD, a dualidade conceitual se rearranja ou vive se arrumando ou nunca se dá em um plano de arrumação, já que o fluxo em desencaixe faz com que ocorra esse dinamismo que é condição do processo interacional. Um movimento constante onde cada um dos hemisférios cede para que o outro possa se introduzir, numa troca por compensação.
Partindo desse funcionamento, temos um esquema muito próximo daquele que vemos em um convencional jogo de Tetris, onde blocos vão caindo e ao mesmo tempo sendo empurrados por uma força subterrânea, que faz com que precisemos ir casando blocos com similaridades, para que novos espaços sejam criados, ou melhor, possamos passar para outras relações, aumentando o nível de aprendizado e desenvolvimento, criando assim uma complexa rede que ao longo do tempo vai procurando no espaço cognitivo formar disposições para que o movimento continue acontecendo ao longo da existência.
Assim, podemos observar nesse movimento dialético de Vygotsky, a forma como se dá um processo histórico no campo cognitivo restrito aos conceitos científico e cotidiano, na necessidade de articulação e na importância do campo social, já que tais atividades se dão a partir de uma mediação, que possibilitará essa introjeção de extremos, percebendo que não são modelos estanques, já que o pensador buscou criar uma teoria volátil e não fossilizada. Mais do que se preocupara com posicionamentos, estamos diante de uma análise onde devemos buscar rastros de movimento, como sombras ou pegadas, no sentido de trajetória, para ter possibilidades de análise.
Bibliografia: VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. 4. ed. tradução: Jefferson Luiz Camargo; revisão técnica: José Cipolla Nelo. São Paulo: Martins Fontes, 2008. (Psicologia e pedagogia)